Os lucros são amigos, não são excessivos, dizem os banqueiros presentes no Money Summit, que este ano abordou os temas da inovação e da tecnologia na banca. O constante investimento em tecnologia e o uso da inteligência artificial (IA) foram os temas em destaque e revelaram preocupações quer do lado da banca, quer do lado das seguradoras.
Os presidentes da CGD, BCP, Santander Portugal, BPI e Banco Montepio não pouparam os reguladores europeu e nacional sobre os custos que a regulação (que dizem ser excessiva) implica, os custos de inovação e os impostos que os bancos têm de pagar, além das contribuições extraordinárias que incidem sobre a banca.
Pedro Castro Almeida, do Santander Portugal, referiu que “a regulação é o elefante na sala”. “Nos EUA saem cerca de quatro mil regulações, na Europa saem 15 mil”, observou, acrescentando que “a nível mundial a banca investe €600 mil milhões em tecnologia” e mais de metade é para se adaptar à regulação.
João Silva Lopes, secretário de Estado do Tesouro e Finanças, acabou por responder ao excesso de regulação referindo que no sector financeiro deve haver “uma regulamentação mais adequada e proporcional”, mas não “uma desregulamentação desenfreada”. Não tocou na questão das contribuições extraordinárias que marcaram o debate e que para os bancos contribuem para viciar a concorrência com os seus pares europeus.
Sobre o Orçamento do Estado para 2025, já aprovado na generalidade, a banca vê sinais positivos na descida de 1% do IRC e no aumento de rendimento por via do IRS Jovem. Podia ser um OE mais ambicioso em matéria fiscal? Podia, frisam os banqueiros, mas é o que existe e por isso o melhor é poder executá-lo.
Para os banqueiros, os custos que têm com a regulação criam não só constrangimentos à criação de valor como ao equilíbrio que se deseja necessário ao investimento em tecnologia e IA.
Pagamentos ao FR mal digeridos
Miguel Maya, do BCP, atirou a outro alvo, dizendo não entender por que razão é que são só os bancos portugueses a pagar determinadas faturas (referia-se ao Fundo de Resolução), e não todos os agentes que em Portugal prestam serviços financeiros. “Acho inaceitável”, disse. E o número mágico com o qual os bancos não se conformam foi João Pedro Oliveira e Costa que recordou: “Até 2046 temos de pagar €250 milhões por ano” e “ninguém foi ao jantar” (queda do BES e fatura a pagar pelo Novo Banco).
Paulo Macedo, da CGD, optou por dar o exemplo do banco público: “A Caixa paga entre dividendos e impostos ao Estado €4,5 milhões por dia.” E Pedro Leitão, do Banco Montepio, afirmou que 2% do ROE (indicador que mede a capacidade de retorno ao acionista) é canalizado para custos com taxas.
“É preciso saber incluir (as pessoas) que devido à IA vão ser redundantes”, diz Luís Menezes, CEO da Ageas
Os bancos afastam a ideia de que têm tido lucros excessivos. Não querem nem ouvir falar. A mensagem é a de que os ganhos devem ser analisados por períodos, e não no imediato. É melhor ter bancos com prejuízos ou com lucros? Na opinião dos banqueiros, o melhor é ter entidades saudáveis, com capacidade de ajudar a economia, as famílias e não dar despesa aos contribuintes.
Por seu turno, a vice-governadora do Banco de Portugal, Clara Raposo, deixou recados. Desafiou os bancos a agarrar o futuro com “inteligência”, sublinhando que o investimento em tecnologia e inovação poderá reduzir os custos dos bancos, o que não foi unanimemente acolhido pelos banqueiros. João Pedro Oliveira e Costa, presidente do BPI, aproveitou a deixa da vice-governadora para contrariar a ideia de que o investimento em tecnologia e IA poupava custos à banca: “Ainda não vi isso, tenho de estar constantemente a investir.”
Os elogios à banca foram grandes por parte de Clara Raposo, nomeadamente no que diz respeito à melhoria de indicadores como sejam a queda do crédito malparado, a melhoria da eficiência e do retorno de capital dos bancos, para não falar da robustez de capital. Por tudo isto o Banco de Portugal considerou, prosseguiu a vice-governadora, ser o momento oportuno para avançar com reservas adicionais recentemente exigidas, que servem de almofada adicional para eventuais problemas futuros, que podem advir de riscos geopolíticos, entre outros.
IA gera mais produtividade, mas torna pessoas redundantes
No que toca ao impacto da IA no mercado de trabalho, o posicionamento é o de afinar processos e requalificar pessoas. O crescimento da IA será exponencial, mas há alertas. Deve-se ter em conta o que fazer às pessoas que possam passar a ser redundantes. Até porque as empresas que não apanharem o comboio da IA vão ficar para trás e, como foi referido, o seu uso vai aumentar em muito a produtividade.
No painel que se seguiu ao dos banqueiros a tónica foi o recurso crescente à IA. Madalena Cascais Tomé, CEO da SIBS, afirmou que “a IA vai aumentar a produtividade em 50%”. Já Bernardo Correia, da Google Portugal, explicou que o gigante tecnológico tem uma missão: “Preparar os jovens para serem peritos em IA” e apostar no “investimento em infraestruturas”. Pedro Carvalho, CEO da Generali/Tranquilidade, afirmou que vivemos “admiráveis tempos novos para todos os sectores”, tendo em conta que “a adoção de IA é exponencial e não vai diminuir”. Já Luís Menezes, CEO da Ageas, não tem dúvidas de que “quem não agarrar a tecnologia vai ficar para trás”, mas advertiu: “É preciso saber incluir (as pessoas) que devido à IA vão ser redundantes.”