PARIS – Há momentos destes Jogos Olímpicos de Paris 2024 que irão permanecer na memória coletiva dos portugueses. A medalha de bronze de Patrícia Sampaio. A medalha de prata de Iúri Leitão. Talvez, Gabriel Albuquerque, o mais novo da comitiva, a fazer os sonhos saltarem até um ponto quase inimaginável nos trampolins. Quem sabe, aquilo que o triatlo conseguiu e tudo o que promete. Provavelmente, a despedida de Ana Cabecinha da marcha, com a ovação contínua nos últimos quilómetros do Trocadéro.

Mas se tivéssemos direito a opinião num artigo que não é opinativo, diríamos que o momento mais arrepiante destes Jogos Olímpicos aconteceu longe das pistas, das piscinas, dos pavilhões, do rio… No fundo, afastado dos holofotes mediáticos.

Aconteceu ao início da tarde deste sábado, por detrás das bancadas do Centro Aquático Olímpico de Vaires-sur-Marne, com Fernando Pimenta como protagonista involuntário.

Após uma prova dura à qual chegou com o sonho da medalha, mas saiu com um sexto lugar em forma de pesadelo. Depois de falar aos jornalistas e assumir: «Falhei!» Voltar a falar e não segurar as lágrimas a lembrar o pouco tempo que dedicou aos filhos e à mulher para se apresentar na melhor forma em Paris.

Depois de viver tudo isso no espaço de menos de uma hora, Fernando Pimenta só queria «a maior medalha de todas»: o abraço à família, que tinha estado ali nas bancadas, entre dezenas de portugueses, a torcer pelo pai, pelo marido, pelo filho.

E quando foi buscar essa medalha, que em vez de ir ter com o dono no topo de um pódio, o esperava por detrás de uma bancada, numa zona empoeirada, aquele abraço de Fernando Pimenta à mulher fundiu-se numa ovação difícil de descrever.

Fernando e Joana foram envolvidos num abraço em forma de aplausos de centenas (sim, centenas!) de pessoas. De muitos portugueses. Mas ainda de mais estrangeiros. Espanhóis. Franceses. Polacos. Neozelandeses. Todas aquelas pessoas – e só elas – presenciaram um dos momentos mais espontâneos, inesperados e emotivos vividos por um atleta português nestas olimpíadas.

Uma ovação de reconhecimento de um atleta maior do que qualquer medalha. Muito maior do que um país. Nos próximos dias, Portugal pode cobrar-lhe uma medalha que ele não conquistou. Mas Fernando Pimenta recebeu ali a proteção de que pudesse precisar para essa cobrança nem beliscar.

O carinho de que foi alvo, primeiro da família e amigos, depois de centenas de desconhecidos, vai torná-lo imune a qualquer crítica.

Porque durante mais de 20 minutos, nenhuma daquelas pessoas lhe perguntou por medalhas. Apenas lhe pediam um abraço, uma fotografia, ou um autógrafo.

Se alguém, do nada, caísse ali naquele momento, ao ver Fernando Pimenta, iria achar que estava em Ponte de Lima. E ia estranhar as bandeiras espanholas. As francesas. Norueguesas. As camisolas alemãs. Os polos polacos. A forma como o ex-selecionador espanhol e atual responsável da Bélgica agarrou Pimenta na cara e lhe disse, emocionado, que ele não podia desistir.

Provavelmente, ninguém iria perceber aquilo que estava ali a acontecer.

Mas nós vimos. E sabemos. Aquilo era a veneração e o agradecimento a um atleta que já atingiu o estatuto de lenda. Talvez ainda não em Portugal, porque os critérios parecem bastante elevados.

Mas Fernando Pimenta, o português Fernando Pimenta, é uma lenda mundial.

E que lenda! Essa medalha ninguém lha vai roubar.