Como é que se caracteriza e qual é a causa da incontinência urinária de esforço?

Esta incontinência ou perda de urina involuntária ocorre quando a mulher sofre um aumento da pressão intra-abdominal, nomeadamente quando tosse, espirra, ri, pega em pesos e salta ou corre. A causa diz respeito a uma deficiência nos mecanismos de suporte dos órgãos do pavimento pélvico, nomeadamente da uretra. Essa perda de suporte pode dever-se à idade, à menopausa ou à atrofia dos tecidos. Porém, na maioria dos casos, está relacionada com os partos, especialmente os traumáticos. Durante o parto ocorre a distensão dos músculos e estiramento nervoso que leva a que, futuramente, possam surgir disfunções na contração dos músculos e na enervação dos tecidos.

Outros fatores de risco comuns são as histerectomias e as doenças pulmonares por consumo excessivo de tabaco, que provocam quadros de tosse muito acentuadas, aumentando consideravelmente a pressão intra-abdominal que, quando de forma crónica, se vai repercutir a nível da sustentação dos órgãos. Não podemos esquecer também aquela que considero ser a principal causa: a propensão genética para este tipo de disfunções.

“Se realizássemos um estudo da população que refere incontinência urinária de esforço, muito provavelmente essas pessoas teriam um familiar que também sofria do mesmo problema.”

Que impacto é que este tipo de incontinência pode ter nos doentes?

Qualquer tipo de incontinência urinária tem um impacto social, psicológico, laboral e familiar na vida das mulheres, uma vez que são impedidas de ter uma vida normal devido a perdas de urina. Deixam de fazer exercício físico, de caminhar e de fazer muitas atividades.

Na maior parte dos casos, estas mulheres têm quadros de ansiedade e de depressão que levam ao isolamento social e até da própria família, ao absentismo laboral e a patologias derivadas do uso crónico de sistemas de contenção. Se a questão da incontinência urinária de esforço for diagnosticada por médico especialista existe uma solução que permite o rápido regresso à sua vida normal.

Cada vez mais, este tema está a deixar de ser tabu. As mulheres referem o problema ao médico de família com mais facilidade do que há 20 anos, que, por sua vez, referencia para uma unidade de Uroginecologia para que possam ser submetidas a uma cirurgia minimamente invasiva, que em casos de mulheres saudáveis e jovens até pode ser feita em ambulatório. O único inconveniente é o mesmo de qualquer outra cirurgia que envolva a reconstrução das estruturas de sustentação do pavimento pélvico: não devem fazer esforços nem ter relações sexuais com penetração durante oito semanas após a intervenção.

Para além da cirurgia, que opções existem a nível de tratamento?

Relativamente a outros tratamentos existe a reabilitação do pavimento pélvico, mas apenas em casos em que ainda existe alguma contração dos músculos, ou seja, em que haja a possibilidade de reabilitar os mesmos. No entanto, as doentes têm que estar motivadas para tal, já que a reabilitação do pavimento pélvico consome tempo, energia e as mulheres devem continuar a fazer exercícios após ser dada alta. Em qualquer fisioterapia recomendada as doentes têm de ter presente que um determinado músculo reabilitado muito rapidamente retrocede se não houver uma continuação a nível de exercícios.

“Estas doentes têm de ter uma disciplina muito grande se quiserem que o resultado perdure.”

É possível evitar a incontinência urinária de esforço?

A nível de prevenção, as mulheres devem manter um peso saudável, não fumar e praticar exercícios de Kegel. Estes exercícios estão hoje muito difundidos em todas as unidades de Uroginecologia e nas unidades de saúde primárias. As mulheres devem saber quais são os músculos que devem treinar e isso até pode ser ensinado numa consulta pós-parto, ou durante as sessões de fisioterapia. Idealmente, os exercícios devem ser feitos três vezes por semana, de modo a tentar prevenir uma situação de incontinência urinária de esforço no futuro.

CG

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