A hipertensão arterial (HTA) é, de acordo com Vítor Martins, diretor do Serviço de Cardiologia do Hospital Distrital de Santarém (HDS), “talvez, o fator de risco mais importante para a doença cardiovascular”.

De acordo com o cardiologista, é já conhecido que 45% das pessoas com mais de 18 anos têm HTA e que esta doença atinge 60% das pessoas com 65 anos. A percentagem é ainda mais elevada a partir dos 80 anos, sendo que cerca de 95% das pessoas têm hipertensão.

“É uma patologia com a qual praticamente todos vamos ser confrontados. É preciso ter uma atitude estruturada em relação à HTA, que é causa de 70% dos eventos cardiovasculares. Atuando no sentido de controlar os valores da pressão arterial, vamos estar a reduzir a incidência das patologias cardiovasculares, nomeadamente do acidente vascular cerebral (AVC), tal como já tem vindo a verificar-se nas últimas décadas”, afirma Vítor Martins.

Dito isto, o especialista refere que a incidência do AVC em Portugal, que era das mais altas a nível europeu, diminuiu cerca de 50%, nos últimos 20 anos. “Esta redução tem, sobretudo, a ver com um melhor controlo da HTA. Apesar de cerca de 40% da população, em Portugal, ter hipertensão não controlada, há cerca de 20 anos, esse valor era de 60%”, explica, referindo que, apesar desta evolução, é preciso “continuar a trabalhar”.

A mudança deve-se, sobretudo, e de acordo com Vítor Martins, a uma maior consciencialização da população acerca da HTA e dos efeitos que esta pode ter na sua saúde em termos cardiovasculares. “A população tem mais informação e já sabe quais são as consequências de não controlar os valores de pressão arterial e, nesse aspeto, a comunicação social tem sido uma mais-valia”, observa o cardiologista.

Mas não é só, atualmente, “os fármacos são mais eficazes”, até porque são também mais “fáceis de administrar”. “Hoje, com as associações terapêuticas, os doentes precisam de tomar os medicamentos apenas uma vez por dia, enquanto que antigamente era necessário fazer várias tomas, o que não facilitava a adesão ao tratamento.”

O diretor do Serviço de Cardiologista do HDS faz ainda referência aos instrumentos que, hoje em dia, permitem fazer uma monitorização ambulatória da pressão arterial. “A HTA é uma doença, muitas vezes, silenciosa. Inicialmente, cerca de 50% das pessoas não tem sintomas, daí a importância dos check-ups. Os médicos, sobretudo os especialistas em Medicina Geral e Familiar, devem estar atentos. A HTA é uma doença que a partir dos 40 anos pode, ou não, ser uma realidade. É preciso ter atenção à história familiar e aos hábitos de vida, permitindo, assim, antecipar e iniciar um tratamento precoce”, menciona.

“Existem dois tipos de hipertensão: a hipertensão essencial e a hipertensão secundária. Esta última, é mais grave e, geralmente, surge em jovens com idade inferior a 30 anos, havendo uma razão para tal. É fundamental que se faça um check-up hormonal completo”, explica o cardiologista.

E continua acrescentando ser também preciso “ter atenção” aos doentes na faixa intermédia, entre os 40 e os 50 anos, uma vez que “a prevalência da obesidade aumenta bastante”.

“O excesso de peso e a obesidade são fatores de risco para a apneia do sono que, por si só, pode ser causa de HTA. É preciso fazer estudos de sono, por exemplo, e iniciar tratamentos tanto para a obesidade, como para a apneia, que vão permitir também tratar a HTA”, afirma.

Para terminar, Vítor Martins observa que os especialistas em Medicina Geral e Familiar devem, ainda, estar alerta para outro tipo de situações, como por exemplo o consumo exagerado de álcool e o tabagismo, que são “terríveis” e podem provocar HTA em idade jovem. O cardiologista lembra ainda o caso das mulheres fumadoras que tomam contracetivos orais e cuja probabilidade de terem HTA está aumentada.

“O controlo da pressão arterial e dos fatores de risco para HTA nos cuidados de saúde primários é fundamental”, salienta, concluindo.

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Texto: Sílvia Malheiro