Durante esta semana, decorreu na cidade de Riade o Six Kings Slam, o torneio mais rico da história do ténis.

Na enésima tentativa da Arábia Saudita demonstrar que está mais aberta ao Ocidente, o desporto tem sido utilizado várias vezes como uma ferramenta de promoção social do país e de melhoria gradual da visão ocidental por um país que ainda tem um longo caminho a percorrer no que diz respeito aos direitos humanos e à aceitação da diferença.

O prémio monetário era bastante apetecível. Aproximadamente cada jogador recebeu 1.400 milhão de euros pela sua participação e o vencedor do torneio receberia uma compensação financeira de mais de 5.500 milhões de euros.

O elenco desta edição inaugural foi um autêntico luxo, composto pelos multi-campeões Novak Djokovic e Rafael Nadal (a jogar um dos últimos torneios da sua brilhante carreira), o atual número um mundial Jannik Sinner, o talentosíssimo espanhol Carlos Alcaraz, Daniil Medvedev e Holger Rune.

Uma vez realizado o sorteio, já se sabia de antemão que Djokovic e Nadal estavam automaticamente qualificados para as meias-finais do torneio.

Os jogos dos quartos-de-final iriam opor Sinner a Medvedev e Alcaraz a Rune, e ambos seriam resolvidos de forma bastante confortável pelos favoritos Sinner e Alcaraz. No primeiro jogo dos quartos-de-final, Sinner literalmente “varreu” da pista o sempre competitivo e difícil Medvedev, assegurando uma vitória com os parciais de 6-0 (!) e 6-3 em menos de uma hora e meia de jogo.

Em relação a Alcaraz, o tenista espanhol também ultrapassou com relativa facilidade o dinamarquês Rune com os parciais de 6-4 e 6-2, jogo esse também resolvido ao cabo de menos de uma hora e meia de jogo.

Confirmado o seu favoritismo, Sinner iria ter que defrontar Djokovic, numa reedição da final do Masters de Xangai, ganha uns dias antes pelo tenista italiano por dois sets a zero, mas onde o jogo foi pautado por um grande equilíbrio e decidiu-se em pequenos detalhes.

Nesta meia-final do Six Kings Slam, o jogo foi de altíssima qualidade. Consistência impressionante de ambos os tenistas, Djokovic a conseguir aguentar o alto ritmo imposto por Sinner e o jogo só se decidiu num terceiro set. Sinner acabou por levar a melhor num terceiro set extremamente disputado com quebras de serviço sucessivas por parte de ambos os jogadores e que foi ganho pelo tenista italiano com o parcial de 6-4 que teve a duração de mais de uma hora (!).

Sinner esperava assim na final pelo vencedor do encontro entre Nadal e Alcaraz. Um duelo ibérico que foi ganho de forma inesperadamente tranquila (ou provavelmente não seja assim tanto dada a falta de ritmo competitivo de Nadal e das suas evidentes limitações físicas) por Alcaraz pelos parciais de duplo 6-3 em menos de hora e meia.

No jogo de atribuição do terceiro e quarto lugares, assistimos ao 61º (!) e último encontro de uma das maiores rivalidades da história do ténis e do desporto mundial: Nadal – Djokovic.

O primeiro set foi um autêntico passeio para o tenista sérvio, ganho facilmente por 6-2. Nesse set, foi evidente que Nadal já não consegue jogar ao ritmo e ao nível necessários para poder competir de igual para igual com os melhores jogadores do mundo, daí que eu considere que foi bastante acertada a sua decisão de terminar a carreira, por maior fã que eu possa ser do tenista maiorquino.

No segundo set, houve uma ligeira subida de rendimento de Rafa, que com o seu orgulho de grande campeão, lutou arduamente pelos pontos, conseguiu começar a tomar mais a iniciativa do ponto com a sua extraordinária pancada de direita (uma das melhores de sempre do ténis) e colocou Djokovic em dificuldades.

Foi quebrado de entrada, conseguiu recuperar desse break logo seguida e dispôs de três oportunidades para se colocar com vantagem de 4-2 no marcador.

Não conseguiu aproveitar nenhuma dessas oportunidades, Djokovic quebrou o serviço de Nadal no oitavo jogo do set e serviu para fechar o encontro com 5-4 no marcador. O tenista sérvio terá relaxado um pouco e isso é sempre fatal contra um tenista com uma alma e um espírito combativo tão grande, como é o caso de Nadal.

Mesmo sendo um torneio de exibição, não entregou nenhum ponto e inclusive conseguiu salvar um match point.

O set acabou por ser decidido num tie break. Não houve mini breaks até ao nono ponto do desempate, Nadal ainda conseguiu igualar a 5-5, mas cedeu o ponto no seu serviço quando tentava defender mais um match point.

Terminava assim o último capítulo de uma das histórias mais bonitas mas igualmente intensas do ténis mundial. Um último duelo entre Nadal e Djokovic, nem sempre bem jogado, mas que todos os seus fãs irão recordar para todo o sempre, porque a cortina fechou para sempre e só podemos estar gratos por tanto que estes campeões nos deram ao longo de quase duas décadas de encontros épicos.

No fim de jogo e depois de um abraço à rede muito fraterno, destaco o discurso de Djokovic para Nadal na cerimónia de atribuição dos troféus. Um discurso muito emotivo e que certamente fez soltar muitas lágrimas aos já saudosistas (tal como eu) desta rivalidade tão singular na história do desporto. Djokovic chegou a pedir de voz visivelmente embargada que Nadal não deixasse o ténis e que ficasse mais um pouco.

Foi um momento muito impactante para os presentes e para quem o ouviu.

Depois deste encontro bastante simbólico, tivemos logo de seguida a final entre Sinner e Alcaraz, que se haviam defrontado recentemente num jogo de contornos épicos na final do ATP 500 de Pequim, ganha pelo tenista espanhol ao fim de mais de três horas (!) num encontro disputado em três sets.

Este foi mais um capítulo da nova rivalidade do ténis mundial. Se as lesões não surgirem, estamos a falar dos dois tenistas que vão dominar por completo a modalidade nos próximos anos.

Talvez devido à forma como resolveu com facilidade os seus restantes jogos, Alcaraz não entraria com os seus níveis de concentração no máximo, e isso poderia ser fatal contra um tenista tão consistente como Sinner.

Alcaraz sabe que tem mais recursos tenísticos do que Sinner, mas talvez por isso, não tome a melhor decisão nas longas e exigentes trocas de bola.

É suficiente para ganhar a quase todos os tenistas do circuito? Sim, é, talvez à exceção de Djokovic e claro está, de Sinner.

O peso da bola de Sinner é monstruoso, o ritmo em que ele joga chega a ser alucinante e exige-te estar no máximo das tuas capacidades para que o consigas derrotar.

O primeiro set foi de uma altíssima qualidade. Alcaraz conseguiu recuperar o break de atraso e o set só foi decidido num tie break no qual Alcaraz ganhou num parcial ajustadíssimo de 7-5 no desempate.

O italiano não dá uma bola por perdida, joga com muita profundidade de bola e obriga Alcaraz a jogar a uma intensidade altíssima.

Alcaraz era perfeitamente consciente de que não podia baixar o nível e tinha que continuar a carregar no acelerador, mas muitas vezes perde-se no leque de soluções de que dispõe e quando isso acontece, o seu jogo perde fluidez e eficiência.

No segundo set, Sinner conseguiu quebrar logo no terceiro jogo, Alcaraz conseguiu salvar quatro break points a 3-1 com pontos de uma qualidade absurda e só ao alcance do prodígio espanhol.

Mas contra Sinner, não basta ser o mais vistoso e aquele que faz os pontos mais espectaculares. Alcaraz tinha ganho os últimos três encontros entre ambos, mas nunca de uma forma categórica.

O seu serviço necessita de melhorar bastante para conseguir impor o seu ténis perante o tenista italiano. O seu segundo serviço é bastante permeável às respostas muito profundas e potentes de Sinner, principalmente nestas superfícies mais rápidas, onde Sinner é de longe o melhor tenista do mundo da atualidade e os últimos resultados assim o comprovam.

O segundo set foi ganho pelo italiano com o parcial de 6-3 e a final deste torneio milionário iria ser decidida num terceiro set.

No terceiro set, ambos os tenistas foram assegurando os seus jogos de serviço com relativa facilidade, até que nos últimos dois jogos, Alcaraz (apesar de dotado de um físico impressionante) começou a cometer muitos erros e a ceder fisicamente.

Com um maior vigor físico e clarividência de jogo, Sinner conseguiu quebrar o serviço de Alcaraz e serviu para fechar o jogo a 5-3, não dando qualquer hipótese ao tenista espanhol, num jogo de serviço absolutamente perfeito, e assegurando uma vitória que já perseguia desde fins do ano passado.

Brevemente vem aí o Masters de Paris, as ATP Finals e as Davis Cup Finals e provavelmente este não terá sido o último encontro entre estes dois tenistas talentosíssimos e que provam que podemos estar nostálgicos mas igualmente esperançosos de que o futuro do ténis está assegurado, enquanto tivermos estes dois gladiadores a defrontarem-se e a puxarem os seus limites constantemente.

Os dados estão lançados nesta nova rivalidade do ténis mundial.