Samu Aghehowa, jogador do FC Porto, concedeu uma extensa entrevista à agência noticiosa espanhola EFE onde abordou vários temas da sua ainda jovem carreira, como a sua infância difícil, a dispensa por parte do Atlético Madrid e ainda os primeiros tempos no FC Porto.
Memórias de uma infância difícil em Melilla, Espanha: «Muitos futebolistas que vêm de onde viemos sofreram muito. A minha infância não foi muito fácil, foi bastante dura. A minha mãe teve de cuidar da minha irmã e de mim. Ela disse isto, que muitas vezes não tinha o suficiente para que eu fosse treinar e tínhamos de ir andando, às vezes não tínhamos o que comer... É duro, recordo-me disso e emociono-me. Todo esse sacrifício teve recompensa, sabia que ia chegar o momento em que a minha mãe ficaria orgulhosa de mim e todo esse esforço que ela fez por nós teve uma recompensa.»
Sacrifício que agora Samu recompensa: «Graças a Deus, pude tirá-la do trabalho no ano passado e também pude comprar-lhe uma casa, para que ela desfrute do que no passado não pôde desfrutar. Estou muito contente, porque todo o presente fica curto para o que ela fez.»
Quem foi o seu ídolo de infância? «Gostava muito de Samuel Eto’o e vejo-me refletido um pouco nele. Oxalá tenha, pelo menos, a metade da carreira que ele teve.»
Verão complicado, apenas atenuado pelo ouro nos Jogos Olímpicos: «Por causa do ouro não foi tão amargo. Mas sim, foi um verão muito complicado. Quando estive no Atlético de Madrid, passei muito mal. No final, graças a Deus correu tudo bem. Se o Chelsea não deu certo, foi por algum motivo e, no final, correu tudo bem.»
Atlético de Madrid: «Lá treinava à parte. Não me sentia parte [do grupo], não como jogador. Treinava e a minha cabeça dizia que não. Passei mal. [passei] Muitas noites a chorar... A minha família e a minha mãe passaram muito mal... No final, graças a Deus, tudo ficou fechado rapidamente e tomei a melhor decisão.»
Não deram explicações, no Atlético de Madrid, para não contarem consigo? «Não. Ninguém falou comigo e eu não falei com ninguém. Continuava a ser jogador do Atlético de Madrid, tinha de ir treinar e jogar. Já sabia a posição do clube. São coisas que acontecem no futebol e que te fazem ganhar experiência e aprender para o futuro.»
Estreia na La Liga depois de experiência em escalão abaixo: «O tempo passou muito rápido. Falo disso com os meus amigos. Às vezes não assimilamos e, quando as coisas não saem [como queremos], esquecemo-nos de tudo o que passámos e não valorizamos onde estamos. E é preciso agradecer sempre a Deus, ser grato e valorizar cada minuto onde estamos e eu estou a viver um sonho. Posso viver e desfrutar do que sonhei desde pequeno.»
Arranque em grande no FC Porto, com sete golos em sete jogos: «Estou contente com a forma como começou a temporada. Cheguei a um clube e a uma equipa em que encaixei bem com as minhas caraterísticas. A uma equipa ofensiva e que gosta de jogar futebol e ao melhor clube de Portugal, no qual vamos lutar por títulos.»
Como valoriza a I Liga portuguesa? «É verdade que as pessoas ainda pintam a Liga portuguesa como se fosse, não sei, com todo o respeito, a terceira divisão espanhola. Mas há jogadores de muito nível, pelos quais se pagaram muitos milhões e há equipas que têm um grande nível. Obviamente não é a Liga espanhola, mas não há que menosprezá-la.»
Por que razão decidiu rumar ao FC Porto? «Desde o primeiro minuto que se viu o interesse que eles tinham em mim. O presidente veio a Madrid para contratar-me e disse-me que não ia embora sem me contratar. É isso que um jogador precisa, que se demonstre confiança. Dou graças ao presidente e ao clube pela aposta que fizeram em mim.»