Isabel Infantes/Reuters

A pugilista italiana que declarou ser injusto competir contra a argelina Imane Khelif, por esta ter níveis de testosterona superiores à média, diz que quer pedir desculpa à adversária. Angela Carini lamenta ter abandonado o combate sem cumprimentar a oponente.

O caso aconteceu nos Jogos Olímpicos de Paris e tem estado a gerar uma onda de controvérsia. As pugilistas italiana e argelina enfrentaram-se no ringue durante menos de um minuto, com Angela Carini a abandonar a prova, após ter sofrido um golpe no nariz. A italiana saiu em lágrimas, declarando que a situação era injusta – tudo porque, a argelina Imane Khelif apresenta níveis de testosterona superiores à média, apesar de admitidos peloComité Olímpico Internacional.

A indignação de Carini foi multiplicada nas redes sociais, com Imane Khelif a ser alvo de insultos e críticas, sugerindo que a atleta argelina não era uma mulher (isto depois de a pugilista ter já sido excluída da competição, no campeonato do mundo de boxe, por, de acordo com a organização, não ter cumprido os “critérios de elegibilidade).

OComité Olímpico Internacional já veio, entretanto, defender Imane Khelif (e outra atleta taiwanesa na mesma situação), afirmando que as atletas passaram os testes de testosterona feitos pelos Jogos Olímpicos e que a decisão tomada, anteriormente, nos campeonatos do mundo tinha sido “repentina e arbitrária”.

"Sinto muito"

Agora, a pugilista que defrontou Imane Khelif no combate que deu origem à polémica mostra-se arrependida do modo como agiu.

A italiana afirma querer “pedir desculpas” à oponente e confessa que a controvérsia está a deixá-la “triste”.

Quero pedir-lhe desculpas a ela e a toda a gente. Eu estava zangada porque os meus Jogos Olímpicos se tinham transformado em fumaça”, afirmou, em declarações ao jornal italiano Gazzetta dello Sport.

“Sinto muito pela minha oponente”, sublinhou, acrescentando que, se voltar a encontrar a argelina, irá “abraçá-la”.

Angela Carini referiu também “respeitar a decisão” do Comité Olímpico Internacional, se este entende que Imane Khelif pode combater contra outras mulheres.

O testemunho de quem já venceu Khelif

A controvérsia em torno do combate de Angela Carini e Imane Khelif começou a gerar conversa sobre o histórico no boxe da pugilista argelina com testosterona elevada. E a verdade é que, se é suposto esta característica hormonal ter-lhe dado alguma vantagem, os números provam que isso nem sempre tem acontecido.

Imane Khelif - que tem competido sempre na divisão feminina e se identifica, desde a nascença, como uma cidadã do sexo feminino - já perdeu combates por várias vezes.

Um deles contra a pugilista irlandesa Amy Broadhurst, que agora reagiu publicamente, perante a polémica nos Jogos Olímpicos de Paris.

“Não acho que ela [Imane Khelif] tenha feito qualquer batota”, defende a antiga oponente da argelina. “Acho que esta é a forma como ela nasceu e que está fora do controlo dela.”

A pugilista irlandesa conclui a defesa da antiga adversária, recordando que esta já foi derrotada por várias mulheres e sugerindo que o facto de ter níveis de testosterona mais elevados não é decisivo na prática da modalidade.

“O facto de ela já ter sido derrotada por nove mulheres diz tudo”, conclui.