O cancro do pulmãoé a doença oncológica que mais mata em Portugal e no mundo. Por isso, os especialistas estão preocupados com o atraso na implementação do rastreio, mas a direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS) não se compromete com uma data e alega falta de verbas. O anterior Governo tinha prometido avançar com um projeto-piloto ainda em 2023.
Por ano, morrem mais de 5.000 portugueses com cancro do pulmão, a maioria fumadores ou ex-fumadores. Em 65% dos casos, a doença é diagnosticada quando já está numa fase avançada.
Os especialistas defendem mais políticas públicas que promovam a cessação tabágica e pedem urgência na implementação de um rastreio, que reduz a mortalidade.
Depois de o Governo anterior ter adiado o projeto-piloto, em parte por ter falhado a candidatura a um financiamento europeu, os novos rastreios ao cancro do pulmão, próstata e estômago foram inscritos no Orçamento do Estado para 2024.
Mas a atual direção executiva do SNS alega que não há verbas destinadas para estes projetos e acrescenta que receberam propostas de algumas entidades, no entanto remata que estão dependentes do investimento disponível.
Projeto não saiu do papel
A associação Pulmonale apresentou um projeto-piloto em 2021 com base nas 'guidelines' internacionais, mas até hoje não saiu do papel. Depois da reunião com o atual Governo, no início de julho, a presidente não saiu otimista.
A direção executiva não se compromete com uma data para o rastreio ao cancro do pulmão avançar. Refere que estão a analisar as diferentes metodologias e que importa garantir que há capacidade de resposta aos casos positivos identificados.
O rastreio implica a realização sistemática de uma TAC de baixa dosagem e entre a população alvo estão fumadores e ex-fumadores pesados com mais de 50 anos.
É "fundamental detetar casos em fases muito mais precoces"
Em análise a esta questão, em direto na SIC Notícias, o médico pneumologista José Pedro Boléo Tomé explica que esta é uma doença que, nas primeiras fases, é "muito silenciosa":
"Quando surgem sintomas já temos ou um tumor que já cresceu e que já se disseminou para outros órgãos. Portanto, era fundamental detetar estes casos em fases muito mais precoces, que é quando são facilmente tratáveis, facilmente operáveis. A cirurgia continua a ser o tratamento mais eficaz numa primeira fase".
O especialista lembra que estão incluídos no grupo de risco todos aqueles que são ou foram fumadores, mas não só. Acrescenta que os fumadores passivos têm também um risco maior de desenvolverem a doença.
Para disso, "a carga familiar" e um historial de doença oncológica também devem ser considerados como fatores de risco.
Os sintomas mais comuns, enumera, são:
"Uma tosse que se arrasta, uma expetoração que não é normal e que surge com algum vestígio de sangue, uma dor torácica que não passa, perda de peso inexplicável e cansaço inexplicável".
Para o médico pneumologista é "urgente" que seja implementado um sistema de rastreios. Contudo, lembra que isso é algo "complexo", uma vez que este rastreio "é mais difícil de implementar"