Tinham falta de futebol, sentiam saudades de jogos neste calendário sobrecarregado com eles? Então tomem lá um encontro de campeonato que poderia ser uma eliminatória, tal a extensão do período de descontos. 10 minutos numa parte, 10 minutos noutra, reviravoltas, casos, golos aos 98', expulsões.

Na verdade, um desafio que começa com pedidos de expulsão aos 10 segundos e acaba com pedidos de expulsão ao minuto 100 só poderia ter, entre esses dois momentos, a natureza caótica deste Manchester City-Arsenal. O 2-2 final sela um empate que mantém os tetracampeões no topo da tabela, com 13 pontos, mais um que Liverpool e Aston Villa e mais dois que o Arsenal.

Com rigor, ninguém sairá satisfeito da tarde do Etihad. O City pensará que desperdiçou uma parte inteira com mais um, largos minutos em que foi uma das piores versões do City de Guardiola: uma equipa sem rasgo nem inspiração, incapaz de derrubar a muralha que os gunners ergueram após a expulsão de Trossard.

A sério que os tetracampeões não tinham um recurso melhor para marcar do que remates de fora da área de Rúben Dias, autor de cinco disparos sem qualquer perigo em todo o desafio? O Arsenal constará que esteve a segundos de um triunfo épico, batendo a grande força dominante do futebol inglês, fora de casa, depois de estar uma parte inteira com 10.

James Gill - Danehouse/Getty

Antes do monólogo da segunda parte, a primeira foi de acontecimentos atrás de acontecimentos, de estar sempre a tirar notas do que ia sucedendo. Um pedido de vermelho aos 10 segundos? Houve (pedido de agressão de Havertz a Rodri). Golos? três. Amarelos? quatro. Vermelho? Um. Lesão? Sim, e logo de Rodri, o farol do futebol do Manchester City.

A equipa de Guardiola entrou em grande. Aos 15', quando os campeões somavam um golo e mais duas oportunidades claras, nada fazia prever as dificuldades que seguir-se-iam. Aos 9', Savinho recebeu e enquadrou com classe e intenção, lançando Haaland para uma corrida do norueguês na pradaria. Como de costume, acabou em golo.

Gündoğan ainda acertaria, de livre, no poste, mas, depois dos 20', o encontro mudou para o Manchester City. Na montanha-russa da etapa inicial, duas ações seguidas tiraram força aos homens de Pep, que abalaram: primeiro foi Rodri a sair lesionado, entrando Kovacic para o lugar do espanhol, depois foi Calafiori, no primeiro remate — e praticamente no primeiro ataque — do Arsenal na partida a apontar o 1-1. O italiano fez a bola descrever um arco, afastando-se de Ederson e aproximando-se da glória.

Os locais acusaram o golo. Perderam fluidez com bola, ganharam nervos e equívocos. E, à medida que o City deixava de ter o brilhantismo dos primeiros 15', erguia-se, no banco do Arsenal, o maior pesadelo dos adversários dos gunners.

Nicolas Jover é o treinador de bolas paradas do Arsenal. Levanta-se a cada canto, observando como a equipa coloca em prática os desenhos que lhe saem do laboratório, uma sucessão de bloqueios e artimanhas e movimentos e contra-movimentos.

Foi assim que Gabriel decidiu o dérbi do norte de Londres contra o Tottenham. Foi assim que Gabriel se elevou para apontar o 2-1. Na linha lateral, Jover, candidato a MVP da Premier League 2024/25, festejou efusivamente como um mago cujo feitiço acabara de resultar, um mestre da magia negra que atormenta quem está do outro lado.

Já chegava de emoção para a primeira parte? Bem, não. O intervalo só chegou ao décimo minuto de compensação e, até lá, ainda houve tempo para Trossard ver o segundo amarelo e ser expulso. Após o caos do primeiro tempo, o segundo seria de monólogo.

Arteta tirou Saka e colocou Ben White, instalando a sua equipa à frente da área. Viu-se uma partida de andebol no Etihad, com o City circulando a bola de um lado para o outro, mas tendo muitas dificuldades para criar perigo.

Bola para um lado, bola para o outro, cruzamento sem perigo. Bola para a entrada da área, remate de Rúben Dias para a bancada. O futebol dos tetracampeões era qualquer coisa como isto. Quando melhorava, Raya confirmava o seu grande momento e defendia.

Parecia que o Arsenal ia sacar o triunfo, uma vitória muito importante na luta por quebrar a hegemonia da máquina de vencer de Manchester. Só que, aos 98', após um canto curto trabalhado por Grealish, Stones caçou um ressalto e rematou para o 2-2. Como tudo aconteceria nesta partida, não se ouviu logo o apito final, ainda havia espaços para mais uma confusão, mais uns empurrões, mais casos. E lá se deu o empate que não deixou ninguém satisfeito.