PARIS – Instantes após apurar-se facilmente para a decisão do triplo salto, Pedro Pablo Pichardo ficou em silêncio perante os jornalistas. Disse que falaria na final.
E falou. Da forma que melhor sabe. A saltar. A saltar longe. A querer saltar para a história e tornar-se no primeiro português a conquistar dois títulos olímpicos. E esteve perto. Ficou a três centímetros de novo ouro, que desta vez foi conquistado pelo espanhol Jordan Díaz, com 17,86.
Pouco mais de um mês de terem tido uma luta acesa pelo título de campeão europeu, Pichardo e Díaz voltaram a ser protagonistas. A diferença esteve nas marcas. Cerca de vinte centímetros abaixo em Paris do que acontecera em Roma.
A saltar atrás do prejuízo
Pichardo foi o último a entrar na pista, depois ter feito a melhor marca da qualificação. Fez uma pequena vénia e seguiu o seu caminho. Zen. A tranquilidade em pessoa. Era essa a ideia que passava antes de iniciar a defesa do título conquistado em Tóquio.
No momento de iniciar a participação, Pichardo ficou de costas para a pista durante uns instantes. À sua frente, uma bandeira portuguesa colocada estrategicamente como que para dar-lhe o empurrão extra que fosse preciso.
Ao rodar e encarar a pista, correu para cair nos 17,79 metros. Saiu da caixa de saltos em primeiro lugar destacado, inexpressivo e foi sentar-se unto à bancada, perto do pai, seu treinador, ficando ali a assistir aos saltos dos adversários.
Quando arrancou para o segundo salto, porém, já tinha caído para o segundo lugar. Jordan Díaz, o espanhol que em junho lhe roubou o título europeu iniciou o concurso com 17,86m.
Não que fosse uma marca inalcançável para dois atletas que há pouco mais de um mês ultrapassaram os 18 metros. Mas Díaz, que tal como Pichardo também nasceu em Cuba, mostrava ali que não ia facilitar nem um centímetro. E que todos iam contar.
O atleta português também não se encolheu atingiu os 17,84m na segunda tentativa. Insuficiente para voltar ao topo da classificação, mas a mostrar que tinha mais para dar.
No abdicar estaria o ganho?
E a luta pelo ouro já se cingia, apenas a Pedro Pichardo e Jordan Díaz. O terceiro classificado, Andy Díaz, igualmente nascido em Cuba, mas a representar Itália, estava a mais de 20 centímetros do segundo lugar.
E o espanhol mostrava uma consistência digna de respeito. Depois dos 17,86m, saltou 17,64m, 17,85 e 17,86m. Tinha os dois melhores saltos do concurso e um terceiro igual ao melhor de Pichardo que fez nulo na terceira tentativa, 17,52m na quarta e, surpreendentemente, abdicou do quinto salto.
Estaria a resguardar forças para ir com tudo na derradeira tentativa? A apostar tudo para a revalidação do título à última, mesmo sabendo que Díaz teria sempre um salto para responder?
Antes de se fazer à pista uma última vez, Pichardo afastou-se para lá do início da pista. A desaparecer do plano das câmaras e testou as pernas. E depois caminhou ao lado da pista de corrida que conhece tão bem. Caminhou para a frente. Voltou para trás. Como que a contar os passos de que precisava para o ouro. Como se não os soubesse de cor.
Preparou-se para o arranque. Fez o salto que parecia poder aproximá-lo dos tais 17,87 de que precisava para o ouro. Saiu com olhar confiante e atirou um punhado de areia ao ar… mas o quadro apontou para 17,81m. E medalha de prata.
O abraço que deu ao pai não foi de desilusão. Apesar de não ter tido também a efusividade de outros dias.
E é justo que uma medalha de prata olímpica tenha sabor agridoce? É quase uma realidade paralela em Portugal. Mas pode. Porque as expectativas eram altas. Eram muito altas. Eram tão altas como Pichardo já mostrou ser capaz de voar.
Até porque o título olímpico fica numa marca que todos sabem que está mais do que ao alcance de Pichardo. Como estaria ao alcance de Díaz fazer mais, obviamente.
Desta vez, o espanhol voltou a sorrir. Haverá resposta de Pichardo? Aos 31 anos, é natural acreditar-se que sim.
O tempo falará depois da final.