É uma "nova visão sobre temas fundamentais para o futuro da UE", que põe no centro das prioridades a competitividade, mas também a reindustrialização, a produtividade, a inovação e a sustentabilidade. Temas fundamentais para construir "uma nova e ambiciosa estratégia de desenvolvimento da Europa, centrada na competitividade", considera a Confederação Empresarial de Portugal (CIP), que aplaude o relatório Draghi, ontem apresentado.

"O documento apresenta orientações concretas sobre as grandes apostas que a Europa deve fazer para se adaptar ao novo contexto geopolítico e para dar resposta aos grandes desafios do mundo contemporâneo e do próprio projeto europeu", realça o diretor-geral da CIP, Rafael Alves da Rocha, reagindo às propostas e conclusões apresentadas no relatório "The Future of European Competitiveness", coordenado pelo ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi.

Para a CIP, "o relatório Draghi consubstancia uma mudança clara no pensamento europeu, justamente porque volta a colocar a competitividade no centro de políticas promotoras de prosperidade, sustentabilidade, bem-estar, democracia e coesão social na Europa. Neste sentido, o documento estratégico apresentado em Bruxelas pelo antigo primeiro-ministro italiano vai ao encontro do modelo de crescimento e desenvolvimento que a CIP preconiza para Portugal e para a União Europeia (UE), designadamente no seu Pacto Social."

A CIP vinca que "tem vindo a alertar insistentemente" para a perda de competitividade europeia ao longo das últimas décadas, tal como acontece com outras entidades de peso representativas do tecido económico, incluindo a Associação Business Roundtable Portugal e o Fórum para a Competitividade, "com um claro agravamento em anos recentes". A confederação vinca mesmo que, fruto da recente falta de atenção, a UE regista hoje "um preocupante gap face a outras grandes potências económicas mundiais, fruto de um insuficiente investimento em I&D+i, de uma crescente dependência externa de matérias-primas, da escassez de talento com competências digitais e da morosidade na descarbonização da economia, entre outros fatores".

Por tudo isto, a CIP defende que é preciso recentrar a ação europeia em iniciativas que reforcem a economia dos 27 e congratula-se por essa visão ser agora alargada a nível europeu. "Este é um momento oportuno para pôr em marcha ações tendentes a reverter a perda de competitividade europeia e a permitir que as empresas europeias explorem todo o seu potencial. De outro modo, a UE não logrará assumir uma posição de liderança na transição digital e energética, na economia verde, no combate às alterações climáticas, nas transformações laborais, na industrialização 4.0, na indústria farmacêutica e nos avanços biomédicos, por exemplo", junta Rafael Alves da Rocha.

No relatório ontem apresentado, Mario Draghi sublinha a necessidade de a UE investir uma grande quantidade de dinheiro num período relativamente curto, de forma a dar resposta às sérias necessidades de financiamento em áreas críticas como a sustentabilidade, a inovação, as tecnologias digitais ou os grandes projetos infraestruturais. Um reforço do investimento que implica emissão de dívida conjunta e financiamento público pelos países da UE, mas que deverá envolver também "muito dinheiro privado", pelo que a CIP defende incentivos orçamentais, "para desbloquear o investimento do setor privado", que assume poder ter algum impacto nas finanças públicas dos Estados-membros, mas ultrapassados pelos ganhos de produtividade.

"São necessárias decisões urgentes para que a UE se reafirme como um grande player mundial e relance a sua atratividade económica. É fundamental que as empresas se instalem e invistam na Europa", frisa ainda Rafael Alves da Rocha. "Estas decisões exigem, contudo, a abertura do comércio internacional baseada em regras, assim como o bom funcionamento do mercado interno. Para a Europa ser bem-sucedida, é imperativo preservar o level playing field." O diretor-geral da CIP antevê "discussões difíceis em torno do próximo orçamento europeu plurianual" e relembra, a propósito, que "a política de coesão é indispensável para garantir condições equitativas no mercado único europeu".