"Na icónica Casa de Serralves, da cozinha às salas de estar e jantar, passando pelas escadarias e casas de banho", há a marca da vida de uma dupla singular, desde projetos iniciais e raramente vistos como Please Don't Go!, de 1999, Dorothy, de 2001, ou Misericórdia, de 2005, a criações recentes e instalações a estrear, concebidas especificamente para a Casa de Serralves. É o caso de The Tearoom, instalação composta por "quase uma centena de casacos intervencionados pelos artistas e dispostos num grande charriot para uso do visitante".

É assim que se apresenta a espetacularidade da Casa Vale Ferreira, a mostra que se desvenda a partir de amanhã na Casa Cor-de-Rosa de Serralves, a primeira antológica da dupla de artistas João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, que assim também celebram mais de duas décadas de trabalho conjunto, revelando "uma seleção de obras produzidas ao longo desse período, expostas num espaço único que permitiu um conceito expositivo surpreendente".

“A Casa de Serralves transforma-se num cenário de encontros inesperados, proporcionando um contexto único para a reflexão e releitura de uma obra que se tem reinventado ao longo dos anos (…) Os artistas ocupam quase todos os espaços da antiga residência privada desenhando um percurso que transcende a memória do lugar e tece uma narrativa paralela que combina eventos históricos, literários e lendas", descreve a curadora-chefe, que trabalha há vários anos com os artistas.

Explicando a mostra, Inês Grosso refere que esta foi organizada de forma não cronológica e colocando trabalhos de diferentes períodos em diálogo. "A exposição tira partido da arquitetura fragmentada do edifício, usando cada divisão como um portal para uma viagem através do tempo e de um corpo de trabalho que inclui uma diversidade de meios — da instalação e performance à escultura e ao filme — e mantém uma coerência profunda na sua investigação cuidada dos temas associados às ideias de género, sexualidade, história e memória, estigma, exclusão social, vida, morte, amor e identidade." E recorda ainda o também presente contributo do trabalho de João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira para as lutas por direitos, liberdades e garantias da comunidade LGBTQIA+. 

Serralves adianta ainda que a Casa Vale Ferreira faz parte da estratégia de apoiar artistas portugueses, nascidos nos anos 70, nos pós 25 de abril – como Carla Filipe ou a dupla João Maria Gusmão e Pedro Paiva. "Serralves tem desempenhado um papel fundamental na organização de grandes exposições, muitas vezes antológicas, que dão a estes artistas nacionais, a merecida visibilidade que um grande museu proporciona."

A exposição do João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira inclui uma série de performances e programas paralelos no segundo semestre do ano e ainda a publicação de um livro sobre esta primeira antológica dos artistas, patente até novembro.