Chegar à equipa principal, um sonho. Com golo, melhor ainda. Nos primeiros toques na bola, um feito quase impossível. Pedro Mendes foi um feliz premiado com esta raridade em Eindhoven.

A 19 de setembro de 2019, o Sporting foi derrotado na última visita a casa do PSV. Num jogo de dificuldades para a equipa então orientada por Leonel Pontes, o tento do jovem avançado acabou por ser um momento de felicidade e alguma luz.

Ao zerozero, o avançado atualmente no Modena recordou o momento inesquecível conseguido no Philips Stadion, palco do PSV-Sporting desta terça-feira.

A saída do leão, o trabalho com Luís Freire e a felicidade em Itália foram também tema de uma animada conversa.

«Tinha o feeling que ia entrar»

Lançado às feras num momento em que o Sporting estava em desvantagem, o excelente golo de Pedro Mendes não alterou o rumo do jogo em 2019, mas ficou para sempre guardado no coração do avançado.

«É um dia que ainda me dá arrepios. Muito especial para mim e os meus. Um sonho tornado realidade, marcar com a camisola do Sporting na estreia, logo numa prova europeia. Só foi pena o resultado», começou por confessar ao nosso portal.

«Tinha treinado algumas vezes com a equipa principal e tinha o feeling que ia entrar, mesmo que não fosse a opção mais óbvia no banco. Fui lá para dentro e, no primeiro toque, receção e golo. Nunca mais vou esquecer.»

Golo em Eindhoven foi o único na equipa principal @Getty /

«Foi um movimento natural, não dava para pensar. Tentei desviar do defesa e atirei à baliza. A bola saiu bem e surpreendeu o guarda-redes. É daqueles momentos que sonhas na noite anterior e mágicos quando acontecem», acrescentou.

Marcar na estreia pela equipa principal foi um sonho que se transformou em maior responsabilidade, reconhece Pedro. O carinho que recebeu dos companheiros da formação é algo que não esquece.

«Recebi os parabéns de toda a equipa e também dos meus companheiros das camadas jovens. Foi bonito, mas óbvio que pensei: "agora é que isto vai começar a sério". Manter o nível e fazer mais golos passou a ser desafio. Um chip que rapidamente tens de mudar.»

«Vivi na Academia de Alcochete durante um ano, antes de ter 18 anos. Tu convives com jogadores da tua idade, mais velhos e mais novos. Almoços, jantares, espaços em comum. Crias boas relações e recebi os parabéns de companheiros de todos os escalões. Foi muito bom ver que ficaram genuinamente felizes com a minha estreia», admitiu.

Numa época difícil para o Sporting, o avançado acabou por ter utilização irregular - só foi inscrito na Liga na segunda metade da campanha - e este foi mesmo o único tento que apontou.

Passados alguns anos, nenhum ressentimento perdura.

«Foi uma boa experiência. Foi um ano difícil para o Sporting e um avançado vive muito das estatísticas, do golo e das assistências. Isso é muitas vezes exagerado na percepção que se tem de um bom ou mau rendimento, na minha opinião.»

«Não ajudou jogar pouco tempo, mas dependia de muitos fatores: se estava preparado, se as minhas características se ajustavam ao que queriam os treinadores, o momento coletivo, etc.»

«São opções e só tenho de respeitar. Levo muitas aprendizagens e experiências que guardo com carinho», destacou.

Sporting fez encaixe este verão com o avançado @Sporting CP

«Acho que é um bom caminho para os jogadores portugueses»

Pedro Mendes chegou a Alcochete no final da formação, ainda a tempo de conviver com vários jogadores de muita qualidade. Eduardo Quaresma e Daniel Bragança foram dois dos seus companheiros, de quem mostra orgulho pelo caminho que estão a percorrer.

«Fico mesmo muito contente. São dois casos em que a qualidade estava lá. O Eduardo talvez não estivesse preparado, os momentos de maturação de um defesa central podem ser diferentes de outras posições. Está a conseguir agarrar a oportunidade depois de ter passado pelos empréstimos.»

qJoguei contra equipas orientadas por Pirlo, Fàbregas, Cannavaro e Grosso
Pedro Mendes e o confronto com ídolos

«O Daniel ultrapassou muito bem a lesão grave que sofreu. Tem uma qualidade absurda e até lhe mandei mensagem quando ele foi capitão pela primeira vez. É um momento importante e, se eu já senti orgulho quando aconteceu comigo na formação, imagino ele na equipa principal», afirmou, abrindo o coração sobre ter sido capitão nos Sub-23.

«Curiosamente foi um voto de confiança do mister Leonel Pontes, que também me lançou na equipa principal. Tinha sido sempre capitão nos clubes que passei, mas fiquei muito surpreendido quando ele me colocou a braçadeira no braço, logo num jogo contra o Vitória SC da minha região. Foi um momento de muito orgulho», salientou.

Após empréstimos difíceis a Almería e Nacional, o avançado viveu uma época excelente às ordens de Luís Freire no Rio Ave. Como nos descreve, todos os condimentos estavam reunidos para os vila-condenses realizarem uma fantástica época e voltar à I Liga.

«Foi um ano perfeito. Precisava de ser aposta e sabia que podia dar uma boa resposta. O mister já tinha trabalhado comigo no Nacional. Aquela equipa do Rio Ave foi construída a dedo e de forma perfeita.»

«Ao meu lado, quem não jogava queria muito que eu marcasse. Tenho um grande apreço pelo treinador. Além do aspeto do tático, o mister gere muito bem o grupo e sabe como chegar aos jogadores. Continua a fazer um excelente trabalho no Rio Ave.»

«Pedro Amaral, Guga, Vítor Gomes, todos. Pessoal espetacular como o Ronan David, que mesmo lesionado não se cansou de nos apoiar. Ganhámos o campeonato e fizemos uma excelente campanha», analisou.

«Encontro muitas semelhanças na vida entre Portugal e Itália»

As boas exibições aumentaram os interessados em Pedro Mendes, que decidiu voltar a dar um rumo internacional à carreira. O interesse do Ascoli foi forte e decisivo para o minhoto rumar ao futebol italiano.

«Sou um jogador que gosta de desafios. É verdade que as coisas não correram da melhor forma em Espanha, mas o Ascoli mostrou muita vontade em contar comigo. Enviaram uma pessoa a Portugal, recebi chamadas de diretores e do presidente. Não há muitos portugueses no futebol italiano, mas olhei para a Serie B e vi grandes clubes, além de treinadores conceituados.»

Pedro Mendes
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«Joguei contra equipas orientadas por Pirlo, Fàbregas, Cannavaro, Grosso, etc. Defronto os meus ídolos de infância. É bastante engraçado e o campeonato é muito, mesmo muito competitivo», disse de sorriso rasgado.

A adaptação ao novo país acabou por ser fácil para o jogador de 25 anos, que fez o esforço para aprender a língua local o mais rápido possível.

«Encontro muitas semelhanças na vida entre Portugal e Itália, da comida à meteorologia. A alimentação é incrível, dá sempre para comermos bem. Vim com a minha namorada e o facto de ser extrovertido ajudou na minha integração. Também fiz o esforço de rapidamente aprender a língua, em seis meses já falava.»

«Eles [italianos] falam rápido como os espanhóis. É importante aprender os verbos, as diferentes formas de tratar as pessoas e em que momentos utilizar certos termos. É preciso conhecer a língua, mas gostei muito do desafio desenvolver essas capacidades», apontou.

São poucos os portugueses que atualmente atuam em Itália, uma realidade que Pedro Mendes tem dificuldades em perceber.

«Ainda não sou empresário, mas acho mesmo que é um bom caminho para os nossos jogadores. O futebol é competitivo e aliciante. O ano passado descemos, mas tirámos muitos pontos às equipas do topo da tabela. As defesas são difíceis e há uma grande riqueza tática, com ciclos de vários jogos consecutivos. Mesmo perto do Natal há encontros. Férias só no verão (risos)», comentou.

Época no Rio Ave continua no coração de Pedro Mendes @Catarina Morais / Kapta +

«Fica o sentimento de ter correspondido à aposta que o Sporting fez em mim»

A segunda época no Ascoli mostrou um grande salto nos números individuais do avançado, que viu a equipa descer na última jornada devido a uma lesão grave.

Um sentimento agridoce.

«Foi uma temporada muito boa a nível individual, com onze golos até março, momento em que contraí uma lesão grave de cinco meses. Cheguei a ter metade dos golos da equipa. Foi difícil ficar de fora e ver o sonho destruído na última jornada.»

«O clube deu-me a opção de voltar a Portugal, mas decidi ficar em Itália a recuperar e apoiar no que conseguia. É difícil ver de fora devido a uma lesão», desabafou.

Já com nome no mercado italiano, Pedro Mendes fez a transição no último defeso para o Modena. Feliz por ter ajudado o antigo clube, o português voltou a marcar nos jogos de estreia.

«Só queria sair o clube se todas as partes estivessem de acordo. Acabei por ajudar o Ascoli. Foi bom para mim e para todos. Tive propostas de Espanha, Portugal e de outras paragens, no entanto, apareceram várias oportunidades por cá. Quis resolver as coisas cedo e o Modena fez um grande esforço, com um projeto ambicioso e uma direção muito boa. Não podia pedir mais.»

Passagem no Ascoli foi em crescendo @Getty /

«Logo no início estivemos perto de eliminar o Napoli na Taça. Por precaução fui lançado na segunda jornada e marquei após entrar, isto com duas semanas de trabalho. Voltei a meter as expetativas altas (risos). Espero dar muitas alegrias aos adeptos e estou num momento confiante», declarou.

A nova cidade também tem sido do agrado do jogador, que aponta como um ponto de visita, especialmente aos fãs do ramo automóvel. Itália é um país do seu agrado, porém, o futuro é sempre imprevisível para os jogadores, lembra.

«Situa-se mais no norte e tem diferentes coisas para ver [cidade de Modena]. Seja o centro ou o museu da Ferrari. Por vezes vais na rua e vês protótipos da marca que ainda não estão no mercado, possivelmente em testes. Aqui numa reta tens várias lojas de grandes marcas de carros, além da forte tradição da moda na cultura italiana»

«Estou bem por cá. Bons clubes, boa competição e qualidade de vida. Tenho um bom contrato, mas nunca sabemos o que pode acontecer no futuro. Não sou esquisito e não tenho medo de aventuras», afirmou.

Pela transferência de Pedro Mendes este verão, o Sporting conseguiu um encaixe de mais de um milhão de euros. Já sem ligação ao clube de Alvalade, o jogador de 25 anos confessou ainda assim ter ficado feliz pela ajuda financeira aos leões.

«Claro que fiquei satisfeito. Mesmo não sendo um grande valor, fica o sentimento de ter correspondido à aposta que o Sporting fez em mim. Foram eles que me contrataram ao Moreirense. Gosto de deixar uma boa impressão por onde passo e acredito que tenho feito isso», realçou.

Avançado tem ganho protagonismo em Itália @Getty /