A chegada adiantada dos guarda-redes ao aquecimento garante-lhes alguns minutos de destaque exclusivo na imensidão de relvado ainda à espera de ser colmatada com a presença dos jogadores de campo. Os detalhes da preparação de Marc-André Ter Stegen merecem ser perscrutados. Calibrar os pés, para um jogador que tanto os usa durante o jogo, é um seguro contra o risco. Posicionadas na linha da pequena área estão as bolas que se prepara para pontapear. Enquadra-se frontalmente com elas não dando a entender se vai usar o pé direito ou o pé esquerdo para as golpear. Ora com um, ora com outro, vai variando a distância a que as coloca. Todas caem no alvo pretendido.

As aprimoradas capacidades para estar no posto de vigia ao interior dos três ferros tornam-no num dos mais completos ocupantes do cargo a nível mundial. É que além do jogo de pés, a altivez em frente à baliza, a postura hirta – de peito feito – que não se desfaz até ao corpo se decidir por voar ou não, elevam-no ao patamar de protótipo técnico.

Há 11 épocas que o Barcelona conta com a preponderância de Ter Stegen na baliza. O emblema blaugrana terá agora que aprender a viver sem ela. Na disputa de um lace aéreo, o alemão lesionou-se com gravidade frente ao Villarreal e deve falhar o resto da temporada devido a uma rotura do tendão rotuliano do joelho direito.

Logo após a vitória por 5-1 no Estádio de La Cerámica, Hansi Flick antecipou um diagnóstico desfavorável: “Parece uma lesão grave.” Confirmadas as perspetivadas do treinador, o clube catalão é o principal afetado. Refém da ausência do seu guarda-redes titular, o Barcelona terá que decidir se vai ao mercado em busca de um jogador livre que o substitua (tem um mês para o fazer) ou se vai aguardar pela janela de transferências de janeiro.

“Não nos sentimos pressionados a ir ao mercado”, adiantou Hansi Flick, que apostará em Iñaki Peña nos próximos jogos. Na época passada, o espanhol da cantera do Barcelona participou em 17 jogos, enquanto Ter Stegen recuperava de uma lesão nas costas, o que incluiu presenças na Liga dos Campeões.

Apesar da total consagração a nível clubístico, Ter Stegen viveu na sombra de Manuel Neuer na seleção. Aos 32 anos tem 42 internacionalizações pela Alemanha, é certo, mas a maioria delas (25) são em jogos amigáveis. Neuer anunciou este verão, após o Euro 2024, que não vai voltar a representar a mannschaft. Tornava-se então previsível que Ter Stegen se apoderasse finalmente das redes alemãs no ciclo até ao Mundial, onde se pode estrear numa grande competição. Há margem de manobra para recuperar da lesão no joelho e voltar à melhor forma, mas, para já, essa afirmação fica adiada.

“Dentro e fora de campo, sentiremos muita a falta dele na seleção nacional. Estaremos sempre ao seu lado até voltar”, afirmou o treinador da Alemanha, Julian Nagelsmann. A opção para os próximos jogos, contra Bósnia e Países Baixos, deve recair sobre Oliver Baumann (Hoffenheim) ou Alexander Nübel (Estugarda).

Ter Stegen não é a única baixa relevante para o futebol internacional. Os problemas físicos devem igualmente afastar Rodri até ao final da temporada. Perspetiva-se que o médio do Manchester City tenha rompido o ligamento cruzado anterior do joelho direito e que o período de recuperação seja alargado.

O lance que, frente ao Arsenal, motivou a lesão do internacional espanhol foi pouco aparatoso pelo que o motivo do desfecho prejudicial para o centrocampista não é óbvio. Curiosamente, Rodri é um dos jogadores mais sobrecarregados com jogos e foi um dos primeiros a concordar com a possibilidade de uma greve para combater a densificação do calendário competitivo.

“Este ano podemos chegar aos 70, 80 jogos, dependendo do quão longe chegarmos nas competições. Na minha humilde opinião, é demasiado”, analisou o jogador de 28 anos. O infortúnio vai impedi-lo de andar sequer lá perto.