Rafael Nadal vai despedir-se do ténis. Antes da Last Dance do tenista espanhol, Roger Federer escreveu uma carta ao amigo.

Rafael Nadal vai despedir-se do ténis após as finais da Taça Davis que se disputam esta semana em Málaga. A Last Dance do tenista espanhol vai jogar-se em solo espanhol, país que abraçou o tenista, e já está a marcar a atualidade.

Ainda antes do último serviço de Rafael Nadal, Roger Federer deixou uma longa e emocionante mensagem ao tenista espanhol com quem partilhou campo e disputou muitos e longos jogos.

Entre elogios e memórias, o tenista suíço relembrou os anos dourados do ténis.

Lê a carta de Roger Federer para Rafael Nadal:

Enquanto te preparas para abandonar o ténis, tenho algumas coisas para partilhar antes de me emocionar.

Vamos começar com o óbvio: tu venceste-me – muito. Mais do que eu consegui vencer-te. Desafiaste-me de uma forma que mais ninguém conseguiu. Em terra batida, parecia que estava a entrar no teu quintal e fizeste-me trabalhar mais do que alguma vez pensei ser capaz só para me aguentar. Fizeste-me reimaginar o meu jogo – chegando mesmo a mudar o tamanho da cabeça da minha raquete, na esperança de obter alguma vantagem.

Não sou uma pessoa muito supersticiosa, mas tu levaste isso para o próximo nível. Todo o teu processo. Todos esses rituais. Montar as garrafas de água como soldados em formação, arranjar o cabelo, ajustar a roupa interior… Tudo isso com a maior intensidade. Secretamente, eu adorava aquilo tudo. Porque era tão único – era tão tu.

E sabes que mais, Rafa, fizeste-me gostar ainda mais do jogo.

OK, talvez não no início. Depois do Open da Austrália de 2004, alcancei o primeiro lugar no ranking pela primeira vez. Pensei que estava no topo do mundo. E estava – até dois meses depois, quando entraste no campo em Miami com a tua camisa vermelha sem mangas, exibindo os teus bíceps, e me venceste de forma convincente. Todo aquele burburinho que eu tinha ouvido sobre ti – sobre este incrível jovem jogador de Maiorca, um talento de geração, que provavelmente um dia iria ganhar um Major – não era apenas um exagero.

Estávamos ambos no início da nossa viagem e acabámos por percorrê-la juntos. Vinte anos depois, Rafa, tenho de o dizer: Que percurso incrível que tiveste. Incluindo 14 Opens de França – histórico! Deixaste a Espanha orgulhosa… deixaste todo o mundo do ténis orgulhoso.

Não paro de pensar nas memórias que partilhámos. A promover o desporto juntos. Jogar aquele jogo em meio relvado, meio barro. Bater o recorde histórico de assistência ao jogar perante mais de 50.000 adeptos na Cidade do Cabo, na África do Sul. Sempre a divertirem-se uns aos outros. A desgastarem-se mutuamente no campo e, por vezes, quase literalmente a terem de se segurar um ao outro durante as cerimónias de entrega dos troféus.

Ainda estou grato por me teres convidado para ir a Maiorca ajudar a lançar a Rafa Nadal Academy em 2016. Na verdade, fui eu que me convidei. Sabia que eras demasiado educado para insistir na minha presença, mas não queria faltar. Sempre foste um modelo para as crianças de todo o mundo e eu e a Mirka estamos muito contentes por os nossos filhos terem treinado nas tuas academias. Eles divertiram-se imenso e aprenderam muito – tal como milhares de outros jovens jogadores. Embora sempre me preocupasse que os meus filhos voltassem para casa a jogar ténis como esquerdinos.

E depois houve Londres – a Laver Cup em 2022. O meu último jogo. Significou tudo para mim o facto de teres estado ao meu lado – não como meu rival, mas como meu parceiro de pares. Partilhar o court contigo naquela noite e partilhar aquelas lágrimas será para sempre um dos momentos mais especiais da minha carreira.

Rafa, sei que estás concentrado na última parte da tua carreira épica. Falaremos quando ela estiver concluída. Por agora, quero apenas felicitar a tua família e a tua equipa, que tiveram um papel fundamental no teu sucesso. E quero que saibas que o teu velho amigo está sempre a torcer por ti e que vai torcer igualmente alto por tudo o que fizeres a seguir.

Isto Rafa!

Felicidades, para sempre teu fã,

Roger