Muito tem sido discutido relativamente ao facto de a McLaren não ter definido qual é o seu piloto principal e por demonstrar que não tem intenção de escolher nenhum dos dois. A McLaren está convicta de que não tem de fazer uma escolha e que vai até ao fim do campeonato tratando os dois pilotos de igual forma. Será que é mesmo assim?

A equipa de Woking recuperou de uma forma que não era esperada e tem conseguido aproximar-se da Red Bull. São apenas oito pontos que separam as duas equipas e a McLaren tem grandes condições de vencer o mundial de construtores e terminar com a hegemonia da equipa de Verstappen e Perez. Ainda assim, se refletirmos sobre o que aconteceu nas últimas corridas, podemos questionar se a falta de planeamento e gestão pode deitar tudo a perder.

Se em Zandvoort, Norris obedeceu à equipa e cedeu a posição a Piastri, em Monza não foi recompensado. Lando Norris, depois de ter saído na pole position, viu o seu colega de equipa a atacá-lo e a ultrapassá-lo na curva quatro, recebendo apenas a mensagem: “papaya rules”. É como quem diz que os dois pilotos podem lutar um contra o outro desde que os dois carros permaneçam na corrida e intactos. O próprio Norris revelou ter ficado surpreendido com a ação de Piastri, dizendo que poderiam ter batido se não tivesse travado mais cedo para evitar uma colisão. O facto é que com a ultrapassagem de Oscar, Norris viu uma possível vitória ir por água abaixo, enquanto que o seu colega de equipa poderia ter tentado segurar Leclerc e fazê-lo desgastar os pneus ao invés de escolher atacar o seu colega de equipa na chicane.

Já é sabido que a cultura interna da McLaren é tratar os dois pilotos com igualdade de condições. Zak Brown, CEO da equipa inglesa, afirmou não existir um piloto número dois na equipa, tal como Andrea Stella, chefe da McLaren, que vai ao encontro desta mesma visão. É certo que mudar esta ideia poderia afetar a dinâmica da equipa até porque caso a prioridade seja dada a Lando Norris, uma vez que é o único oponente direto de Verstappen na conquista do campeonato, poderia fazer com que Oscar Piastri ficasse insatisfeito sendo uma peça que também é importante para a equipa.

É natural que cada um dos pilotos tenha a ambição de ganhar cada corrida, independentemente de qual for o seu adversário. Por isso mesmo, é a equipa que deve zelar pelos interesses coletivos e tomar uma decisão tendo em conta as circunstâncias do campeonato de pilotos, uma vez que influencia, indiretamente, o mundial de construtores. O que é facto é que Lando Norris ainda pode, matematicamente, vencer Max Verstappen, estando a 62 pontos de diferença, enquanto que Piastri ocupa o quarto lugar. Enquanto meros espectadores, existir uma disputa de pilotos com a qualidade de ambos é sempre benéfico e entusiasmante, levando-nos a pensar se cada piloto não deve lutar pela posição mais alta mesmo que isso implique superar o seu colega de equipa. No entanto, se liderássemos uma equipa e precisássemos que os resultados fossem os mais favoráveis coletivamente, com certeza teríamos uma visão diferente. Se a ultrapassagem de Piastri a Lando Norris, na curva quatro em Monza, tivesse resultado num choque entre os dois e os tivesse afastado da corrida, possivelmente não estaríamos a questionar se faz sentido, ou não, a escolha de um piloto principal.