Merche Romero está de volta à televisão – o “grande amor” – com um sorriso no rosto, mas não esquece a depressão que viveu e o quão a afetou. Em entrevista à Nova Gente, revelou quem é e pelo que passou.

Que mulher é esta que tenho à minha frente?

[sorriso] Tenho 47 anos, portanto sou naturalmente diferente. Vinte anos depois, considero que cresci, atingi a maturidade. Sou uma mulher realizada e feliz com a vida que estou a ter.

Cresceste em que sentido?

Comecei na televisão há 20 anos, portanto é natural que hoje, como profissional, tenha uma forma diferente de estar, de comunicar e sou mais madura. Isso também é a evolução do ser humano: mal seria se não fosse assim.

O que é certo é os teus genes espanhóis, o teu coração ao pé da boca, te marcaram para o bem e para o mal. Sentes que este convite chegou numa altura em que já não esperavas fazer televisão desta forma?

[sorriso e pausa] Sim. É um facto. Mas isso é bom. Quem me conhece sabe que falo com o coração. Quando vivemos com essa esperança de estar anos à espera, por vezes limitamos outras coisas que podem acontecer, inclusive a nossa felicidade. Bloqueamos ali numa esperança. Temos de ter a capacidade, caso não aconteça, de seguir em frente.

Bloqueaste a tua própria vida?

Houve momentos que sim, admito. Mas pela grande saudade que tinha. Nunca escondi que a televisão é o meu grande amor, mas também tinha muita noção do mercado televisivo. Sabemos que na televisão também há família e, para se entrar nessa família, às vezes não é fácil. Antes de voltar à televisão como comentadora, sempre que vinha a uma entrevista num programa, quando voltava a casa, sentia um grande vazio.

Chegaste a pensar “já não pertenço ali”?

Pensei que já não me queriam ali, é diferente.

Tu já disseste que te sentiste injustiçada pelo que se disse e escreveu sobre ti. Sentes que este convite foi uma espécie de justiça divina?

[risos] É curioso dizeres isso assim porque é uma realidade. Acredito que o universo faz as coisas bem. Se já achava, agora tenho a certeza [pausa]. A vida é feita de ciclos e também provocamos algumas coisas. É importante parar e ver o que é que está certo ou errado, o que é que estou a fazer bem e porque é que as coisas me estão a acontecer. Inclusive, tive de procurar ajuda psicológica. Vivi numa depressão muito isolada e escondida, em que sorria para o mundo, mas por dentro estava desfeita.

Quem te ajudou, além do psicólogo?

O meu irmão Óscar e a minha família é que me chamaram a atenção para o facto de eu já não ser a Merche brincalhona e sorridente. Apaguei-me completamente e culpei-me de muita coisa que não tinha de me culpar.

Culpaste-te de quê, por exemplo?

É quase como nas relações. Quando uma chega ao fim, acabas por culpar-te pelo motivo que levou ao fim quando, na verdade, há duas partes sempre. E na televisão também acontece isto.

Hoje, mais madura, consegues com total naturalidade perceber onde é que estiveste mal?

Claro, fiz essa análise e, graças a Deus, tenho uma família, neste caso vou falar mais uma vez do meu irmão Óscar, que é o meu melhor amigo. Ao longo da vida, fomos só os dois, muitas vezes. Nunca tive a figura paterna, sempre vivi no Porto essa fase sozinha, não tinha um familiar.

Estamos a falar do tempo do Portugal no Coração (2003) com o Malato, a Maria João Silveira e a Marta Leite Castro.

Exato. A minha companhia muitas vezes era o Malato, acabávamos por ir jantar e de estar um bocadinho juntos fora do trabalho.

Vocês foram grandes amigos nessa altura.

Sim e para mim vai ser sempre. Mesmo que nos tenhamos afastado, ele será sempre uma pessoa muito importante na minha vida. Mas eu isolei-me muito naquela época. Trabalhava e vivia isolada.O facto de às vezes não ver maldade nos outros fez-me cometer alguns erros também. Só me posso responsabilizar por aquilo que fiz de errado comigo, mas não levo como um problema, levo como uma aprendizagem. Ninguém é perfeito, estamos em constante evolução.

Deslumbraste-te?

Nunca vivi deslumbrada. Sou workaholic e tinha muita noção de que isso era fruto do meu trabalho e a humildade sempre reinou em mim.

Leia a entrevista completa na edição da NOVA GENTE que já está nas bancas.

Texto: Nuno Azinheira; Fotos: Redes Sociais