A “Criação de Adão” de Michaelangelo ilustra a vontade de pessoas comuns chegarem perto dos deuses. De facto, o desenvolvimento atual da humanidade permite que cada vez mais pessoas atinjam uma vida longa, feliz, livre de doença e sofrimento. Mas o que fazer para chegar a essa vida divina?

A ciência diz-nos que a capacidade física é um dos principais indicadores de independência e longevidade. A independência é definida por valores de força e capacidade cardiorrespiratória. Além disso, sabe-se hoje que pessoas de 70 anos treinadas podem ter capacidades físicas semelhantes às de pessoas de 30 anos não treinadas.1*

Ao passear por Portugal, é difícil encontrar pessoas de 70 anos treinadas: segundo o Eurobarómetro, apenas 22% dos portugueses pratica atividade física regularmente ou com alguma regularidade, contrastando com a média europeia de 38%.2 Para pintar outra paisagem, em Portugal talvez seja necessário sonhar com níveis mais altos de capacidade física e lutar em várias frentes para os atingir.

Uma das batalhas é no sistema de saúde português, que não oferece aos utentes possibilidades de atingir patamares superiores de capacidade física. Se um utente com uma doença quiser começar a praticar exercício físico (EF) como parte do seu tratamento, para melhorar a sua a qualidade de vida e reduzir o risco de morrer, a quem se deve dirigir? A um médico, a um fisioterapeuta ou a um profissional do exercício? De que especialidade devem ser esses profissionais? E se esse doente quiser correr uma maratona?

A resposta mais sensata é: depende da pessoa, da doença e do profissional de saúde. Todavia, há poucas estruturas públicas ou privadas que acompanhem doentes até níveis mais altos de funcionalidade. Para a Medicina Física e de Reabilitação, o objetivo é frequentemente “andar” ou “voltar ao estado de saúde prévio à doença”3. A Medicina Desportiva é pouco acessível e só recentemente se tem vindo a desenvolver para não-atletas. Falta um sistema que, por um lado, permita que pessoas saudáveis melhorem a sua função e reduzam a probabilidade de adoecer e que, por outro lado, acompanhe pessoas doentes na sua prática de EF visando níveis superiores de funcionalidade.

A Ever.Act nasceu desta carência. Somos uma rede de médicos, fisioterapeutas, profissionais do exercício, nutricionistas e psicólogos diferenciados em EF, que pretende ajudar as pessoas a atingir os seus objetivos de funcionalidade ultrapassando barreiras e limitações. Focamo-nos na prescrição interprofissional de EF. Após a avaliação médica, é estabelecido um plano terapêutico baseado em EF com o fisioterapeuta ou com o profissional de exercício. O objetivo da alta não é “andar” ou a “ausência de dor”, mas sim, um objetivo definido com o doente, que pode ser nadar duas vezes por semana, correr a maratona ou jogar futebol.

Acreditamos que “quem tem um corpo, pode ser um atleta”4, independentemente do seu ponto de partida e do alvo de chegada. Afinal, mais importante que atingir os céus, é disfrutar do caminho até lá.

*Segundo Strassser, os valores de coorte para um estilo de vida independente são 17,5 mL/kg/min de capacidade aeróbica; e 30 kg e 18 kg para a força de preensão manual para homens e mulheres acima dos 65 anos, respetivamente.

Referências:

1 Barbara Strasser, Martin Burtscher. Survival of the fittest: VO2max, a key predictor of longevity?. Front. Biosci. (Landmark Ed) 2018, 23(8), 1505–1516. https://doi.org/10.2741/4657

2 Eurobarómetro Especial 525 2022, Desporto e actividade física.

3 International Classification of Functioning, Disability and Health, WHO, 2003; Functional Independence Measure, 2017; Eastern Cooperative Oncology Group, 1982

4 Nike’s misson, consulted in https://www.nike.com in 03/07/2023

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