Pedro Pichardo, vice-campeão olímpico do triplo salto, assumiu que tem pensado aposentar-se a partir de agora, reconhecendo que os últimos anos têm sido complicados devido a problemas com o Benfica e à falta de apoio do Governo.

"Tenho perdido aquela emoção, aquela felicidade que tinha pelo desporto e tenho vindo a pensar em aposentar-me a partir de hoje", declarou aos jornalistas na zona mista do Stade de France, pouco depois de conquistar a prata no triplo salto.

Campeão olímpico da disciplina em Tóquio2020, Pichardo revelou que o seu pai, que é também o seu treinador, assim como a mãe e a esposa têm tentado convencê-lo a, pelo menos, acabar a época e, depois, pensar se continua ou não.

"Mas o que está na minha cabeça é ficar aqui já. Parar por aqui. Hoje, já foi a minha última competição. A minha família ainda continua a falar comigo para ver se continuo mais tempo, a saúde está boa, ainda tenho 31 anos, não sei. Vou pensar a ver se continuo", acrescentou.

Pichardo assegurou esta sexta-feira a prata em Paris 2024 com um salto de 17,84 metros, a dois centímetros do espanhol Jordan Díaz (17,86), que lhe sucede depois de já o ter batido nos Europeus Roma 2024, enquanto a medalha de bronze foi para o italiano Andy Díaz, com 17,64.

"Há anos tinha prometido a minha mãe que ia acabar nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Os últimos anos têm sido complicados, [com] problemas no clube também. Infelizmente, lá em Portugal, não temos apoio das instituições. O Governo também só olha para o futebol. Nós somos atletas que temos que estar aqui, mas não temos apoio nenhum", criticou.

“Precisamos também de um bocadinho”

O saltador disse que seria bom sentar-se com o primeiro-ministro, Luís Montenegro, que esteve hoje no Stade de France a assistir à sua prova, e ver se o Governo consegue "dar apoio aos atletas fora do futebol".

"A única coisa que eu vou pedir ao Governo, ao ministro, ao Presidente é que apoiem-nos também a nós. Eu sei que aqui, em Portugal, é só futebol, mas somos também atletas, precisamos também de um bocadinho. Não estamos a pedir muito, mas um bocadinho. Daquilo que vocês dão ao futebol, acho que um bocadinho para nós é suficiente", defendeu.

“Já estou velho, tenho três filhas, uma família”

Embora reconhecendo que rivalidade com Jordan Díaz lhe dá "motivação" e é algo de que gosta - "já me ganhou duas vezes e obviamente estou picado" -, o duas vezes medalhado olímpico por Portugal assume que a cabeça não aguentar ter de "lidar com aquelas dificuldades todas" que encontra quando chega a Portugal.

"Eu sempre digo: já estou velho, já tenho três filhas, tenho uma família, tenho 31 anos, já não sou aquele jovem que vai treinar com a mesma emoção do começo. Eu preciso ir treinar com uma boa estrutura. Eu acho que tenho chegado até aqui, tenho conquistado resultados para ter uma estrutura hoje e, infelizmente, em Portugal está difícil. Eu agradeço o apoio da Câmara de Setúbal, também da Federação. Infelizmente, as coisas não têm corrido bem", lamentou.

“A tábua não está boa, a caixa, o ginásio…”

Pichardo relatou as condições em que treina, considerando que a pista de Setúbal "não está em boas condições".

"A Câmara de Setúbal liga para o clube para pedir apoio para andar a emendar os buraquinhos. A tábua não está boa, a caixa de areia não está boa, o ginásio não está... é complicado também. De segunda a sábado, todos os dias aquele treino, com falta de apoio, com falta de condições, também não é fácil", concluiu.