PARIS – O bom da vertente de park do skate é que é uma daquelas atividades giras para se fazer em família. É um desporto que pode juntar avôs e netos.

Sim, sim. Pode parecer uma afirmação estranha, mas nada mais verdadeiro.

Nós testemunhámo-lo com os nossos próprios olhos. É tão real como o Obelisco, o Grand Palais e a Torre Eiffel que ajudam a compor o cenário do skate park montado na Praça de La Concorde.

No mesmo espaço onde na véspera as medalhadas na competição feminina tinham 14, 15 e 16 anos, nesta quarta-feira entraram em competição atletas de 51 e 49.

Dá para todos! Haja coragem e queda para as atividades radicais que os capacetes e as joelheiras minimizam as dores.

Vá, talvez avôs e netos seja exagerado, concedemos. Mas percebe-se a ideia.

O representante português, Thomas Augusto, está ali no meio a marcar a estreia do país na vertente, aos 20 anos.

Nascido e criado em San Diego, nos EUA, o 21.º do ranking mundial integra a terceira bateria e sabe que precisa de um dia perfeito para estar entre os oito finalistas.

Com ele tem um dos avôs da competição, o sul-africano Dallas Oberholzer, e quando entra em prova já há seis notas superiores, ou muito próximas dos 90 pontos.

Ou seja, Thomas sabe que terá de arriscar nas manobras e roçar a perfeição em pelo menos uma das três tentativas de 45 segundos de que vai dispor.

Arriscar! Na primeira run, o 21.º do ranking mundial cai logo nos primeiros segundos, num salto que se percebe ser audacioso e que ensaiara várias vezes no aquecimento, sempre sem sucesso.

Na segunda, porém, o exercício é feito sem falhas, mas os 81.75 só lhe valem o 11.º lugar, numa decisão do júri que é recebida com fortes vaias da audiência onde, além de alguns portugueses, há muitos brasileiros, país no qual Thomas tem ascendência.

Vem a última oportunidade e Thomas respira fundo! Arranca para o exercício e percebe-se que vai novamente fazer o tal salto… desta vez volta a não correr bem e lhe acaba com a competição. Thomas ergue os braços, agradece os muitos aplausos que recebe e sai inconsolável rumo a uma sala de atletas por detrás do cenário. Do outro lado da bancada, vê-se que limpa os olhos, reclama com ele mesmo e nem espera para ver acabar a série antes de abandonar o espaço, inconsolável.

No quadro classificativo, vê-se o 11.º lugar naquela segunda tentativa, a única que acertou, e que contas feitas a todas as baterias, lhe valem o 13.º lugar, entre 22 participantes.

Oito horas por dia a treinar 'a' manobra

Apesar de toda a frustração que mostrou depois de competir, quando chegou junto dos jornalistas, Thomas vinha sorridente e contente com a estreia olímpica.

«Andei o que queria andar. Vim aqui focado em acertar aquela primeira manobra, que consegui na segunda volta, e nada mais. E além de acertar ainda acabei a sequência. Por isso, estou feliz, estou mesmo muito feliz! E orgulhoso também de ter Portugal aqui no meu peito», declarou a bater na bandeira estampada no equipamento.

A insistência de Thomas na tal manobra percebeu-se desde o aquecimento, por isso a pergunta era obrigatória: quanto tempo é preciso treinar para fazer aquilo?

«Treina-se milhões de vezes. Milhões! Eu treino oito horas por dia tenho ido para o park de skate só para treinar aquela manobra. Era a manobra mais importante que eu tinha de colocar no exercício e só tive um mês para a aprender. Por isso fiquei oito horas por dia a treiná-la», confidenciou.

E a possível qualificação entre os oito primeiros passava por ali. Tinha de ser!

«Cheguei aqui com um plano que achava que me podia colocar na final. Achei que aquela volta ia colocar-me na final, mas o nível do skate está muito alto. Os meus amigos, que estão a andar aqui comigo, estão a andar muito. Eles acertaram as voltas deles e a minha não deu certo, mas vai dar certo em Los Angeles!», promete.

De Paris, Thomas Augusto leva a experiência, mas também o carinho do público que delirou com a tal manobra apresentada por ele e que não calou a revolta quando a nota surgiu no quadro.

«Claro que queria uma nota mais alta, porque queria apurar-me para a final. Mas isso está só nas mãos do júri. Eu só tenho de me preocupar em andar de skate. Só de ter o público a apoiar-me já é foi algo positivo», terminou.