Imagine que deixou de brincar com os seus filhos ou netos porque tem receio de saltar ou pegar neles ao colo. Que deixou de participar em atividades sociais porque vai fazer esforços ou simplesmente rir. Que tem de planear os seus passeios consoante as casas de banho disponíveis ou que já não bebe líquidos quando sai de casa por mais de uma hora.

É este o drama que condiciona a vida das pessoas com incontinência urinária ou perda involuntária de urina pela uretra, que muitas vezes sofrem em silêncio, desconhecendo que o problema tem solução na maioria dos casos.

Apesar de surgir em ambos os sexos e em qualquer grupo etário, é mais prevalente nas mulheres, afetando cerca de 33% daquelas com mais de 40 anos. As suas causas são várias e surge num amplo espetro de gravidade, desde perdas ligeiras e ocasionais, a perdas diárias e abundantes, com grave prejuízo da qualidade de vida.

Os principais tipos de incontinência urinária são a de esforço, a incontinência por urgência ou imperiosidade (que integra o síndrome de bexiga hiperativa) e a incontinência mista.

A incontinência urinária de esforço é a mais frequente e nesta as perdas ocorrem durante a atividade física, como praticar desporto, ou esforços menores como rir ou espirrar. Deve-se ao enfraquecimento dos músculos do pavimento pélvico, que suportam os órgãos urogenitais e auxiliam o encerramento da uretra ou, mais raramente, por disfunção do esfíncter uretral.

A incontinência por urgência ocorre devido à contração súbita e involuntária do músculo da bexiga, sendo acompanhada por uma vontade urgente e inadiável de urinar. Neste caso a perda de urina pode surgir em repouso e é imprevisível, sendo por vezes despontada por situações como mexer em água ou o momento de abrir a porta de casa. As causas são perturbações que envolvem o controlo neurológico da micção, tais como a esclerose múltipla, mas também surge de forma idiomática, principalmente com o envelhecimento.

Na incontinência urinária mista coexistem estes dois tipos de perdas, pelo que é aquela que mais prejudica a qualidade de vida.

O grupo mais afetado por esta doença são as mulheres após a menopausa, já que o envelhecimento é um importante fator de risco. Na incontinência de esforço a obesidade e tratamentos como radioterapia ou cirurgia pélvica são causas importantes em ambos os géneros e nas mulheres também a gravidez e o parto vaginal, sobretudo se múltiplo.

O primeiro passo na resolução deste problema é reconhecer que ele existe e procurar ajuda médica especializada. Apesar de tão frequente, esta patologia é ainda muito ocultada por quem dela padece por vergonha, crença de que se trata de algo normal no envelhecimento ou até por desconhecimento da existência de tratamentos eficazes.

Neste contexto, sensibilizar a população, disponibilizando ferramentas de informação como o site “Na Bexiga Mando Eu“, que ajuda a entender e desmistificar o síndrome de bexiga hiperativa, é crucial.

O tratamento precoce previne problemas secundários como infeções urinárias e dermatites, bem como os danos psicológicos associados à insegurança e deterioração da autoestima e qualidade de vida. Este está em constante evolução e tem na maioria dos casos taxas de sucesso muito elevadas. Deve ser individualizado consoante o tipo de incontinência urinária e as particularidades do doente e acompanhado por medidas gerais, como manter um peso adequado à estatura e promover o bom funcionamento do intestino.

No caso da incontinência de esforço as medidas não invasivas são a reabilitação dos músculos do pavimento pélvico pela prática de exercícios especializados, que nos casos ligeiros poderá ser suficiente. Em casos mais graves ou na falência das medidas não invasivas, a solução são procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos, tais como a suspensão para-uretral através de slings autólogos ou colocação de fita sintética, com rápida recuperação pós-operatória e resultados imediatos.

Na incontinência urinária de urgência é importante evitar alimentos que possam ter um efeito irritante na bexiga, tais como o álcool, café ou citrinos e promover o treino vesical, no sentido de aumentar a tolerância da bexiga a volumes progressivos de urina. Neste caso o tratamento específico é feito com fármacos que visam induzir o relaxamento ou inibir a contração do músculo da bexiga. Em caso de falência do tratamento oral, poderá ser necessária a injeção de substâncias na própria parede da bexiga ou, em última instância, a neuro-modulação através de implantes medulares que promovem controlo neurológico da bexiga.

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