PARIS – Não era só em busca de mais uma medalha. Não era o pódio que ele tinha na mira. Ou sequer a glória. Desportiva, ou olímpica. Porque tudo isso Fernando Pimenta já tem de sobra. Esses feitos já ele alcançara ao longo de uma carreira longa, feita de pagaiada em pagaiada. De vitória em vitória. De medalha em medalha.

Em Paris, Fernando Pimenta procurava outra coisa. Tentava cravar o nome na história. E sim, também já não precisava de o fazer. Isso está mais do que assegurado. Mas ele queria aquilo que nunca qualquer português conseguira: conquistar três medalhas olímpicas.

Depois de vários títulos Europeus. De inúmeros títulos Mundiais. De medalhas atrás de medalhas. Depois da prata no K2 1000 metros em Londres 2012. Do bronze no K1 1000 metros em Tóquio 2020. O único metal que lhe devia faltar em casa era mesmo um pedaço da Torre Eiffel.

Esse fragmento que cada medalhado em Paris leva para casa ao peito era o metal que lhe garantiria de forma definitiva um lugar na eternidade.

Começou tão bem...

A manhã no Centro Aquático Olímpico de Vaires-sur-Marne, nos arredores de Paris, começou com Teresa Portela a perder por menos de meio segundo o apuramento para a final de K1 500m, cerca de 20 minutos antes de Fernando Pimenta percorrer o dobro da distância.

As expectativas para Pimenta, contudo, eram bem diferentes. E o limiano nem deixou a dúvida formar-se na sua meia-final.

À sua imagem, a três dias de chegar aos 35 anos, o limiano arrancou forte e assumiu desde cedo a liderança da prova.

A precisar de se qualificar entre os quatro primeiros, fez da meia-final uma mera formalidade e até se permitiu a poupar esforços nos últimos 100 metros, ficando em segundo, atrás do húngaro Balint Kopasz, campeão olímpico em Tóquio 2020, quando bateu o recorde mundial da distância.

Três dias antes, quando se apurou também facilmente para as meias-finais, Fernando Pimenta assumira que o apoio que sentiu dos portugueses na linha de partida o tinha feito chorar.

Neste sábado, era na outra ponta da pista, junto à meta, que dezenas de portugueses aguardavam ansiosos. E prontos também eles para chorar. Mas de alegria. Era essa a expectativa de todos aqueles que se fizerram ouvir bem alto no anúncio do nome de Fernando Pimenta.

Na pista 3, o português arrancou bem. Muito bem, aliás! Subiu rapidamente ao primeiro lugar, conseguindo meio barco de vantagem para o segundo classificado nos primeiros 250 metros, diferença que mantinha a meio da prova. A 300 metros do final, porém, começou a perder força. Os rivais cresceram e ele foi-se afundando até aos metros finais.

Numa ponta final absolutamente atípica para Pimenta, a quebra foi tão grande que terminou a cinco segundos do vencedor. E a quatro do pódio! A desilusão de perceber que já não iria a medalha como que o puxou para trás. Tirou-lhe as últimas forças. E ali, ser quarto ou 20.º teria o mesmo valor.

Fernando Pimenta sonhou em Paris. Fez sonhar. Mas acabou mergulhado na realidade. Uma realidade na forma daquele doloroso 6.º lugar.

O checo Josef Dostal é o novo campeão olímpico, ao vencer a prova em 3:24.07 minutos. Adam Varga e Balint Kopasz, ambos da Hungria, foram prata e bronze, respetivamente.

E Fernando Pimenta não perdeu nada. Apenas não ganhou aquilo que, mais do que ninguém, queria ganhar.