Rui Costa, melhor do que ninguém na atual estrutura, recordar-se-á do contexto em que o setubalense foi obrigado a apresentar a demissão há quatro anos, depois de uma série de maus resultados e de todos os limites terem sido ultrapassados ao ponto de o autocarro da equipa ter sido apedrejado na autoestrada e de a casa do técnico ter sido vandalizada.

Grimaldo, Pizzi e Rafa, que sofreram na pele as mesmas intoleráveis manifestações de desagrado, foram os primeiros (a par de João Félix) a validar a aposta do presidente no míster que bateu recordes e foi campeão em 2019 mas que acabou por sair pela porta pequena e por ela volta a entrar carregando às costas um fardo pesado.

Sem colocar em causa o fascínio que o Estádio da Luz sempre exercerá sobre Lage, a verdade é que o antigo adjunto de Carlos Carvalhal no Sheffield Wednesday e no Swansea pega no testemunho de Roger Schmidt com zero troféus desde que disse adeus a Portugal, com a agravante de também no Botafogo ter contribuído para o desperdício de uma significativa vantagem pontual.

Se na segunda época ao leme das águias viu esfumar-se um “avanço” de sete pontos (em contraste com a fabulosa recuperação a partir de janeiro 2019), no Rio de Janeiro acabou por conseguir apenas 22 pontos em 48 possíveis, o que forçou o abandono do projeto que John Textor idealizou para o emblema da Estrela Solitária.

Como no Wolverhampton o percurso na segunda temporada fora interrompido face ao... solitário triunfo nos oito primeiros jogos da Premier League, é inegável que o currículo recente do respeitável Bruno nunca poderia recomendá-lo como a solução de choque para os vice-campeões nacionais, a contas com cinco pontos de atraso cumpridas quatro jornadas da Liga.

Com uma coragem que não se pode beliscar, justiça lhe seja feita, o homem made in Seixal aparece como o bombeiro de ocasião, o nome mais disponível e aquele cujas competências profissionais estabelecem uma interessante relação entre o custo e o rendimento.

Só era admissível uma leitura diferente no caso de a administração ter optado por Lage no final de maio. Aí, sim, quem manda poderia argumentar que os seus olhos tinham sido capazes de vislumbrar no mercado um treinador que não se resume aos resultados e que na SAD era visto como alguém com condições para patentear uma mudança de filosofia. O problema é que esse alguém, há quatro meses, tinha como apelido Schmidt.

Ao chamar agora e só agora aquele que chegou a ser visto como um novo Mourinho, Rui Costa limita-se a usar a receita do melhor e mais puro Vieirismo, socorrendo-se de Bruno Lage como Luís Filipe Vieira em tempos se socorreu do interino Lage ou do Mengão Jorge Jesus.

Com o inesgotável patrocínio de Jorge Mendes, o empresário que abriu portas para as transferências à dimensão dos Rafas, Grimaldos e Félix desta vida e que tanto tem zelado para a... vida sossegada de treinadores com um dourado “subsídio” de desemprego ou simplesmente reconfortados por uma vida sossegada nas seleções.

Tão sossegada que até passam incógnitos na véspera de um Portugal-Croácia.