Foi por proposta da DECO que se criou em Portugal o Dia Nacional da Sustentabilidade e que o país se tornou pioneiro na celebração desta data. O dia escolhido marca a data em que, em 2015, a ONU revelou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Ao SAPO, Elsa Agante, team leader de Sustentabilidade e Energia da DECO PROteste, explica as iniciativas que a organização tem liderado nesta área.

Elsa Agante
Elsa Agante

A DECO tem ocupado um papel de liderança nas mais diversas iniciativas relacionadas com a sustentabilidade. Quais foram as iniciativas mais marcantes que tomaram?
As prioridades e estratégias da DECO PROteste para o desenvolvimento sustentável estão alinhadas com a missão e valores fundamentais, incorporando preocupações ambientais, sociais e económicas. A nossa missão em termos de sustentabilidade é a de garantir que os consumidores tenham o máximo de informação para selecionar os produtos e serviços mais sustentáveis. Neste sentido consideramos marcante o relançamento do portal da sustentabilidade, construído a pensar nos consumidores de tipologia eco-considerer.

O que é isso?
São os consumidores com  preocupações ao nível do ambiente e sustentabilidade e que querem mudar os seus comportamentos e adotar hábitos mais saudáveis mas que sentem não ter toda a informação para saber como colocar em prática.

E a DECO ajuda nisso.
Sim, pretendemos assim, identificar alguns comportamentos ou situações passiveis de mudança, no dia-a-dia do consumidor e guiar passo a passo para uma mudança de comportamento faseada e eficaz, apresentando benefícios, barreiras e como atenuá-las e formulando ações que de forma simples sejam fáceis de adotar para levar à necessária mudança de comportamento. Outro dos objetivos que temos ao nível da sustentabilidade é, junto com os consumidores, ser uma força motriz para as marcas, empresas e produtores melhorarem os seus produtos e serviços, para o tornarem mais sustentáveis, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva. Neste sentido podemos elencar o trabalho que temos feito junto com as nossas congéneres a nível europeu, no sentido de identificar e denunciar situações de greenwashing, garantindo que os consumidores têm o máximo de informação para selecionar os produtos e serviços mais sustentáveis. Por exemplo, ao nível das alegações ambientais, contactámos diretamente várias marcas para a possibilidade de as alegações serem consideradas como greenwashing, levando a que as mesmas se comprometessem a retirar as alegações em causa. 

Os consumidores têm estado cada vez mais atentos e envolvidos, pelas escolhas que fazem, no impulso a produtos mais sustentáveis, por oposição a outros não tão recomendáveis. Notam que essa tendência tem crescido?
De acordo com um estudo europeu recente, em que participámos junto comas nossas congéneres, no ato de compra, 48% dos consumidores indicaram preferir comprar um produto com um rótulo ambiental, número que aumenta para 60% quando se considera apenas os consumidores portugueses, mas apenas cerca 40% dos consumidores mostrou-se disponível para pagar mais por “produtos sustentáveis”, cerca de 45% considerando os consumidores portugueses.

Os portugueses estão mais envolvidos, então?
Verifica-se uma tendência crescente da sustentabilidade como fator de decisão dos consumidores, no entanto, e em especial em momentos de crise, o preço continua a ser o fator mais determinante. É necessário também clarificar que os produtos mais sustentáveis não são necessariamente mais caros. Por vezes, mudanças para produtos mais sustentáveis não implicam aumento de custos em termos de matérias-primas e produção, podendo até haver reduções de materiais que levem a menores custos. O que defendemos na DECO PROTeste é precisamente que as marcas melhorem os seus produtos e serviços para os tornar mais sustentáveis, mas necessariamente acessíveis a todos os consumidores.

Essa tendência tem influenciado a ação da DECO?
Sim, a missão da DECO PROteste em termos de sustentabilidade é garantir que os consumidores tenham o máximo de informação para selecionar os produtos e serviços mais sustentáveis. Neste sentido, temos efetuado, por exemplo, diversos estudos ao nível do impacto ambiental ao longo da vida dos produtos de modo a conseguirmos identificar os produtos que têm maior e menor impacto ambiental, salientando desde já os estudos recentes ao nível dos têxteis e das varias tipologias de garrafas reutilizáveis. Na realidade, muitas são as pessoas que defendem comportamentos mais sustentáveis, mas ainda são poucas aquelas que os praticam. Nas grandes decisões e pequenas escolhas fazemos a diferença. É prioritário implementar novos comportamentos que promovam um desenvolvimento económico, social e ambiental mais sustentável e incentivar práticas sustentáveis em áreas como consumo, economia e meio ambiente, tendo em vista um futuro mais responsável e equilibrado, sendo este o trabalho que a DECO PROteste tem estado a realizar. Com melhores escolhas e atitudes, podemos contribuir para que a Humanidade tenha um futuro neste planeta. Por isso, a DECO PROteste tem no seu Portal da Sustentabilidade dicas e conselhos de como o indivíduo pode tornar-se um consumidor mais sustentável.

Que programas de promoção da sustentabilidade destacaria como mais eficazes?

Os consumidores demonstram muito interesse pela informação que os incentiva a mudar comportamentos com cálculos de impacto e ainda mais quando geram poupança. O sentimento que contribuem por um mundo melhor e ainda poupam permite acelerar o processo.

 Que novidades podemos esperar para os próximos tempos, nesta área, no que a investimentos da DECO diz respeito?
O facto de os consumidores procurarem frequentemente por informações ambientais nas suas decisões de compra de produtos e serviços, leva a que as expectativas dos consumidores possam ser aproveitadas em termos de negócio. As questões ambientais não fogem à regra e, teoricamente, isso até seria bom para o consumidor. As típicas reivindicações “verdes” sobre produtos de consumo assumem formas como, por exemplo, “eco”, "renovável", "biodegradável", "feito de conteúdo reciclável", "livre de", mas o que falha, muitas vezes, é a transparência das alegações e benefícios ambientais anunciados e a base pouco rigorosa em que assentam. A proliferação de designativos e alegações verdes não ajuda os consumidores a fazer escolhas informadas quando procuram “escolhas sustentáveis”. Iremos nos próximos tempos continuar a acompanhar as novas alegações que vão surgindo, em tipologias de produtos selecionadas, de modo a informar os consumidores de quais são as alegações corretas e quais as que podem ser consideras “greenwashing”, no sentido de denunciar as más práticas.

Iremos continuar a informar os consumidores como podem melhorar a eficiência energética das suas habitações, de modo a reduzir a fatura de energia e também as correspondentes emissões de CO2. Neste sentido, podemos dar como exemplo a previsão de lançamento de uma ferramenta que permitirá aos consumidores perceberem que medidas de melhoria podem fazer nas suas habitações, e colocá-los em contacto direto com os profissionais habilitados para efetuar essas medidas, ao abrigo de um projeto europeu (HORIS) liderado pela DECO PROteste.

Ao nível do consumo e produção de resíduos sabemos que o fluxo de resíduos de crescimento mais rápido do mundo é o de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE), alimentado principalmente por elevadas taxas de consumo, ciclos de vida curtos, e poucas opções de reparação. As previsões a nível mundial é de que em 2030 se atinja 74 milhões de toneladas de REEE descartados, quase o dobro, em apenas 16 anos. Temos, no entanto, taxas de recolha e envio para tratamento e valorização de apenas cerca de 30%. No sentido de melhor informar os consumidores sobre como prolongar a vida útil dos seus equipamentos, o que fazer em caso de avaria e, quando não há possibilidade de reparação, o que fazer para garantir o envio dos equipamentos para reciclagem, iremos lançar uma área especialmente dedicada ao tema da reparação e reciclagem.

Em suma, iremos continuar a fornecer informação baseada em estudos e testes, de forma independente, nas varias áreas que trabalhamos, de modo a garantir que os consumidores têm o máximo de informação possível para tomar as suas decisões, tornando-se um consumidor mais sustentável.

A DECO foi a grande impulsionadora do Dia da Sustentabilidade. Como é que isto aconteceu? E porque acharam importante que se marcasse esta data?
A DECO PROteste propôs esta efeméride uma vez que considera que precisamos de mais ações individuais. Pretende-se não só contribuir para uma cada vez maior consciencialização da sociedade em relação às alterações climáticas, uma matéria urgente, mas também quanto a outros fatores de sustentabilidade, imprescindíveis para as gerações futuras, incentivando a discussão sobre uma causa que é de todos.

Portugal tornou-se o primeiro país a celebrar esta data importante, todos os anos, a 25 de setembro. Trata-se do dia em que, no ano de 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) revelou os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável que devem ser implementados por todos os países até 2030.