PARIS – Devastado.

É duro olhar para um super-campeão e vê-lo derrotado. Não por perder uma prova, mas por sentir que falhou.

E esse era o sentimento de Fernando Pimenta cerca de 20 minutos depois de ter terminado no 6.º lugar a prova de K1 1000 metros, nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

«Trabalhei mesmo muito, fiz uma das melhores épocas, tal como antes do Rio [em 2016]. Parece que quanto mais me esforço, mais depressa o resultado desaparece», começou por lamentar, ainda que assumindo ter a certeza de ter feito tudo o que estava ao seu alcance para que o resultado fosse diferente.

«Não posso estar desiludido ou triste porque tenho a consciência tranquila, dei o meu melhor, mas os atletas que venceram têm todo do mérito», sublinhou.

Aquilo que mais lhe custava, admitiu com a voz embargada, foi o preço que teve de pagar para chegar em Paris 2024 naquela que considerava ser a forma ideal.

«Passei muito tempo longe da minha família. Dos meus pequeninos. Abdiquei de muitos dias com os meus filhotes, só estive com eles um mês neste último ano, se tanto. Falhei as festinhas da escola da minha filha praticamente todas. Isso parte-me o coração. Para depois chegar aqui e não conseguir conquistar o resultado que tínhamos ambicionado», lamentou, de lágrimas nos olhos.

 A desilusão, porém, não vai fazer Fernando Pimenta desistir. Porque ele sente que ainda deve algo aos portugueses.

«Agora, vou estar com a minha família, a desfrutar um bocadinho daquilo que mais abdiquei. Foi o que mais me custou até hoje: deixar os meus filhotes, que sofreram imenso, como devem calcular [emociona-se]. Foram choros e sorrisos, quando eu voltava a casa. Custa-me estar longe deles e ver a minha mulher a ser pai e mãe ao mesmo tempo, e a ter de aguentar o barco. Preciso de agradecer-lhes o apoio, para depois voltar à água para conseguir umas desforras», anunciou, antes de voltar a emocionar-se.

«Sei que vale o que vale. Aqui é que valia. Esta era a medalha que todos os atletas queriam, mas a cabeça sai tranquila», assegura.

Na análise a uma prova na qual liderou de forma clara durante os primeiros 500 metros para começar a perder as forças a cerca de 200 da meta.

«Infelizmente, na parte final, faltaram-me as forças e a energia. Tentei dar mais, mais e mais, mas o corpo não respondia. Acabei afastado do pódio e só tenho de estar agradecido a todos os portugueses que estiveram presentes e que em Portugal estiveram a apoiar», apontou.

O canoísta de 35 anos acredita que o resultado não o vai afetar a imagem que os adeptos têm dele.

«Portugal e os portugueses reconhecem o esforço que tenho vindo a fazer, o legado que tenho vindo a conquistar. Agora é hora de desanuviar um bocadinho a cabeça para depois, durante a próxima semana, voltar ao trabalho», promete.

E não é só em Portugal que reconhecem o atleta que Pimenta é. E isso também enche o português de orgulho.

«Desde que terminei a prova, os treinadores das outras seleções só me têm dito que eu mereceria melhor.  que para eles continuo ser um da canoagem mundial. Quando temos reconhecimento até de equipas técnicas de outras federações com grande peso na modalidade, só temos de estar contentes e felizes com o que conquistámos», assume.

Para terminar, Pimenta deixa uma garantia: vai continuar a lutar e ainda pensa ir a Los Angeles 2028.

«Acho que sim. Tinha amigos que me diziam que se conseguisse ser campeão olímpico, devia terminar a minha carreira, para sair pela porta grande. E a minha resposta foi: ‘não preciso de ganhar mais nada para sair por uma porta grande’. Tudo aquilo que eu já conquistei, fala por mim: os nove títulos mundiais; os nove ou dez títulos europeus… Já me permitem terminar quando eu achar que deve ser», finaliza.