Nos últimos dias, a UCP Porto dinamizou, na Católica Porto Business School, a conferência internacional do insure.hub, focada em debater inovações recentes em sustentabilidade e regeneração, levando a placo os mais recentes desenvolvimentos nacionais e internacionais nas áreas da Inovação, Sustentabilidade e Regeneração, tanto em empresas como na academia, com o dean João Pinto, também colíder da plataforma INSURE, a reforçar que se tratou de "uma oportunidade vital para partilhar experiências e discutir soluções capazes de impulsionar a sustentabilidade no contexto nacional e global".
Em entrevista ao SAPO, à margem do encontro, Wayne Visser, um dos maiores especialistas mundiais em negócios sustentáveis e regenerativos, explicou a importância de trabalhar para a sustentabilidade não apenas por um mundo mais são mas até pela possibilidade de essas práticas abrirem caminho a melhores resultados económicos e sociais. Sustentabilidade também pode trazer lucro, garante o acabado de anunciar novo professor de Practice in Regenerative Business, Innovation, and Technology da Católica Porto Business School.
Todo a gente fala de sustentabilidade, todos queremos viver num mundo melhor e mais sustentável. No entanto, parece que nunca saímos da discussão sobre como ser sustentável implica abrir mão de lucros ou desistir de algumas das coisas que tornam nossa vida mais confortável — seja o transporte individual, viajar pelo mundo ou até desistir das compras e renegar a fast fashion...). Esta discussão ainda faz sentido?
Tentar "vender a sustentabilidade" como um sacrifício – ou assustar as pessoas para serem mais sustentáveis – é uma experiência que tem 50 anos e que falhou totalmente. É por isso que precisamos de inovação, para trazer produtos e serviços que regenerem a natureza, a sociedade e a economia, mas que não sejam soluções mais caras, menos convenientes ou de menor qualidade. Quando a BYD promove seus veículos elétricos, não fala sobre salvar o planeta; fala em preços competitivos, excelente segurança, alto desempenho e baixos custos de manutenção.
E é possível até aumentar os lucros tornando-se mais sustentável?
Com certeza. Existem muitos benefícios para as empresas que investem em sustentabilidade. Desde logo menor risco nas relações com stakeholders, mais resiliência nas cadeias de suprimentos, recrutamento e retenção de talentos (especialmente entre as gerações mais jovens), melhoria da reputação, economia de custos pela eficiência no uso de recursos, evitar penalidades antecipando regulamentações e acesso a financiamento por meio de fundos ESG... Além disso, muitos dos setores e negócios que mais crescem estão ligados à sustentabilidade. É o caso da tecnologia limpa e da tecnologia para a natureza.
A sua intervenção concentra-se em dez tecnologias emergentes que têm o que é necessário para salvar o planeta numa década. Quais são essas tecnologias milagrosas?
Em energia, a combinação de solar, eólica e baterias está rapidamente a tornar-se a fonte de eletricidade mais barata e sustentável. Temos veículos elétricos e hidrogénio verde (produzido com energia renovável) prontos para descarbonizar indústrias de alta intensidade energética, como os transportes, o cimento, o aço e produtos químicos. Na agricultura, o amónio verde nos fertilizantes, a fermentação de precisão e a agricultura celular estão a reduzir imenso os impactos. Há ainda os biomateriais, Sistemas de Informação da Terra (EIS) e a IA , que também mostram grande potencial.
Que gesto individual pode qualquer um de nós ter que realmente faça a diferença em direção a objetivos de sustentabilidade?
Há cinco ações principais que qualquer um podem adotar: 1. escolher transportes de baixo impacto, como caminhar, andar de bicicleta, transporte público e veículos elétricos; 2. optar por energia renovável; 3. escolher produtos regenerativos que sejam reciclados, recicláveis, de comércio justo ou orgânicos; 4. optar por trabalhos e empregadores que busquem soluções para responder aos nossos desafios sociais e ambientais; e 5. apoiar políticos e movimentos sociais ou ONG que priorizem a justiça social e a proteção ambiental.
E como é que se convence aqueles que ainda lutam para pôr comida na mesa todos os dias que a sustentabilidade ambiental faz sentido?
Aqui, existe uma regra de Pareto: 80% do impacto negativo no mundo vem de 20% da população. Então, não são as pessoas que vivem na pobreza ou lutam para sobreviver que precisamos de convencer a fazer escolhas mais sustentáveis. São aqueles, de entre nós, que já vivem estilos de vida de alto consumo. Mesmo assim, uma combinação de boas políticas governamentais e inovação pode também trazer opções sustentáveis para comunidades de baixos rendimentos. As energias renováveis, por exemplo, já são mais baratas do que os combustíveis fósseis em quase todos os países.
O que é que o motivou a fazer uma palestra na conferência da Insure.hub?
INSURE significa Inovação, Sustentabilidade e Regeneração, simbolizando o espaço de soluções positivas para enfrentar os nossos desafios ambientais, sociais e económicos mais sérios. À conferência, levei a mensagem de que precisamos de ir além da sustentabilidade, tornando-nos bem sucedidos na agenda de inovação transformadora. Também anunciei oficialmente o meu novo cargo na Católica Porto Business School, como professor de Práticas de Negócios Regenerativos, Inovação e Tecnologia.