O que se viu de novo

Nada de muito diferente de outros jogos da pré-época, com o Sporting a testar a sua capacidade de ter bola, mais uma vez a obstinar-se pela saída desde trás, muitas vezes a arriscar - mas se é para arriscar, este é o momento. O Sporting foi conseguindo atrair o Athletic Bilbao para a pressão e daí retirou algumas saídas com qualidade, mas perdeu também muitas bolas a meio-campo, nas primeiras fases da construção, algo que será mais dificilmente perdoado em outros contextos. O início da 2.ª parte, nesse particular, não foi positivo.

Face às muitas ausências e lesões no lado direito, Rúben Amorim surpreendeu ao apostar em Quenda como ala. Ao jovem leonino pouco lhe foi exigido em termos defensivos mas no ataque foi um dos melhores elementos na 1.ª parte, surgindo como mais uma opção.

O primeiro golo do Sporting, logo aos 11’, teve origem numa recuperação de bola de Trincão, um dos únicos que jogou os 90’. Quenda foi rápido a reagir e lançou Gyokeres. Depois, a ligação entre o sueco e Pote deu golo - nada parece ter sido perdido durante as férias.

A 2.ª parte foi menos positiva e as alterações, inicialmente, não fizeram bem ao jogo, de parte a parte, melhorando com a entrada de Mateus Fernandes. As suas cavalgadas com a bola controlada criaram perigo imediato. O Sporting marcou mais dois golos nos últimos 10 minutos, graças a boas recuperações e jogadas de entendimento, onde o Sporting de Rúben Amorim parece estar afinado. Atingir níveis físicos superiores parece ser o desafio para esta semana antes da Supertaça. No final, alguns lances oferecidos ao Athletic pareceram ter origem em algum cansaço e distração.

Os reforços

Chamado mais uma vez a ser por vezes o primeiro homem da construção, a exibição de Kovacevic destacou-se mais nos poucos lances em que foi chamado a intervir onde mostrou atenção e bom posicionamento - aos 51’, um erro de Morita permitiu a entrada na área de Berenguer, mas o bósnio resolveu bem o problema. Jogo positivo. A surpresa Geovany Quenda destacou-se sobretudo na 1.ª parte. Está no primeiro golo, com uma excelente reação e processos simples. Deu que fazer ao seu defensor direto, com a sua ginga e capacidade de drible no um para um e podia ter marcado: aos 33’, enviou uma bola ao ferro e minutos depois tentou o remate cruzado, que não passou longe.

Debast parece estar a assimilar a nova realidade, a forma de defender do Sporting, mas dá sinais fortes que é daqueles que aprende bem rápido. Arriscou em alguns lances, numa exibição não isenta de erros de posicionamento, mas também mostrando resistência quando pressionado. Rodrigo Ribeiro teve mais uma vez minutos (até porque era o único avançado no banco) e esteve no terceiro golo, ao lançar inteligentemente Matheus Reis na esquerda.

João Muniz entrou para o eixo da defesa, tentou algumas saídas talvez demasiado afoitas mas, em geral, não comprometeu. Já Mateus Fernandes mostrou todo o seu potencial nos poucos minutos que esteve em campo. É dele a recuperação e o lançamento para Rodrigo Ribeiro, que com um bom trabalho encontrou Matheus Reis que fez o passe decisivo para Trincão. Várias bolas ganhas e uma capacidade acima da média para transportar o jogo para a frente - vai dar dores de cabeça a Rúben Amorim na hora de escolher a linha média.

ANTONIO COTRIM

Como começou

Kovacevic; Geny, Eduardo Quaresma, Inácio, Debast, Quenda; Hjulmand, Morita; Pedro Gonçalves, Trincão e Gyokeres

Como acabou

Israel; Fresneda, Eduardo Quaresma, João Muniz, Matheus Reis, Marcus Edwards; Mateus Fernandes, Daniel Bragança, Pedro Gonçalves, Trincão, Rodrigo Ribeiro

O melhor

É possível que, na globalidade, Pedro Gonçalves tenha sido o melhor jogador do Sporting, ainda que Hjulmand, Trincão e até Quenda tenham acompanhado bem o médio atacante português. Marcou o primeiro golo do Sporting, com uma finalização simples e suave, e no 2-0, marcado por Edwards, foi decisivo ao arrastar uma série de adversários, permitindo a Matheus Reis o espaço para cruzar para Edwards. Pelos últimos jogos de preparação, Pote parece mais do que pronto para a nova época.

A banda sonora


Houve momentos em que esta vossa escriba foi obrigada, não só por motivos profissionais mas também de gosto, a dividir a atenção deste jogo com uma dupla fantástica de tenistas ou uma prova de natação que era, talvez, a mais esperada destes Jogos Olímpicos. E por isso deixo-vos com Edith Piaf e este hino ao amor, que estará na cabeça de toda a gente que viu a cerimónia de abertura de Paris 2024 até ao fim - e que vai marcar indelevelmente estas duas semanas maravilhosas de desporto.