Os portugueses, ou as pessoas que trabalham em Portugal, trabalham mais horas do que a média dos europeus, mas têm salários mais baixos.
Um português trabalha em média 38 horas semanais, enquanto na União Europeia a média é de 36 horas. Se olharmos para países como a Alemanha o fosso aumenta.
Um alemão trabalha em média 34 horas por semana – num ano são sensivelmente menos 177 horas trabalhadas em comparação com um trabalhador em Portugal.
Mas os salários não refletem esta diferença, de acordo com a Eurostat.
Em 2023, o rendimento líquido anual em Portugal era, em média, de cerca de 17 mil euros. Enquanto na Alemanha atingia os 38 mil euros. A diferença é elevada mesmo se tivéssemos em conta as diferenças no custo de vida entre os dois países.
Porque ganham os portugueses menos?
É a pergunta que se impõe: porque é que trabalhando mais horas os portugueses ganham menos do que os seus vizinhos europeus?
No essencial, deve-se à baixa produtividade da economia portuguesa. A produtividade diz respeito à forma, mais ou menos eficiente, como uma empresa ou um país utilizam os seus recursos. A produtividade é influenciada por múltiplos fatores: a tecnologia, as práticas organizacionais e de gestão, o contexto económico, entre outros.
Ora, a produtividade é também o grande motor dos salários. Por isso, estando Portugal integrado na União Europeia, em que há livre circulação de pessoas, bens e capitais, os trabalhadores e o capital tenderão a mover-se para outros países, onde são mais bem remunerados, o que se torna um problema para a nossa economia.
Como é que se mede a produtividade?
A forma mais simples de medir a produtividade de um país é analisando o PIB por hora trabalhada.
Em Portugal, a cada hora, um trabalhador gera em média 30 euros. É o quinto país menos produtivo na zona euro. Está na cauda da União Europeia no que concerne à produtividade.
Por cada 69 euros gerados por um trabalhador alemão, um trabalhador português gera apenas 30 euros.
É importante ressalvar que o custo de vida na Alemanha é mais elevado do que em Portugal, mas o que estes números mostram é que trabalhar mais horas, apesar de aumentar necessariamente o produto, não é suficiente.
Há outros fatores que têm muito impacto na produtividade, tal como o capital de que as nossas empresas dispõem, a tecnologia, os métodos de gestão, as condições de trabalho, as competências e as qualificações dos trabalhadores.
Estas discrepâncias sempre existiram?
Historicamente, Portugal sempre esteve na cauda da chamada Europa dos 15, ao nível da produtividade. Olhando o gráfico que nos mostra a evolução nas últimas décadas, verificamos que vários países da Europa de Leste, que se juntaram mais tarde à União Europeia, nos foram ultrapassando. É o caso da Chéquia, da Eslováquia e da Roménia. Vamos perceber porquê.
Como é que evoluiu a produtividade em Portugal?
Até 1995, a produtividade agregada da economia portuguesa contribuiu decisivamente para o crescimento económico e para a convergência com a média europeia. Estamos a falar de um período de grandes transformações decorrentes do estabelecimento da democracia e, sobretudo, da adesão à União Europeia.
Por um lado, fizeram-se reformas fiscais, criaram-se leis para a concorrência económica e entidades reguladoras. Por outro lado, construíram-se infraestruturas públicas que facilitaram muito o aumento da produtividade: estradas, rede elétrica e saneamento, de norte a sul do país.
A partir de 1996 e até 2018 o PIB real português cresceu apenas 1,5% ao ano, em média, e a baixa produtividade contribuiu para essa estagnação económica.
O que é que explica esta baixa produtividade?
Uma explicação possível assenta na má alocação de recursos nos anos 90 e 2000. Os recursos disponíveis, nomeadamente os fundos europeus, o crédito bancário que foi facilitado nessa altura e a própria mão-de-obra, foram canalizados para setores pouco concorrenciais.
Falamos, por exemplo, da construção civil, em que empresas com baixa produtividade nasceram e se mantiveram à tona, impedindo o investimento em produtos e serviços transacionáveis nos mercados internacionais (exportáveis) e, logo, mais competitivos e rentáveis.
O que é a competitividade e como se caracteriza a portuguesa?
A competitividade, em termos simples, diz respeito ao conjunto de instituições, políticas e outros fatores, como as exportações, que determinam o nível de produtividade de um país.
Entre 1995 e 2009, assistimos a uma redução da competitividade da economia portuguesa. Desde 2009 o cenário tem oscilado entre estagnação e ligeiras melhorias.
Como podemos reverter este cenário de baixa produtividade e competitividade que, como já vimos, compromete a disponibilidade de mão-de-obra e a capitalização das empresas?
O caminho passa necessariamente pela correta avaliação dos nossos pontos fortes e fracos e pela mitigação dos problemas que se colocam à competitividade da economia.
Começamos pelas boas notícias.
- Ao longo dos últimos 30 anos, melhoraram manifestamente as condições de competitividade pelo lado da inovação, nomeadamente através do aumento da despesa em investimento e desenvolvimento.
- Desde 2012, caminhámos para uma situação de maior estabilidade macroeconómica com o reequilibrar das contas públicas e o crescimento económico, o que melhorou a competitividade da nossa economia; em 2018, em particular, regista-se uma significativa melhoria associada ao primeiro excedente orçamental da democracia.
- Além disso, temos vindo a apostar nas energias renováveis, o que nos torna menos dependentes do exterior do ponto de vista energético.
- Finalmente, há indicadores positivos no que diz respeito às perceções dos cidadãos face à estabilidade política, ao Estado de Direito ou aos níveis de violência e terrorismo, entre outros aspetos que também contribuem para a competitividade de um país.
Estas foram as boas notícias. O que é que nos deve preocupar no que à competitividade da nossa economia diz respeito?
A principal preocupação tem a ver com os níveis de escolaridade e das qualificações da nossa população ativa.
Como falámos no nosso primeiro programa, foram enormes os avanços na educação desde o 25 de abril. No entanto, partimos em grande desvantagem face aos nossos parceiros europeus. Isto faz com que atualmente ainda sejamos o país em que a percentagem de pessoas entre os 15 e os 64 anos com pelo menos o ensino secundário completo é menor – 59% versus 75% na média europeia.
O que há a melhorar?
Falamos das competências dos trabalhadores, mas hoje sabe-se que as qualificações dos empregadores e empresários são fundamentais.
A qualificação das equipas de gestão ainda não estão ao nível desejado no tecido empresarial português. Efetivamente, os empregadores portugueses são os menos qualificados entre os 27 países da União Europeia.
“Empresas com empresários e gestores mais qualificados são mais produtivas e pagam melhores salários”.
E isto reflete-se no sucesso das empresas. Olhando para os empreendedores portugueses, estudos mostram-nos que quanto mais escolarizados são, maior é a dimensão das suas empresas à nascença, mais rápido estas crescem e se tornam exportadoras. Além disso, em média são mais produtivas, pagam melhores salários e investem mais na formação dos trabalhadores.
Importa ter em conta todas estas dimensões no desenho das instituições, das políticas e das práticas que influenciarão a atividade económica daqui em diante.