PARIS – Depois do omnium, o madison!

No espaço de três dias, Portugal inscreveu duas novas palavras no dicionário desportivo. E se antes dos Jogos Olímpicos terem arrancado, pouco mais de duas mãos cheias de pessoas saberiam que aqueles nomes batizam duas das especialidades do ciclismo de pista, agora não haverá muitos amantes de desporto no país que não saibam.

Culpa de Iúri Leitão primeiro. E dele e Rui Oliveira depois.

Dois dias após a medalha de prata conquistada pelo ciclista de Viana do Castelo no omnium, o ciclismo faz história.

Carlos Lopes. Rosa Mota. Fernanda Ribeiro. Nélson Évora. Pedro Pablo Pichardo. Iúri Leitão e Rui Oliveira.

Depois de cinco campeões olímpicos no atletismo, surge uma medalha de ouro noutra modalidade. Logo na primeira participação da vertente de pista, são duas medalhas, esta com esse passo em frente do desporto luso.

Como é que isto aconteceu?

Podíamos recuar a 2009, quando nasceu em Sangalhos, Anadia, um equipamento cuja utilidade muitos terão questionado.

A resposta surge 15 anos depois. O investimento no desporto pode dar frutos. Aliás, é a única forma de atingir sucesso. E é por isso que os nomes de Iúri Leitão e Rui Oliveira (fácil!) e do omnium e madison vão entrar no léxico português.

Mas vamos abreviar. Porque isto são 200 voltas, mas é sempre a abrir! Nem dá para respirar! E quando reparamos, já acabou e Portugal é campeão olímpico.

Foi mais ou menos esse o sentimento de quem assistiu à corrida realizada neste sábado no Velódromo Nacional de Saint-Quentin-en-Yvelines.

Depois de terem andado grande parte da corrida a parecer lutar pelo diploma atribuído aos oito primeiros classificados, os portugueses fizeram uma leitura tática perfeita da corrida e foram buscar forças sabe-se lá onde para sprintar para o título.

É verdade que a 140 voltas do final, a dupla portuguesa chegou a liderar, após pontuar em dois sprints intermédios consecutivos, cinco e três pontos.

Mas depois como que se eclipsaram da luta pelos pontos. A cerca de 70 voltas do final caíram para o 10.º lugar, mas tudo estava pensado.

E quando viram os adversários mostrar sinais de fraqueza, Iúri e Rui lançaram-se com toda a ambição para a frente. Naquelas bicicletas sem travões, na pista em que se atingem velocidades superiores a 50 quilómetros por hora, os novos campeões olímpicos portugueses dominaram totalmente a ponta final.

No último quarto da prova, a dupla voltou a atacar, ganhou os quatro últimos sprints - o último dos quais que pontua a duplicar - além de ter conseguido dar uma volta de avanço ao grupo principal, que valeu 20 pontos extra.

No saldo final, Portugal somou 55 pontos, mais oito do que o segundo classificado, a Itália, e mais 14 do que a Dinamarca, que arrecadou o bronze.

Na primeira participação de sempre do ciclismo de pista português em Jogos Olímpicos, a equipa conquista uma medalha de ouro e a prata de Iúri Leitão no omnium.

Esta é a sexta medalha de ouro olímpica de Portugal, depois de Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Nélson Évora e Pedro Pichardo, todos no atletismo.

Em Paris 2024 é a quarta medalha conquistada pela missão portuguesa, depois do bronze de Patrícia Sampaio no judo e das pratas de Iúri Leitão (Omnium) e de Pichardo no triplo salto.

Em termos de resultados, Paris 2024 passa a ser a melhor participação de sempre, igualando as quatro medalhas de Tóquio 2020, mas com duas pratas e um bronze além do ouro, enquanto no Japão tinham sido conquistados dois bronzes e uma prata, além do ouro de Pichardo.