Os 27 votaram esta sexta-feira a proposta da Comissão Europeia para a imposição de tarifas até 45% sobre os veículos eléctricos importados da China, mas não chegaram a qualquer acordo.

À falta de um entendimento, a decisão final ficou nas mãos da Comissão que já deixou claro que vai avançar com o agravamento das tarifas que poderá subir dos atuais 10% para os 45%, levando também ao aumento do preço deste tipo de veículos.

A medida surge na sequência de uma investigação da Comissão Europeia, em que o executivo comunitário conclui que os fabricantes de automóveis chineses beneficiam de subsídios governamentais considerados injustos, uma alegação que Pequim nega firmemente.

Na votação não houve maioria qualificada a favor, nem uma maioria simples contra - que permitiria contestar o processo - o que, na prática, dá força à Comissão Europeia para levar em frente a proposta inicial. Dez Estados-Membros da UE, que representam, 31,36% da população europeia, apoiaram a medida, cinco votaram contra (22,65%) e 12 abstiveram-se (44,99%).

A Alemanha é um dos países que abertamente disse que iria votar contra. Berlim teme que a retaliação de Pequim prejudique as exportações de carros alemães para a China. Já Espanha absteve-se e França era a favor de uma medida mais protecionista face à concorrência chinesa baseada em subsídios.

A votação significa que a Comissão poderá introduzir direitos aduaneiros até 35,3% sobre os fabricantes de automóveis chineses, incluindo a BYD, a Geely e a SAIC. De acordo com o executivo, os direitos aduaneiros serão aplicados para além do imposto automóvel normal de 10% da UE e devem ser impostos até 30 de outubro.

A nova estrutura tarifária acrescentará uma sobretaxa de 35% à tarifa de 10% já aplicada aos veículos eléctricos fabricados na China. Os fabricantes de automóveis chineses, cujas vendas na Europa caíram 48% em agosto, enfrentam uma decisão difícil: absorver os custos adicionais ou transferi-los para os consumidores.

Pequim já tinha ameaçado com direitos aduaneiros de retaliação sobre as principais exportações europeias, visando sobretudo os sectores automóvel, dos lacticínios, do brandy e da carne de porco. A ameaça é relevante para os fabricantes de automóveis europeus, especialmente para a indústria automóvel alemã, que depende fortemente da China como o seu mercado mais importante. Marcas como a Volkswagen, a Mercedes-Benz e a BMW venderam cerca de um terço dos seus automóveis na China em 2023.

Apesar das tensões, ambas as partes continuam abertas à negociação. A UE e a China têm estado a explorar alternativas às tarifas, incluindo potenciais mecanismos para regular o preço e o volume das exportações de veículos elétricos para a Europa. No entanto, a Comissão Europeia tem defendido que qualquer acordo deve respeitar as regras da Organização Mundial do Comércio e abordar efetivamente a questão dos subsídios.

O aumento das tarifas faz parte de uma estratégia mais ampla da União Europeia para reduzir a sua dependência económica da China. Mario Draghi, antigo presidente do Banco Central Europeu, alertou recentemente para o facto de as indústrias chinesas apoiadas pelo Estado representarem uma ameaça à soberania europeia, deixando o bloco potencialmente vulnerável à coerção económica.