O treinador do Arouca, Vasco Seabra, analisou hoje o reencontro de Armando Evangelista, agora técnico do Famalicão, com os arouquenses, na 11.ª jornada da Liga Betclic, considerando o seu adversário uma "figura incontornável" dos 'lobos'.
É o reencontro do Arouca com o técnico Armando Evangelista, por isso, que Famalicão espera encontrar?
"Um Famalicão forte. Está a fazer um início de época forte, muito poucas derrotas, no seu campo só perdeu com o Sporting, por isso é uma equipa muito forte. No seu campo joga muito com o envolvimento dos adeptos e individualmente é muito capaz. Obviamente vamos com a ambição de ganhar e espero que o Armando [Evangelista], que é um amigo pessoal, fique muito triste no final, não é nada de especial, faz parte do futebol. É uma figura incontornável do clube e ainda bem que o é, sinal de que passou cá e teve sucesso tanto para o clube como para ele, por isso, é um feliz reencontro. O essencial é forcarmo-nos em nós e sabemos que vamos ter um adversário muito difícil, muito capaz, tanto individual como coletivamente, portanto, temos de estar no nosso melhor como temos vindo a falar desde a nossa chegada. É preciso ter competitividade interna para depois podermos ser altamente competitivos nos jogos e com uma vontade muito grande de ganhar cada duelo, cada lance e cada minuto de jogo, cada metro de relva. O importante é ganhar tudo aquilo que vamos disputando, sermos altamente competitivos e ter vontade de jogar para ganhar."
Tem mais uma semana com o plantel. Foi suficiente para assimilar outros processos, sente melhorias?
"Sim. Realmente, em jogo [frente ao Braga], já conseguimos sentir ideias que passamos e essa identidade que procuramos também. Uma identidade vencedora, de jogar para a frente, de querer atrair o adversário, até porque temos jogadores com características individuais para o fazermos. Ao mesmo tempo, temos de ser capazes de sermos dominantes no último terço do adversário, não só no primeiro, e sermos capazes de criar diversas situações de golo, tal como fizemos contra o Braga. Isto demora tempo até conseguirmos que as coisas sejam feitas não de cor, porque não queremos isso, mas que as coisas estejam bem entranhadas em nós. Estas relações, estas ligações, esta mentalidade vencedora, esta mentalidade agressiva e competitiva é uma coisa que sabemos que demora o seu tempo. Independentemente disso, não nos refugiamos nisso e olhamos para os jogadores com essa ambição e esse orgulho. Já ficamos muito felizes no último jogo com a aproximação àquilo que queremos. Claro que com mais quatro treinos sentimos que voltamos a dar um passo em frente e temos expectativas positivas daquilo que somos capazes de fazer e que poderemos produzir em Famalicão. Vamos com o tempo que sentimos que é sempre curto. O treinador precisa sempre de mais tempo para poder aproximar-se dos jogadores e das ideias que pretendemos, mas com uma ambição grande e uma confiança também grande, essencialmente, naquilo que os jogadores estão a produzir, na forma como se estão a integrar e a inteirar das nossas relações e a produzirem os valores comportamentais que pretendemos para a equipa."
Assim como o Armando Evangelista já esteve aqui, o Vasco Seabra também já esteve em Famalicão. Como é reencontrar uma equipa pela qual já passou, mesmo já tendo passado bastante tempo?
"Já foi há alguns anos, é sempre diferente até porque já nenhum jogador faz parte desse plantel. Independentemente disso, reencontram-se pessoas e culturas que vivemos. É especial voltar, mas mais especial ainda é, no final, trazer os três pontos para Arouca e virmos felizes. Naquele jogo que fiquem tristes e que sejam depois felizes no resto da temporada. O mais importante é realmente focarmo-nos nos nossos, criar estas relações e ligações e sentirmos o apoio dos adeptos no final do jogo. Apesar da derrota, sentimos que estiveram connosco, que sem aproximaram de nós e é uma mensagem que também queremos ter muito presente com eles, que é esta ligação. Somos poucos enquanto número, mas sabemos que com a força uns dos outros somos capazes de ser mais fortes e de competir de forma melhor."
Do jogo frente ao Estoril para o jogo contra o Braga houve essa mudança competitiva e de agressividade. A partir daqui a equipa tem a obrigação de conquistar mais pontos?
"Sim, a nossa obrigação e agradeço o comentário, até porque também é a nossa opinião, é essa mentalidade de querer ganhar e esse jogo mais agressivo. É uma das coisas que queremos introduzir porque está relacionado connosco. Não quer dizer que para trás estivesse mal ou o que quer que seja, não tem a ver com isso. Tem a ver com formas de estar diferentes, que procura, naturalmente, outras coisas e essas são coisas que procuramos, vamos atrás. É um ponto de partida inicial que nos deu o orgulho da parte final do jogo e de no final do jogo ter dito isso acerca dos nossos jogadores. Não interessa se jogamos contra 1.º classificado ou contra o último, a nossa mentalidade terá de ser a mesma. Provavelmente vamos ser mais dominadores em determinados jogos do que noutros, isso faz parte do processo e também do que o adversário no permite fazer e nós permitimos que o adversário possa fazer. Independentemente disso, é a forma como encaramos o jogo, a forma como encaramos o treino, a forma como encaramos os lances, a forma como todos os dias jogamos para ganhar e competimos. As coisas podem não correr bem porque nem sempre nos vai correr bem. Por vezes vamos falhar um passe, por vezes vamos falhar um golo, por vezes a nossa abordagem a um lance ou outro não será a melhor, mas a postura, a atitude e a predisposição com que vamos para as coisas é a nossa identidade e é disso que não abdicamos. Esses princípios e esses valores são inegociáveis. O risco faz parte do jogo, queremos arriscar, queremos ser ambiciosos a esse ponto, mas desses princípios, postura, batalha, o ser competitivo, o jogar para ganhar, não queremos abdicar."
Neste momento, a par com o Nacional, o Arouca tem o pior ataque da liga. O Sylla no jogo passado marcou e o Famalicão é das "vítimas" preferidas do guineense. Vai ser titular?
"Não faço esse tipo de abordagem [risos]. Percebo-a e é natural da vossa parte, é sinal que fazem um bom trabalho, mas, para nós e para mim, o importante é como é que ele treina. O jogo é importante, é um momento importante, mas depois, todos os dias, são momentos muito importantes. Temos um plantel extenso, mas temos um plantel com qualidade e aquilo que lhes passo todos os dias não posso só dizer-lhes de boca. Eles têm de competir no limite. Quem não competir no limite está mais pronto para não jogar. Quem competir no limite está preparado para jogar. Depois se dos 27, de campo e que temos disponíveis para ir a jogo, todos treinarem num nível alto, então aí vamos à questão mais estratégica para o jogo, à questão de poder aproveitar a fragilidade do adversário ou não, à questão de na nossa forma de jogar este ou aquele encaixar melhor. Estas são as decisões que quero ter enquanto função de cada jogo e de cada adversário. Agora, o treinar, o trabalhar e o andar no limite são as dores de cabeça que eles têm de me dar para poderem depois estar preparados para as oportunidades, ou melhor, para as decisões que o treinador toma para ajudarem a equipa. Esse é que é o princípio basilar: ajudar a equipa. O que é que eu tenho de fazer? Ajudar o Arouca. Como é que o faço? Trabalhando no limite. E depois o treinador toma a decisão. Eu entro um minuto ou jogo cem, a minha proatividade tem de ser a mesma e o Sylla, felizmente, entrou no jogo e demonstrou muita vontade de ajudar a equipa e ajudou. Está convocado para amanhã e, se jogar, que possa fazer quatro golos, um poker, e ficamos todos felizes."
O Nacional venceu e empurrou o Arouca para a posição de play-off. Apesar de ainda ser uma fase prematura do campeonato, deu uma preocupação crescente?
"É uma pergunta natural, mas vão começar a conhecer-me e a perceber que é uma das coisas para as quais olho pouco: a tabela classificativa, principalmente numa fase tão inicial da época. Tal como vos disse anteriormente, tem a ver com a nossa mentalidade. Não pode ser se estamos em antepenúltimo ou em primeiro. Não podemos mudar a nossa mentalidade, ou seja, se queremos jogar para ganhar, isso implica que quando estamos em antepenúltimo ou em primeiro temos de jogar para ganhar. Jogar para ganhar implica ser altamente agressivo, altamente competente, estar disponível para aquilo que são as informações que os treinadores passam, a forma como também nos mostram essa necessidade de querer aprender, crescer e evoluir o nosso jogo como equipa. Por isso, mais do que a posição na tabela e muito menos nesta fase, tem a ver com os valores que estamos a querer cultivar juntos, a forma como jogamos para ganhar e a forma como, obviamente, em termos de classificação queremos cresce passo a passo, subindo degraus. Mas queremos subir degraus sabendo que existe um processo porque, apesar de querermos sempre ganhar, não queremos que esse ganhar seja um ganhar ocasional porque um jogo aconteceu e na loucura e na paixão acabamos por conseguir ganhar. Não. Queremos que esse processo seja um processo onde saibamos para onde queremos ir e que vamos com tudo aquilo que temos, essa ambição e essa mentalidade."
Como o treinador Armando Evangelista treinou alguns jogadores deste plantel do Arouca, isso pode trazer alguma vantagem para o adversário?
"A vantagem é diminuta. É uma coisa mais até emocional porque a gente acaba por rever pessoas que foram importante para nós. Tenho a certeza que para o David [Simão], para o [Tiago] Esgaio, para o Sylla, para o Quaresma, possa ser interessante o reencontro, dar um abraço, tal como para o Armando [Evangelista] com eles e a equipa técnica porque foram momentos importante em que lutaram juntos por determinados objetivos. Tirando isso, tenho a certeza absoluta que tanto de um lado como do outro, os jogadores conhecem a forma como o Armando [Evangelista] pensa e ele sabe como eles jogam, toda gente neste momento faz análises muito profundas e procura perceber todas as questões que acontecem durante o jogo e tentamos prever o que possa vir a acontecer. Acredito que é um fator mais emocional até ao momento em que se encontram no estádio e se cumprimentam e a partir do apito do árbitro, tenho a certeza, é uma vantagem ou desvantagem que se desvanece porque são 90 minutos de luta, de trabalho e dedicação muito centrados nas relações coletivas que estão nos diferentes clubes onde estão. Por isso, não me parece que seja algo muito significativo."
O Arouca tinha um esquema bastante definido anteriormente, 4x2x3x1, e com o Braga acabou quase com uma linha de cinco na frente.
"Até já tive a oportunidade de dizer isso aos jogadores, atualmente olho muito pouco para a questão dos sistemas porque acredito que a nossa equipa tem de dar uma cultura diferente em termos de jogo e ser capaz de jogar em diferentes formas, sejam elas com um mais dois ou dois mais um. Aquilo que procuramos é que a equipa tenha entendimento suficiente para conseguir que em determinados jogos, com determinada forma de pressionar que nos expõe em espaços, vamos fazendo ajustes para que a equipa se sinta mais cómoda e consiga encontrar espaços de uma forma melhor porque dizemos sempre que os espaços estão lá e temos de ir à procura deles. E às vezes também temos de ser nós a provocar esses espaços e como é que os provocamos? Muitas das vezes com o nosso posicionamento ou com a nossa atração da bola para conseguirmos entrar noutros espaços. Olhando para o plantel, acho que está bem estruturado para essa forma de jogar inicial, mas acredito que a equipa tem capacidade e margem para poder ser mais mutável e poder ir alterando sempre que sentirmos que há capacidade para o fazer porque os jogadores tem diferentes características e sentimos que podemos aproximar-nos mais delas."
Junto do autocarro do Arouca vai também um autocarro de adeptos. O que acha da iniciativa?
"Em primeiro lugar, não sabia dessa campanha e, por isso, quando a vi, tenho de admitir que fiquei muito satisfeito com o André [diretor de comunicação] e com as pessoas do Arouca. Acho uma iniciativa extraordinária e esta nossa entrada ter este presente da administração é uma coisa que nos orgulha porque é uma ligação que queremos construir, nós com os adeptos e os adeptos connosco. Temos de ser exigentes porque não há ninguém mais exigente do que nós naquilo que queremos fazer, mas também sentimos essa exigência dos adeptos e juntos queremos fazer algo diferente e melhor. A força deles, quer sejam dez, cem ou mil, toda essa força acabamos por senti-la e esse calor acaba por nos aproximar. Há coisas que são emocionais, que tem a ver com a nossa cabeça e sentirmos que está lá a nossa gente dá-nos um fator extra que nenhum treinador consegue dar porque é algo que vem de dentro, da parte mais emocional, olharmos para a bancada e ter alguém a torcer por nós. É um fator motivacional acrescido e, assim como as nossas exibições, queremos que vá crescendo todos os jogos para ter essa energia connosco."
Ter três laterais esquerdos complica as escolhas?
"É naturalmente difícil para o treinador e para os jogadores porque os três trabalham muito bem. Nessa posição em particular posso falar dos três. Os três têm características diferentes e queremos introduzir-lhes competitividade. Podem jogar diferentes opções em diferentes jogos. Como falei, perante as características de alguns deles, perante aquilo que projetamos também do adversário e perante aquilo que podemos tentar fazer, é bom para o treinador ter diferentes opções mediante as coisas que quer introduzir no jogo"