Rúben Amorim deu folga às pretensões de treinador que passa despercebido e que não gosta de festas, muito menos de despedida. Vencido que estava o jogo contra o Manchester City, o técnico disse adeus do Estádio de Alvalade, contornando o anfiteatro onde fez 111 jogos e deixando-se lançar ao ar pelos jogadores. Naqueles instantes em que a gravidade suspende o seu efeito, Rúben Amorim absorveu toda a atenção do mundo. Não era só o público afeto ao Sporting que esteva atento. As imagens dos louvores prestados a Amorim correram o mundo e, como não podia deixar de ser, Inglaterra também viu o cortejo de despedida do próximo treinador do Manchester United.
Ainda antes da oficialização da saída do português para os red devils, a imprensa inglesa já havia feito viajar alguns recursos para Lisboa de modo a perscrutar os motivos que levam um dos clubes historicamente mais relevantes da Premier League a apostar num treinador de 39 anos.
Ao longo do últimos dias, os jornalistas que vieram a Portugal assistiram aos momentos comunicativos mais frágeis da era Amorim no Sporting, mas também aos mais sinceros. Após a vitória contundente frente ao Manchester City, de pazes feitas com os adeptos e aliviado por ter o futuro definido, Rúben Amorim já não tinha nada a esconder. Mesmo com um jogo para realizar em Braga, admitiu que o Manchester United “vai ser um mundo completamente diferente”.
Depois de ter feito o que fez ao Manchester City, Inglaterra vai tentando perceber que impacto pode ter no imediato Rúben Amorim em Old Trafford. O Manchester United continua a perder pontos e está em 13.º lugar na Premier League mesmo que permaneça vivo nas restantes competições – Taça da Liga, Taça de Inglaterra e Liga Europa. O duelo com os citizens, ainda para mais em contexto de Liga dos Campeões, terá mostrado todas as credenciais do treinador. “Amorim colocou a fasquia muito alta para o seu reinado no Manchester United?” É em tom de questionamento que a “Sky Sports” debate as expectativas de que o técnico se possa tornar no próximo Alex Ferguson, mítica figura dos red devils.
O “The Times” equiparou o Sporting-Manchester City a um combate de boxe onde um “peso-pesado deu socos atrás de socos a um campeão cambaleante”. O cenário vivido na capital fez o jornal londrino concluir que “os adeptos do United já sonham após o Sporting de Amorim despedaçar o City”. Noel Gallagher, membro dos Oasis, esteve em Alvalade a comentar o jogo para a “TNT Sports” e já “esperava que não fosse fácil” a equipa da qual é um afamado adepto ganhar em Alvalade. “Sabemos que o Manchester City não está num bom momento, mas não vamos entrar em pânico”.
Certo é que a oficialização de Rúben Amorim deu vitalidade ao Manchester United, pelo menos na forma como a imprensa inglesa olha para o momento do clube. Tanto o “The Times” como a “Sky Sports” deram destaque às declarações de Bernardo Silva após a derrota em Alvalade. “Estamos num lugar escuro, tudo parece estar a correr mal”, lamentou o internacional português. Apesar de ter somado o terceiro desaire consecutivo, o Manchester City está apenas a dois pontos do Liverpool, líder da Premier League, e em zona de acesso direto aos oitavos de final da Liga dos Campeões. Um cenário bastante diferente daquele que, na prática, o Manchester United vive.
Algo que os ingleses já perceberam é que Rúben Amorim deverá manter um estilo de liderança low-key, dando o menos possível nas vistas e repleto de ponderação no entusiasmo que expressa. “Amorim não é um fã natural dos holofotes”, constatou Simon Burnton. No texto de opinião rubricado no “The Guardian”, a publicação britânica diz que foi “relutantemente” que Amorim aceitou que lhe fosse dedicada tanta atenção na despedida de Alvalade. Aliás, a “BBC” deu destaque ao momento em que Rúben Amorim foi “empurrado para a frente dos jogadores do Sporting, enquanto estes davam uma merecida volta de honra” ao mesmo tempo que eram aplaudidos pelos adeptos com o “herói relutante” a encabeçar o grupo. “Estava escrito que tinha que ser assim” foi a frase que a “BBC” destacou em relação da conferência de imprensa pós-jogo de Rúben Amorim.
Porém, a vitória para a Liga dos Campeões, na qual o “The Telegraph” diz que que Amorim deixou o Manchester City “envergonhado”, não foi um one-man show. Afinal de contas, Viktor Gyökeres aproveitou o momento para também se evidenciar, chamando a si algum mediatismo. No período de instabilidade vivido no comando técnico dos leões, Gyökeres marcou dois golos ao Nacional, quatro ao Estrela da Amadora e três ao Manchester City. Não é uma resposta nada má a um momento de pressão. Por isso, Dimitar Berbatov, antigo jogador do Manchester United, já disse que “em algum momento, Gyökeres vai vestir a camisola” do único clube que Amorim não conseguiu rejeitar.
As primeiras páginas que incluíram o treinador não resistiram a encontrar também um espaço para o avançado sueco. Alguns, como o caso do “Mirror”, até deram mais destaque a Gyökeres do que a Amorim. Dentro dos tabloides, o “The Sun” apressou-se a dizer que “talvez Rúben seja realmente o novo Sir Alex”. Será também com as conclusões precipitadas de publicações deste tipo que Rúben Amorim terá que lidar quando abraçar o seu admirável mundo novo.