As perturbações psicóticas são das mais graves doenças em Psiquiatria com elevado impacto negativo nos doentes e suas famílias. A prevalência destas doenças é de cerca de 3%, sendo a mais relevante a esquizofrenia com uma prevalência de cerca de 1%. As perturbações psicóticas incluem ainda doenças tão diversas como algumas formas de perturbação afetiva bipolar e perturbação depressiva, perturbação esquizo-afetiva, perturbação psicótica breve, perturbação psicótica induzida por substâncias, entre outras.

Na década de 1990 constatou-se que as fases iniciais das perturbações psicóticas, nomeadamente da esquizofrenia, determinam a história natural da mesma. Assim o grande declínio de funcionamento social e ocupacional ocorre maioritariamente nos primeiros meses da doença com declínio posterior. Verifica-se existir uma janela de oportunidade de intervenção nesta fase para prevenção da deterioração subsequente.

Nesta mesma altura, a investigação mostrou também que a longa duração de psicose não tratada (período entre o início dos sintomas psicóticos e o início do tratamento) estava associada a pior prognóstico, sendo este um fator modificável.

Tendo em conta o exposto, surgiu, inicialmente na Austrália e depois com generalização em todo o mundo, o modelo da intervenção precoce na psicose. Trata-se de um modelo compreensivo, multidisciplinar com 3 objetivos fundamentais: 1) Redução da psicose não tratada; 2) Intervenções cuja evidência clínica mostra impacto positivo nas fases iniciais das perturbações psicóticas; 3) Intervenção nos doentes com risco de psicose. Este último objetivo, com alvo de intensa investigação nos últimos anos, visa identificar de forma prospetiva os doentes com risco de desenvolvimento de uma perturbação psicótica, nomeadamente a esquizofrenia.

A finalidade primordial será evitar a transição para psicose, ou em alternativa, pelo menos atrasar o início da mesma. Estão identificados alguns critérios para estes doentes, sejam os critérios ultra-high risk ou os sintomas básicos da esquizofrenia.

Este objetivo apresenta duas dificuldades: por um lado os critérios atuais identificam ainda um número significativo de potenciais doentes falsos positivos; por outro lado, estão ainda em estudo as melhores intervenções terapêuticas para os objetivos mencionados neste grupo de doentes.

Em Portugal tem surgido desde há cerca de duas décadas um interesse crescente na intervenção precoce na psicose. Existem ao longo do país várias equipas que se têm organizado de forma a oferecer um conjunto de intervenções baseadas na evidência para os doentes que sofreram um primeiro episódio psicótico.

Estas equipas multidisciplinares disponibilizam ações como intervenção familiar, psicoeducação, terapia cognitico-comportamental para a psicose, rastreio de comorbildiades físicas, peer support, case management, entre outras.

Algumas destas equipas prestam também cuidados aos doentes identificados com critérios de risco ultra-elevado de psicose. Infelizmente, não existindo uma política nacional para a implementação deste tipo de intervenções no nosso país, estas equipas estão na contingência dos recursos e organização existentes em cada serviço de Psiquiatria.

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