Há cerca de três mil anos nascia na Grécia Antiga aquela que se viria a tornar, nos tempos modernos, uma das maiores competições desportivas do mundo. Realizados em honra de Zeus, os primeiros Jogos Olímpicos de que há registo foram disputados no ano de 776 a.C., em Olímpia, e contaram com 280 participantes. Agora, vários séculos, cidades e atletas depois, é a vez de Tóquio receber as Olimpíadas.
A Grécia Antiga parava para assistir aos Jogos Olímpicos
Os primeiros registos da realização dos Jogos Olímpicos da Antiguidade remontam a 776 a.C., ano em que um atleta chamado Coroebus of Elis venceu a única prova que existia na altura - o “Estádio”, uma corrida de 192 metros - e se tornou o primeiro campeão olímpico.
A cada quatro anos, cerca de 50 mil pessoas viajavam de todas as regiões da Grécia até Olímpia, entre agosto e setembro, para assistir à competição em honra de Zeus, o maior Deus da mitologia grega.
Nessa altura não existiam ainda as medalhas de outro, prata e bronze, sistema que só viria a ser adotado na era moderna, em 1908. Os atletas que se sagravam campeões eram premiados, assim, com uma coroa de oliveira, conhecida como "kotinos", símbolo de vitória na Grécia Antiga, e vistos como heróis “tocados pelos deuses”.
O número de provas e a duração da competição foram aumentando com o tempo, passando os Jogos Olímpicos da Antiguidade a realizar-se em até cinco dias, num total de 14 modalidades.
As Olimpíadas atingiram o seu apogeu entre os séculos VI e V a.C., tendo perdido, gradualmente, destaque com a subida dos romanos ao poder na Grécia.
A chegada dos romanos e o fim da tradição secular
Com a conquista da Grécia pelo Império Romano em meados do século II a.C., os Jogos mantiveram-se, mas o seu declínio estava já anunciado. Os gregos dedicavam-se ao desporto como forma de homenagem aos seus deuses, algo que os romanos não viam com bons olhos. Assim, no ano de 393 d.C., o imperador romano Teodósio I ordenou a abolição de todos os festivais “pagãos”, pondo fim à tradição secular. Os Jogos Olímpicos não voltariam a realizar-se até ao século XIX.
O renascimento pelas mãos de um barão francês
Foi pelas mãos do barão francês Pierre de Coubertin que os Jogos Olímpicos viriam a renascer, em 1896, na era moderna. Dedicado a promover a educação física, uma viagem a Olímpia despertou-lhe a ideia de fazer reviver a competição grega.
Em novembro de 1892, numa reunião da União das Sociedades Francesas de Desportos Atléticos em Paris, Coubertin propôs a ideia de reviver as Olimpíadas como uma competição atlética internacional realizada a cada quatro anos. Dois anos depois, obteve a aprovação necessária para fundar o Comité Olímpico Internacional (COI), que se tornaria o órgão dirigente dos Jogos Olímpicos modernos.
O renascimento dos Jogos Olímpicos aconteceria em 1896, em Atenas, numa homenagem à sua origem. Participaram 13 países com cerca de 280 atletas, em 42 provas de 10 modalidades diferentes. No público, a assistir, estavam 60 mil espectadores.
Desde então, as Olimpíadas da era moderna realizam-se com a mesma periodicidade – de quatro em quatro anos -, apenas interrompida pelas duas Grandes Guerras, e em diversas cidades. A sua realização está a cargo do COI, cujo símbolo criado por Pierre de Coubertin - os cinco anéis olímpicos - representa os cinco continentes.
Competições paralelas: Jogos de Inverno, Jogos da Juventude e os Jogos Paralímpicos
Com a introdução de modalidades que envolvem neve e gelo, impossíveis de se realizarem durante os Jogos Olímpicos que decorrem no verão, foi necessário criar os Jogos Olímpicos de Inverno: uma semana de desportos de inverno que se realizou, pela primeira vez, em 1924, em Chamonix, França.
Por determinação do Comité Olímpico Internacional, os Jogos de Inverno realizar-se-iam de quatro em quatro anos, no mesmo ano em que se disputavam os Jogos de Verão. No entanto, por questões de organização, os ciclos da realização foram alternados, passando os Jogos de Inverno a realizaram-se no terceiro ano de cada Olimpíada.
O surgimento do que hoje em dia são conhecidos como os Jogos Paralímpicos - o maior evento desportivo mundial para pessoas com deficiência - aconteceria cerca de 20 anos depois, pelas mãos do neurologista alemão Ludwig Guttmann. Preocupado em promover a reabilitação de soldados no seguimento da II Guerra, decidiu organizar um evento desportivo entre vários hospitais. Evento esse que coincidiria com os Jogos Olímpicos de 1948.
O sucesso foi tanto que ao longo de mais de 10 anos a competição realizou-se anualmente. Em 1992, marco histórico para o evento, os comités organizadores dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos decidiram unir esforços para trabalhar juntos. O apoio do COI permitiu, em 1989, a fundação do Comité Paralímpico Internacional. Desde então, a cidade anfitriã para os Jogos Olímpicos é também palco dos Jogos Paralímpicos.
Anos mais tarde, em 2010, surgiria o terceiro evento “paralelo”: os Jogos Olímpicos da Juventude, disputados por atletas entre os 15 e 18 anos. Incluem as edições de Verão e de Inverno e são realizados a cada quatro anos.
Os símbolos do movimento olímpico
A Carta Olímpica criada pelo COI codifica os princípios fundamentais e regras para a organização e funcionamento do Movimento Olímpico, definindo, assim, as condições para a celebração dos Jogos.
Estes ideais são representados por símbolos, sendo os mais conhecidos os anéis olímpicos: cinco arcos entrelaçados das cores azul, amarelo, preto, verde e vermelho, que representam a união dos cinco continentes; o lema olímpico: “Citius, Altius, Fortius”, expressão em latim que significa “O mais rápido, O mais alto, O mais forte”; a chama olímpica: acesa em Olímpia e transportada, na tocha olímpica, até ao estádio da cidade anfitriã; e a mascote olímpica: figura criada para representar a identidade de cada país anfitrião.
Controvérsias e momentos marcantes
O conceito de trégua olímpica - a suspensão de todos os conflitos entre nações durante a realização da competição - surgiu nos Jogos Olímpicos da Antiguidade, anunciada por mensageiros por toda a Grécia Antiga, de forma a que atletas e público pudessem viajar em segurança. O conceito foi recuperado nos jogos da era moderna e, hoje em dia, faz parte de uma resolução das Nações Unidas.
Ainda que o movimento olímpico se paute por lutar pela paz e união entre povos, esta que é uma das maiores provas desportivas do mundo também já viveu momentos de controvérsia.
Os boicotes da Guerra Fria
As duas Grandes Guerras foram responsáveis pelo cancelamento de três edições dos Jogos Olímpicos, por ausências dos países derrotados nos conflitos e, mais tarde, pelos boicotes durante a Guerra Fria, nas edições de 1980, em Moscovo, e 1984, em Los Angeles, os dois maiores boicotes à competição.
Nos Jogos de Moscovo, 67 países, incluindo os Estados Unidos, recusaram participar nas Olimpíadas em protesto contra a invasão do Afeganistão pela União Soviética, um ano antes. Nessa altura, o então Presidente norte-americano, Jimmy Carter, chegou a ameaçar revogar o passaporte dos atletas que ousassem desafiar o boicote. Nessa edição participaram apenas 80 países, o menor número desde 1956.
Quatro anos mais tarde, nos Jogos de Los Angeles 1984, a União Soviética respondeu. No total, 14 países ficaram de fora da competição, justificando a não-participação com a impossibilidade de garantir a segurança dos seus atletas.
Os Jogos de Berlim
As Olimpíadas de Berlim, em 1936, ficaram marcadas pela tentativa de Hitler em provar a “superioridade” da “raça ariana” através dos seus atletas. Um projeto que fracassou, já que o atleta mais medalhado, considerado o “herói” destes Jogos, foi o afro-americano Jesse Owens, que levou para casa quatro medalhas de ouro.
O protesto olímpico mais famoso?
Os atletas Tommie Smith e John Carlos terão proporcionado, porventura, um dos protestos mais famosos da história dos Jogos Olímpicos, em 1968, no México, quando, ao subirem ao pódio - no qual ocuparam o primeiro e terceiro lugares – realizaram a saudação do “Black Power” contra a segregação racial nos Estados Unidos.
O segundo classificado, o australiano Peter Norman, também se juntou ao protesto, com um crachá do projeto olímpico para os Direitos Humanos em apoio aos colegas.
Em resposta, o Comité Olímpico Internacional exigiu que os atletas norte-americanos abandonassem a Aldeia Olímpica, ameaçando que, caso não o fizessem, toda a equipa de atletismo seria desqualificada.
Como é escolhido o país anfitrião?
O processo de seleção do país anfitrião dos Jogos Olímpicos realiza-se, desde 1999, por duas fases. Inicialmente, findo o prazo das inscrições, as cidades que se candidataram respondem a um questionário que permite ao Comité Olímpico analisar a capacidade de organização. É através destas respostas que o COI seleciona as cidades classificadas para a fase seguinte: as candidatas oficiais.
Nesta segunda fase, é feito um novo questionário, desta vez mais detalhado. São feitas, ainda, inspeções em todas as cidades, nas quais se verificam os locais apontados para a realização das provas. Esta comissão avaliadora comunica, posteriormente, os resultados das inspeções ao COI, para que este possa prosseguir para a votação.
A votação é feita por membros do COI, sendo que aqueles de países com cidades candidatas não podem participar enquanto esta não for eliminada da votação. É eleita a cidade com a maioria dos votos. Caso tal não aconteça à primeira votação, é eliminada a cidade menos votada e inicia-se nova ronda.
Até 2028, os Jogos Olímpicos terão sido disputados em 44 cidades de 23 países. Os Jogos de 2016 no Rio de Janeiro foram os primeiros realizados num país sul-americano. Até ao momento, nenhuma candidatura de África foi eleita.
Os Jogos Olímpicos de Paris decorrerão entre 26 de julho e 11 de agosto.