Em 2017, um artigo da revista científica Nature dava conta de um modelo de IA capaz de detetar cancro de pele, através de análise de imagens, com uma precisão comparável à de um médico dermatologista. Em 2018, um artigo na revista científica Annals of Oncology relatava uma evolução desse modelo que já permitia ultrapassar a capacidade dos especialistas nessa área. E, mais recentemente, em 2022, um ensaio clínico conduzido pela Universidade de Linköping, na Suécia, confirmou a possibilidade de um dispositivo detetar casos específicos de melanoma com uma precisão superior a 85%. Outro exemplo impressionante é o de um modelo de IA desenvolvido no MIT que conseguiu, através da análise de imagens de exames, prever o risco de cancro da mama até quatro anos antes do seu desenvolvimento efetivo.
Mas os avanços não são só ao nível da análise de imagens. Investigadores da Harvard Medical School lideraram um estudo que demonstrou a capacidade de um modelo de IA identificar indivíduos suscetíveis ao cancro do pâncreas até três anos antes do diagnóstico real, apenas com base nos seus registos médicos. Estes avanços são um claro indicativo de como a IA pode contribuir para o diagnóstico precoce e mais preciso de doenças graves, tornando-se numa aliada valiosa no combate ao cancro e no aumento da taxa de sobrevivência.
Apesar destes avanços notáveis, um inquérito recente realizado pelo Pew Research Center revelou que a maioria dos Americanos não se sente confortável com o uso de ferramentas de IA por parte dos seus prestadores de cuidados de saúde, principalmente no que diz respeito ao diagnóstico e tratamento. Essa relutância pode estar relacionada com a falta de compreensão ou desconfiança em relação ao funcionamento da IA, além de preocupações relacionadas com a privacidade e o uso inadequado dos dados clínicos. Portanto, os profissionais de saúde e as empresas que desenvolvem este tipo de tecnologias têm aqui um papel fundamental no esclarecimento destas questões e demonstração dos benefícios e segurança do uso da IA na medicina.
Curiosamente, um estudo recente revelou também que as respostas dadas a perguntas de pacientes pelo chatbot ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI, foram consideradas melhores em 79% das vezes, em comparação com as respostas de médicos, por mostrarem ser mais empáticas. Embora seja importante alertar que os chatbots ainda podem cometer erros graves, este estudo sugere que a IA pode ajudar a melhorar a comunicação dos médicos com os seus pacientes.
Esta descoberta levanta a possibilidade de a IA não ser apenas uma ferramenta utilizada pelos profissionais de saúde para diagnóstico, mas também uma interface através da qual os pacientes podem interagir mais com os seus médicos e obter informações relevantes e claras, ajudando a atingir um melhor entendimento entre médico e paciente. Mas tal só é possível se houver uma combinação adequada entre o papel do especialista médico e a tecnologia de IA para garantir um cuidado de saúde adequado e, principalmente, seguro.
Texto: António Lopes
Coordenador do Gabinete de Desenvolvimento de Sistemas de Informação;
Investigador de Inteligência Artificial no ISCTE