Pedro Chagas Freitas continua a lidar com o pesadelo que é a doença do filho Benjamim. Neste novo desabafo, o escritor revelou que o filho voltou a ser sujeito a uma intervenção cirúrgica e que talvez esta seja a última.
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— Esta viagem de ambulância até foi fixe, pai.
A confusão à entrada, o corrupio de ambulâncias, calor, nervosismo por todo o lado. As máquinas a apitar, as corridas aflitas pelo corredor. Uma mulher que se sente mal e precisa de ajuda mesmo ali no meio. Alguém num ai repetido, profundo, que não passa, numa sala ao lado. A pressa permanente dos adultos, adulta demais. O homem na cama ao lado a queixar-se baixinho. Os olhares perdidos em lado nenhum de toda a gente.
O hospital dos grandes, o mundo dos grandes, é assim. Hoje voltaste lá, para mais uma intervenção (já nem sei quantas destas já derrotaste, tu sabes?). Levaste aquilo que a língua portuguesa não consegue definir numa palavra só. Poderia chamar-lhe carinho, ternura, porque foi isso que espalhaste. Não te queixaste uma vez, sorriste, fizeste amigos novos, mimaste a amiga que já tinhas por lá (foi o nome dela a última palavra que disseste antes de fechares os olhos com a anestesia a entrar-te no corpo antes da cirurgia). Poderia chamar-lhe coragem, porque enfrentas tudo com um estoicismo que não vi em nenhum filme de heróis, um estoicismo com bondade, uma bravura carinhosa. Hoje vou chamar-lhe amor, por falta de palavra maior. O que tens em ti é sempre amor, pela vida, pela tua mãe, por mim, pelo mundo inteiro. Um amor que se faz ternura, coragem. Um amor que te salva, que nos salva, que salva todos os que têm o privilégio de te ter, nem que de passagem, nas suas vidas. O teu amor (é) cura. Hoje foste ao hospital dos grandes outra vez. Fizeste tudo bem, correu tudo bem. Pode ser que não tenhamos de voltar. Chorei só de escrever esta última frase. Desculpa. Amo-te.