“A violência sexual é mais comum do que se possa pensar e pode afetar qualquer pessoa, seja mulher ou homem; refere-se à imposição de práticas de carácter sexual à vítima, através da ameaça, coação, ou força física.” As palavras são de Lisa Ferreira Vicente, ginecologista-obstetra que se dedica a esta área.

“Não se trata de situações raras, pontuais ou exclusivas a determinados grupos, comunidades ou meios socioeconómicos. Pode acontecer a qualquer um e inclui violação, exposição a práticas sexuais com outras pessoas; exposição forçada à pornografia; prostituição forçada; pressionar ou forçar a vítima a ter relações sexuais desprotegidas, etc.”, acrescenta.

Face a esta realidade e ao facto de “a violência sexual ser uma experiência traumática com consequências devastadoras na vida da vítima”, apela a que todos os profissionais de saúde estejam atentos. “Numa consulta de Planeamento Familiar, ou de outra especialidade, podem surgir possíveis pistas de que a pessoa é ou já foi vítima de coerção e abuso sexual.”

Perante uma situação destas, os profissionais de saúde devem saber o que fazer e para quem referenciar, sempre que não haja quaisquer apoios em termos de saúde mental ou sociais e jurídicos.

É preciso também ter-se noção de que o agressor não tem de ser um desconhecido, aliás, todos os estudos indicam que a maioria deles são pessoas com uma vida dita “normal” e que têm proximidade com a vítima. “Por vezes, a mulher acha que é normal que o marido ou o namorado a obrigue a fazer sexo, porque é seu dever. É preciso informar que é um crime, que provoca graves danos.”

Além disso, não existe uma hierarquização. “Não pode haver comparações, porque qualquer abuso é um crime, mesmo quando não se verificam lesões físicas e atos de penetração.”

Neste âmbito é preciso ainda lembrar os trabalhadores do sexo. “Estão mais expostos, além de que existe a ideia errada de que têm de aceitar tudo.”

Outro crime a que se deve estar atento nas consultas é a mutilação genital feminina, que consiste na remoção parcial ou total dos órgãos genitais externos femininos sem indicação médica. “Muitas mulheres que vivem em Portugal foram submetidas a esta tradição. Algumas meninas podem vir a ser submetidas a esta prática, por exemplo, durante umas férias ao país de origem dos seus pais.”

Prevenção é assim a palavra-chave, devendo estar-se atentos a grupos de risco, como é o caso de meninas e mulheres com ligação à Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Senegal, Eritreia, Sudão e Somália.” As consequências podem ser “muito graves” a nível psicológico, urológico, ginecológico e de resposta sexual.

MJG

Linhas de Apoio:

Quebrar o Silêncio (homens e rapazes vítimas de abusos sexuais)

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UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta

21 887 3005

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