O joanete é uma das lesões crónicas mais comuns dos pés e uma das principais razões de procura por especialistas de pé e tornozelo. Sofre deste problema? Então este artigo pode ser uma boa ajuda. Saiba em que consiste a patologia, o que leva ao seu aparecimento e que tratamentos são aconselhados.

O Hallux Valgus é uma alteração anatómica, que é caracterizada pelo desvio do dedo grande do pé (hallux), em direção aos outros dedos, e do primeiro metatarso (osso anterior ao hallux) para dentro. Com isto, assiste-se a um aumento ósseo na base do primeiro dedo. Normalmente, o hallux desloca-se lateralmente e a cabeça do primeiro metatarso fica medialmente saliente.

Sabe-se que o joanete é uma condição progressiva. Quer isto dizer que, se não for tratado precocemente, pode progredir, levando a deformidades mais avançadas. Geralmente, quando o desvio já se instalou por muito tempo, a articulação torna-se rígida, não permitindo o movimento.

Apesar das causas do joanete serem pouco conhecidas, sabe-se que são resultado de alterações na articulação metatarsofalângica (articulação que une os ossos do metatarso e as falanges). Isso leva a que exista um desvio do dedo grande para cima dos outros dedos. Parecem existir alguns fatores que aumentam a probabilidade dessa deformidade se desenvolver. É muito improvável que apenas um fator leve ao aparecimento do joanete. Normalmente, aparece por uma combinação de fatores internos e externos ao doente.

Os fatores internos dizem respeito ao próprio indivíduo e podem ser:

  • Hereditários: pessoas com familiares diretos que apresentem esta alteração têm tendência a desenvolver o desvio no hallux. A predisposição genética também está ligada a outros fatores causais, como o tipo de pé, por exemplo;
  • Pé chato (pé plano) e pronação excessiva: o pé plano e pronação excessiva do pé são fatores importantes para o desenvolvimento do joanete;
  • Idade: o joanete é uma doença progressiva. Com o envelhecimento, existe uma maior a probabilidade de o joanete se desenvolver. No fundo, o envelhecimento leva à perda muscular natural e à alteração da posição dos ossos do pé, fazendo o indivíduo perder o suporte articular, o que contribui para o desenvolvimento da doença;
  • Peso: o aumento do peso corporal eleva a quantidade de carga nos pés, fator que pode diminuir o arco e sobrecarregar no hallux. Esse detalhe, associado a outros, acentua a formação do joanete;
  • Doenças reumatológicas pré-existentes: artrite reumatoide, gota ou lúpus;
  • Fraqueza da musculatura intrínseca do pé: os músculos intrínsecos do pé ajudam na função de mola dos ossos do pé e na estabilização do arco plantar, com o intuito de amortecer a pisada. Além disso, a contração da musculatura auxilia na fixação do dedo grande;
  • Doenças neuromusculares: as doenças neuromusculares, principalmente as que atrofiam o músculo, colaboram para o desenvolvimento de deformidades, porque diminuem o suporte do tecido.

Já os fatores externos são relativos ao ambiente, como:

  • Calçado: trata-se do fator externo mais importante. Utilizar, constantemente, calçado que é mais apertado na região dos dedos – como saltos e calçados com ponta fina, por exemplo – favorecem o desvio do hallux, devido à compressão direta nos dedos;
  • Atividade física: atividades que aumentam a sobrecarga nos pés ou que requerem o uso de calçados mais apertados podem acelerar a formação do joanete. Os atletas de corrida ou de ballet, por exemplo, tendem a desenvolver esta doença;

Os joanetes atingem cerca de 10 vezes mais as mulheres do que homens. Isto deve-se, principalmente, a 2 circunstâncias: devido ao uso de calçado fino na ponta e com salto (principal causa) e os estudos mostram que as mulheres têm uma carga genética maior do que os homens.

Os sinais mais comuns provocados pelos joanetes são uma saliência óssea na base do dedo grande, edema e rubor na articulação do dedo grande, a pele na região fica mais grossa e o dedo grande pode começar a rodar para dentro, fazendo calos na região.

Quando o joanete se está a desenvolver, é comum sentir-se dores nas articulações, agravadas pela pressão dos sapatos ou atividade. Na fase inicial, o joanete pode não apresentar dor ou apresentar dor ocasional. Geralmente, esse desconforto está associado à utilização de calçados apertados ou sobrecarga. Porém, com o desenvolvimento progressivo da deformidade, essa dor pode tornar-se constante, devido à inflamação e à formação do calo ósseo que limita o movimento articular.

O joanete pode ainda afetar a marcha e o equilíbrio da pessoa, uma vez que altera a biomecânica da marcha, principalmente nas fases em que ocorre a impulsão.

O diagnóstico leva em conta os sintomas e a avaliação clínica das estruturas ósseas do pé comprometidas pelo joanete. Exames de raios X em carga costumam ser úteis para determinar a gravidade da lesão e para orientar a escolha do tratamento. Excecionalmente, poderá ser necessário recorrer à Tomografia Computorizada (TAC) ou à Ressonância Magnética (RMN).

Não existe um tratamento padrão para todos os casos de joanete. Primeiramente são avaliadas as condições e necessidades de cada doente – faixa de idade, estilo de vida, estado geral da saúde e intensidade dos sintomas, por exemplo – antes de propor um tratamento conservador ou cirúrgico. No início do tratamento é preciso reeducar o paciente e modificar os seus calçados. Em casos leves, o tratamento não cirúrgico costuma resolver o problema. O tratamento conservador não visa à correção da deformidade – o hallux valgus é um problema permanente, que só deixará de existir se houver a cirurgia. Se o tratamento conservador não trouxer resultados ao paciente, a cirurgia passa a ser indicada. Em pacientes que apresentam hallux valgus sem sintomas, não é necessário realizar tratamento.

A proposta é aliviar os sintomas e impedir a progressão do desvio. Para atingir esses objetivos, a primeira medida é trocar os sapatos apertados e duros por outros mais folgados e macios, sem salto ou com salto baixo. A ponta deve ser arredondada ou quadrada, para acomodar melhor os dedos e diminuir a pressão nas zonas inflamadas.

Outros recursos terapêuticos: utilização de protetores ortopédicos sobre a área deformada da articulação e de separadores, entre os dedos, de forma a manter o dedo grande afastado do segundo dedo. Em geral, não há evidências de que estas alternativas melhorem o joanete, mas podem ajudar a melhorar os sintomas. Pode ser também receitada medicação à base de anti-inflamatórios e analgésicos.

O tratamento cirúrgico é o único que consegue corrigir a deformidade e, quando as medidas conservadoras falham no controlo das queixas, é a melhor opção. Existem mais de cem técnicas diferentes que permitem corrigir a deformidade, a fim de restaurar as funções perdidas e eliminar os sintomas dolorosos. A técnica percutânea, por exemplo, permite que o procedimento seja realizado através de pequenos orifícios, por onde são introduzidos os instrumentos para corrigir a deformidade. Com as técnicas atuais, geralmente o paciente pode apoiar o calcanhar para caminhar já no dia seguinte. Contudo, deve andar somente o absolutamente necessário, para evitar inflamações.

Quando o joanete está inflamado deve massajar com cubos de gelo: o gelo aplicado sobre a região diminui o fluxo sanguíneo e desacelera a resposta inflamatória no local. Embora não resolva o problema em si, a sua aplicação, por 10 minutos, gera o alívio imediato da dor. Pode ser realizada de uma a três vezes por dia. Além disso, pode ainda realizar exercícios de fortalecimento, uma vez que fortalecer os músculos do pé é essencial, pois a musculatura garantirá a estabilidade e alinhamento dos ossos, caso haja alguma sobrecarga.

Para que não se assista à piora dos sintomas, é necessário ter em conta um conjunto de atitudes:

  • Redobre a atenção e cuidados na hora de comprar sapatos. No caso, estes precisam de acomodar os pés com conforto, para não interferir na distribuição equilibrada do peso do corpo;
  • Dê preferência a calçados de ponta arredondada ou quadrada; evitar a ponta fina;
  • Lembre-se, na hora de comprar calçados, que os pés aumentam um pouco de tamanho no fim do dia ou quando envelhecemos. Por isso, é sempre melhor que a ponta dos dedos não encoste na ponta do sapato;
  • Evite sapatos com saltos maiores do que 3 cm;
  • Não use o mesmo par de sapatos ou de sapatilhas durante dias seguidos, para evitar o atrito sempre no mesmo ponto dos pés;
  • Ande descalço, sempre que possível, especialmente em terrenos irregulares ou na areia, para fortalecer os dedos e articulações dos pés;
  • Procure um ortopedista de pé e tornozelo, se os seus pés estiverem doloridos ou se notar alguma alteração no seu formato e aparência.

As pessoas que sofrem deste problema, antes de começarem a prática de algum desporto, devem consultar um ortopedista. A seleção do calçado adequado é essencial e cada modalidade apresenta o seu calçado específico.

Os joanetes surgem associados à utilização de sapatos muito apertados e de salto alto, com maior prevalência nas mulheres. É sobre os pés que todo o corpo se suporta na locomoção e muitas vezes não lhes damos a devida importância e cuidados para que estes se mantenham saudáveis. A utilização de sapatos confortáveis é essencial. Os saltos não devem exceder os 5 cm de altura. Atualmente, a cirurgia é um procedimento simples. Ainda assim, esta deve ser vista como uma última opção – caso todos os outros tratamentos não tenham resultado.

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