O mercado de transferências já fechou em Portugal, mas a agitação continua. Seja porque o Benfica confirmou a saída de João Mário e vai ter Bruno Lage como novo treinador, seja porque foram muitas as notícias nos últimos dias sobre um defeso que movimentou milhões e que pode ditar o rumo de Sporting, FC Porto e Benfica na época.
Sporting segue a receita: investe muito em poucos
O Sporting era, entre os três ditos clubes grandes do país, o que menos precisava de reforços. O atual campeão tem a melhor equipa, o melhor jogador da Liga - Gyökeres - e o trabalho mais consolidado, com Rúben Amorim no comando pela quinta época consecutiva.
Ainda assim, os leões procuravam uma alternativa para Gyökeres, depois da saída de Paulinho. O tão esperado avançado chegou no último dia. Não foi Ioannidis, mas Conrad Harder, dinamarquês de 19 anos, que tem perfil semelhante ao do goleador sueco - potente, forte nos duelos, bom remate.
Trata-se da segunda contratação mais cara do clube, atrás apenas do próprio Gyökeres. Um perfil no mercado que já começa a ser marca do Sporting, que investiu 115 milhões de euros em oito reforços nos últimos dois verões, tanto como em 35 jogadores nos quatro defesos anteriores.
Por 15,50 milhões, Zeno Debasté o grande reforço do setor defensivo, após as saídas dos veteranos Coates e Neto. O internacional belga foi titular apenas uma vez, na Supertaça contra o FC Porto, quando ficou marcado por um erro grosseiro.
Com 20 anos, o ex-Anderlecht, confortável com bola a criar desde trás, terá tempo para se desenvolver em Alvalade - até porque Eduardo Quaresma, que segurou o lugar no onze ao lado de Diomande e Inácio, tem dado garantias a Amorim.
O Sporting contratou outros dois jogadores: Maxi Araújo (13,6ME) para a ala esquerda e Vladan Kovacevic (4,8ME) para a baliza.
Apesar de ter vendido dois jovens com potencial, Mateus Fernandes e Issahaku Fatawu, termina o defeso sem perder qualquer peça chave do onze inicial. Frederico Varandas cumpre a promessa que fez a Amorim, que assumiu desde os festejos do título o novo objetivo: o bicampeonato.
O surpreendente mercado do Porto
O FC Porto era a equipa mais condicionada no mercado, por causa das limitações financeiras que André Villas-Boas nunca tentou esconder. A aposta na formação era previsível, bem como a prudência nos gastos, mas são surpreendentes os movimentos cirúrgicos que os dragões foram fazendo nas últimas semanas.
Era quase certo que pelo menos um grande nome seria vendido. E assim foi. Evanilson saiu para o Bournemouth por 37 milhões de euros, mais 10 em variáveis, e entrou para as 10 maiores vendas do clube.
Para o lugar do brasileiro, o FC Porto surpreendeu tudo e todos ao anunciar Samu Omorodion, avançado de 20 anos do Atlético Madrid, que esteve com um pé no Chelsea este verão. Os dragões pagaram 15ME por 50% dos direitos económicos do jogador, forte e rápido a atacar a profundidade.
O ‘espalha brasas’ Francisco Conceição, em alta depois da última época e com o estatuto de internacional português, tinha o futuro incerto no Dragão, principalmente com a saída atribulada do treinador e pai, Sérgio Conceição.
O empréstimo sem opção de compra à Juventus, que vai render 7ME aos ‘dragões’, é o melhor dos negócios possíveis. Tendo em conta o investimento, a tendência é que ‘Chico’ tenha minutos e volte valorizado de Itália. O facto de ter estado lesionado no arranque da época fez com que Vítor Bruno preparasse a equipa sem o pequeno craque.
Uma vez mais, a reposição surpreendeu:Fábio Vieira, também ele produto do Olival, regressa ao clube dois anos depois, emprestado pelo Arsenal, por 700 mil euros. O médio, sendo muito diferente de Conceição, é sinónimo de criatividade perto da baliza e mantém o laço de ligação com os adeptos, que valorizam a volta de um jovem da formação.
A aquisição de Francisco Moura, um dos melhores, senão o melhor lateral esquerdo em Portugal na época passada, veio reforçar o bom mercado do clube. O ex-Famalicão chegar para disputar posição ou fazer companhia a Galeno no lado esquerdo. O brasileiro, afinal, fica no Dragão, após cair o negócio para a Arábia Saudita, que envolvia 50 milhões.
De resto, o FC Porto vendeu jogadores não imprescindíveis, como David Carmo e Toni Martínez, e comprou para reforçar setores carenciados: Nehuén Pérez e Tiago Djaló (empréstimo) para o eixo da defesa e Deniz Gül para o ataque.
Ninguém sabe o que vai acontecer ao Benfica
Dos três, o Benfica vive o momento mais conturbado dentro e fora do relvado. O mercado fica marcado por diversas saídas - que resultaram num encaixe perto dos 140 milhões - e pela troca de treinador. Roger Schmidt foi despedido após quatro jornadas e Bruno Lage foi o escolhido para suceder o alemão.
João Neves, que saiu para o PSG por 59.9ME, foi a grande baixa da temporada, após a ascensão meteórica na Luz, mas não foi o único ativo importante a deixar o clube. Marcos Leonardo e David Neres, dois jogadores que muito prometiam mas pouco espaço foram tendo com Schmidt, transferiram-se para o Al Hilal e o Nápoles, por 40ME e 28ME, respetivamente.
Rafa Silva, jogador que fica marcado na história recente do clube, saiu para o Besiktas após o fim do contrato. Morato, central que baixou o nível esta temporada, também foi embora, rumo ao Nottingham Forest. Já Di María, cujo futuro esteve indefinido durante muito tempo, acabou por ficar - e o mesmo não aconteceu a João Mário, que dá adeus ao clube já depois do fecho do defeso em Portugal.
No sentido inverso, o Benfica não gastou nada perto das três vendas mais sonantes, mas trouxe vários jogadores que vão agora trabalhar sob às ordens de Bruno Lage. Vangelis Pavlidis, que mostrou desde a pré-época um faro aguçado de golo, mas também colabora em apoio, foi o reforço mais caro (18ME) e tem sido um dos mais influentes.
Álvaro Carreras também se tem destacado na lateral esquerda, órfã desde a saída de Grimaldo. Leandro Barreiro, que chegou a custo zero, é outro que vem sendo aposta no onze inicial, ao lado de Florentino no meio campo. Ambos têm a sombra de Renato Sanches, que entrou bem no empate contra o Moreirense. O ‘Renatinho’ já não é aquele ‘Golden Boy’ de 2016, mas gera natural expectativa nos adeptos.
No último dia do mercado, Kerem Akturkoglu assinou alguns documentos ainda no aeroporto, para que o negócio fosse fechado a tempo. O turco é uma alternativa aos avançados que deixaram o Benfica e joga preferencialmente à esquerda. Também chegaram ao clube Benjamín Rollheiser, Jan-Niklas Beste e Issa Kaboré.
O plantel das águias parece ter enfraquecido desde o início do mercado, mas não deixa de haver talento disponível. A grande incógnita é como esses jogadores serão aproveitados por Bruno Lage, um treinador que chega sob enorme pressão ao clube, sem tempo para implementar rotinas ou margem para desperdiçar pontos.