A festa da Taça chegou à vila de Pevidém. Ao modesto clube de Guimarães, que milita no Campeonato de Portugal, calhou a fava que os clubes deste patamar ambicionam: o receber de um grande.

Fundado em 2006, depois da extinção do Grupo Desportivo de Pevidém, o Pevidém Sport Clube viveu grande parte da sua - ainda breve - história nos campeonatos distritais. Sediado numa zona onde o têxtil impera, chegou aos nacionais em 2020, e de lá não saiu.

Apesar da maioridade atingida há menos de meio ano, os Cavaleiros de São Jorge já têm fama de fazer feitos hercúleos. Em 2020/21, na estreia nos campeonatos nacionais, apenas dois pontos distanciaram Pevidém da Segunda Liga, mas chegou para a participação na primeira edição da Liga 3. A campanha no terceiro escalão foi negativa - último lugar destacado - mas os alicerces ficaram seguros no Campeonato de Portugal.

Em vésperas do começo da temporada 2023/24, o japonês Tatsuya Ishizuka chegou ao clube e criou uma SAD, com o objetivo de recolocar o clube na Liga 3, sem dar passos precipitados.

O zerozero foi ao encontro do clube vimaranense e conversou com João Pedro Coelho - treinador -, Rui Machado - presidente e Tatsuya Ishizuka - presidente da SAD.

Uma SAD no Campeonato de Portugal: «É uma simbiose perfeita»

É algo que não é muito comum, mas que é cada vez mais comum. O investimento nipónico chegou a Pevidém em 2023, com promessas de crescimento, respeitando a história do clube. Sem grandes megalomanias, a equipa de São Jorge de Selho ficou aquém das expectativas na Fase de Subida, algo que o clube vê «como um objetivo, mas não uma obcessão.»

«A SAD estão em simbiose perfeita com o clube. O nosso investidor está radiante, assim como nós também estamos. Não há divisões, não há a SAD e o clube. Vivemos isto em comunhão e estamos muito felizes com a relação», revelou Rui Machado, presidente do clube.

As barreiras linguísticas dificultaram o processo, mas, Tatsuya Ishizuka, presidente da SAD, também falou com o zerozero. Com a ajuda de Araki, médio do Pevidém e tradutor de serviço, o investidor mostrou-se feliz com o momento do clube. «Tinha outras opções para investir, mas decidi-me por Portugal. As pessoas do Pevidém aceitaram-me muito bem e isso é o mais importante, estou muito feliz»

Tatsuya Ishizuka, presidente da SAD do Pevidém @GONÇALO PINTO / ZEROZERO

«É um típico clube de freguesia, onde toda a gente se conhece. Os adeptos facilmente têm relações com os atletas, com os treinadores, portanto, os clubes do nosso nível acabam por ser uma família. Alguns diretores já estão cá desde a fundação, ou até antes, quando ainda era Grupo Desportivo de Pevidém. Depois temos jogadores carismáticos, mesmo da própria vila, como é o caso do Pedrinho, que joga mesmo por amor ao clube dele, porque facilmente poderia ter arranjado outros palcos, se calhar uma com mais visibilidade», disse o presidente, traçando um raio x do clube, que é um perfeito desconhecido para o mais comum dos adeptos do futebol português.

qEspero que ao intervalo esteja 0-0 e que aos 88´ minutos façamos um golinho
Rui Machado, presidente do Pevidém

Sobre o jogo diante a equipa da Luz, o estado é de apoteose num clube que não está habituado a estas andanças. «É o momento mais mediático da história do clube. Tem sido um frenesim, são 15 dias completamente invulgares em função do que é a história do clube e o dia-a-dia do mesmo. Temos de nos revezar, não temos um diretor de imprensa, por exemplo, mas estamos a servir toda gente o melhor que conseguimos», assumiu o maior responsável do emblema vimaranense, que espera que o Benfica «faça como costuma fazer» e entregue a sua parte da receita do encontro ao clube.

Para dentro do campo, a previsão é muito clara: «Espero que ao intervalo esteja 0-0 e que aos 88´ minutos façamos um golinho. Se ganharmos ao Benfica, só paramos na Liga dos Campeões (risos). Costumo sempre dizer isso. É o meu objetivo final e, se vencermos o Benfica, é porque um dia, mais tarde ou mais cedo, vamos lá chegar.»

«É muito difícil sairmos derrotados deste jogo»

Nunca regresses onde já foste feliz. Este ditado popular - que não passa de um clichê - é o antónimo da vida de treinador de João Pedro Coelho, o cavaleiro-mor de Pevidém. Aos 42 anos, está na quarta passagem pelo clube vimaranense - nove épocas no total - e é, indiscutivelmente, o treinador com mais sucesso da história do mesmo. Em dois anos, lançou a equipa da distrital à Liga 3, catapultando para a ribalta um clube que nunca havia sequer saído da distrital.

João Pedro Coelho, treinador do Pevidém @Gonçalo Pinto / zerozero

«Acho que a palavra que melhor define o Pevidém é família. Quem chega cá, seja jogador, treinador, ou parte do staff, percebe que vai entrar em algo que vai muito para além de um clube. Rapidamente se criam laços e há uma identificação dos valores do clube. Por isso é que quem por aqui passa, normalmente, tem dificuldades em sair e está sempre à espera de poder voltar. Se há realmente algo que caracteriza este clube são os valores e a forma como acarinha quem representa o clube», disse o timoneiro do Pevidém sobre a cultura do clube.

Pródigo em alcançar feitos históricos nos Cavaleiros de São Jorge, João Pedro Coelho está satisfeito por ter «a honra» de estar num novo momento histórico do clube. «É um prémio justo pelo crescimento que tem vindo a ser feito no clube. Sinto que fiz parte de um núcleo que fez algo muito marcante (subida da distrital à Liga 3). Ao nível nacional, duvido mesmo que lhe haja algo idêntico. Demos passos em frente, mas também demos passos atrás, que também são importantes para nos reorganizarmos.»

João Pedro Coelho
Pevidém SC
Total

89 Jogos
48 Vitórias
15 Empates
26 Derrotas

133 Golos
88 Golos sofridos

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E como se prepara um jogo com uma equipa como o Benfica? «Responsabilidade», a palavra chave para o sucesso. «Vamos ser a representação dos campeonatos não profissionais. Representamos aqui muitos treinadores e muitos jogadores, que sonhavam em estar no nosso lugar. Até mesmo aqueles que gostam do Benfica, acredito que estejam à espera que o Pevidém faça uma gracinha. Não limitamos objetivos e vamos jogar para ganhar. O objetivo passa por apresentar a nossa melhor versão, a nível individual e coletivo»

qSe sairmos derrotados, é um sinal de uma incompetência muito grande
João Pedro Coelho, treinador do Pevidém

Em jeito de conclusão, João Pedro Coelho lançou uma permissa forte sobre o que o Pevidém poderá retirar do jogo. A valorização é primordial, o resultado é secundário.

«Dificilmente sairemos derrotados deste jogo. Até me atrevo a dizer que, se sairmos derrotados, é um sinal de uma incompetência muito grande. Focar no resultado como algo decisivo seria muito injusto para nós. Temos de aproveitar o jogo para demonstrar aquilo que valemos. Se acabarmos com o sentimento de que saímos vencedores do jogo, vamos estar mais fortes, mais preparados para o futuro. Todos vão sair valorizados: o clube, os jogadores e a equipa técnica. Há tanta coisa a ganhar...»

O repto está dado. Conseguirá o Pevidém surpreender o Benfica?