Depois dos rumores, a oficialização, na tarde deste sábado: Hugo Viana foi anunciado no Manchester City. O atual diretor-desportivo do Sporting fica, contudo, em Alvalade até ao final da época. Não obstante, os leões não perderam tempo: no mesmo comunicado em que comunicaram a saída, confirmaram o substituto: Bernardo Palmeiro, a partir de 2025/26, será o diretor-geral do futebol verde e branco.
Hugo Viana marcou uma fase da história leonina, sobretudo pela imagem deixada nos últimos anos: contratações acertadas, boa relação com a direção e equipa técnica e, o mais importante, títulos, que tanta falta faziam ao leão. Sai - veremos, claro, como termina a temporada - pela porta grande e deixa para trás uma herança pesada.
Difícil de substituir? Para Frederico Varandas não existiram dúvidas. O presidente alterou a estrutura e, da próxima temporada em diante, o cargo de diretor-desportivo deixará de existir, sendo substituído pelas posições de diretor de scouting - já ocupada por Flávio Costa - e de diretor-geral do futebol, futuramente a cargo de Bernardo Palmeiro.
Por isso, impõem-se saber: quem é Bernardo Palmeiro?
Ganhar experiência até ao grande passo
Tem 43 anos e, inclusive, já trabalhou com Hugo Viana no Sporting, mas já lá vamos. Licenciou-se em direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e especializou-se em legislação fiscal. Em 2013, tirou um mestrado em gestão desportiva, na Suíça. De Lausanne mudou-se para Zurique e por lá ficou durante quatro anos, a trabalhar na FIFA.
Regressou a Portugal em 2017 e, após fundar a 14 Sports Law - escritório de advocacia desportiva -, ingressou, pela primeira vez, no Sporting. A estadia em Alvalade, onde trabalhou com Frederico Varandas e Hugo Viana como assessor da SAD, durou três anos. Uma experiência enriquecedora, na opinião do próprio: «Muito grato e orgulhoso por ter contribuído no ciclo para o ciclo de maior sucesso do clube nos úlitmos anos. Foi uma experiência incrível, ainda para mais porque representou uma mudança na minha carreira profissional.»
Depois da experiência no Sporting, continuou de verde e branco, desta feita no Rio Ave, e ganhou protagonismo. Segundo o clube vilacondense, Bernardo colaborou «diretamente com a Presidente em todas as matérias da sua responsabilidade, com especial incidência no futebol profissional, nomeadamente na gestão dos seus ativos e no mercado de transferências, quer em temas jurídicos e regulamentares bem como na reorganização estrutural do clube.»
A aventura em Vila do Conde durou uma temporada. Livre desde maio de 2024, Bernardo Palmeiro escolheu o Sporting para dar o próximo passo na carreira.
Passagem por Alvalade contada pelo próprio
Em entrevista ao canal de YouTube iWorkinSport, concedida no começo de 2022 - quando estava no Sporting -, o advogado deu-se a conhecer um pouco melhor e, além de falar da sua história até então, levantou o véu sobre aos gostos pessoais e os objetivos leoninos.
«Quando te juntas a um clube, qual é o grande objetivo da entidade com que estás a trabalhar? No caso do Sporting, que tem muitas equipas e muitas modalidades, o objetivo é ter o maior sucesso possível. No final do dia, sejas tu um negociador, advogado, diretor-desportivo, precisas de fazer o que é melhor para o clube. No departamento do futebol profissional, é fazer o que for preciso para que os 11 jogadores que sobem ao relvado todas as semanas tenham condições para ganhar, para colocarem o clube noutro patamar.
Com o meu passado e a minha experiência, gosto muito das negociações, das transferências. Creio que é algo que a maior parte das pessoas não percebe o quão stressante e complicado é; leem nos jornais, têm a sua opinião, mas é muito mais complexo que o que aparenta. São vontades de agentes, de jogadores, de clubes, investidores...
[O meu passado] Deu-me uma capacidade de perceber pessoas e contextos que não tinha. Foi aí que cresci muito, com a minha experiência internacional. Ajuda muito a negociar, porque parte das negociações é perceber o outro lado, o que precisam, quais são os objetivos e problemas. Se resolvermos os problemas deles, é mais provável termos sucesso no nosso objetivo. Isso é o que me entusiasma mais e fui contratado para trabalhar no Sporting exatamente nisso.
Em Inglaterra, por exemplo, os clubes estão a tornar-se entidades privadas. Em Portugal, isso não funcionaria, pelo menos no Sporting. Os adeptos querem ter o controlo do clube. Tenho a certeza que se chegasse cá alguém e dissesse: "Vou fazer do Sporting a melhor equipa do mundo, quero comprar o clube". Os adeptos não iam apoiar, mesmo que isso significasse que o Sporting se ia tornar o Manchester City. Eles não querem isso. Temos de ouvir os adeptos e é claro que isso influencia a maneira como o clube é gerido.
Às vezes os adeptos podem pensar que pagámos demasiado por um jogador, ou que vendemos por menos que o suposto... Acho que se as coisas forem feitas de forma orgânica, estruturada, com o mindset correto e com o sucesso devido, os adeptos vão perceber. É impossível ouvir três mil adeptos, por isso é que estas pessoas são contratadas, para fazerem o que fazem melhor e levarem o clube ao sucesso.»
No universo leonino, ficam muitas dúvidas no ar: Rúben Amorim vai sair no final da época? Que jogadores vão resistir aos ataques dos campeões europeus? Há esperança para o que aí vem? Para já, uma coisa é certa: Bernardo Palmeiro será o homem do leme no futebol profissional do Sporting, uma posição crucial, que ditará o rumo - financeiro e desportivo - do clube. Estará à altura?