“Segundo a evidência científica, as mulheres são classicamente mais preocupadas com a saúde do que os homens, nomeadamente no que diz respeito ao sono dos outros ao seu redor, mas apresentam uma baixa perceção em relação aos seus próprios sintomas”, começa por referir Susana Sousa.
Para suportar esta questão, a especialista indica que, muitas vezes, os sinais clássicos de perturbações do sono que se verificam nos homens, como o ressonar e a sonolência durante o dia, não se verificam nas mulheres. “Por exemplo, quando falamos de apneia do sono na mulher, os sintomas são muito mais frequentemente insónias, que não são encaradas como um alerta para uma doença, apesar de terem um impacto muito grande na qualidade de vida e na associação a outras doenças.”
Desta forma, e de acordo com a especialista, eventuais queixas de fadiga e de insónias acabam por ser descredibilizadas pela mulher, que associa esses sintomas a outras causas da sua rotina diária. “Esta baixa perceção de eventuais sintomas leva a que o diagnóstico seja muito mais difícil na mulher.”
“É muito mais frequente e muito mais fácil diagnosticar perturbações do sono no homem”
A especialista não deixa de alertar para a importância deste tipo de problemas, que podem ter consequências como complicações e doenças cardiovasculares, desenvolvimento de obesidade ou alteração das principais funções do sono, nomeadamente do sistema imunitário. “Quem tem uma perturbação do sono pode estar mais frequentemente doente, nomeadamente com algum tipo de infeção”.
Além disso, “o sono é o nosso principal regulador emocional, o que significa que uma má qualidade de sono se associa também a perturbações do humor, nomeadamente a depressão, a ansiedade, que também têm uma prevalência aumentada nas mulheres”.
Susana Sousa indica ainda que algumas perturbações do sono estão cada vez mais associadas a outras doenças neurológicas degenerativas que não foram diagnosticadas e tratadas atempadamente, nomeadamente à doença de Alzheimer e à doença de Parkinson.
“As complicações das perturbações do sono são um mundo muito vasto proveniente de as funções do sono não estarem asseguradas”
Salientando que as mulheres são diferentes “não só em relação ao homem, como entre si, tendo em conta as várias fases de vida que atravessam, desde a puberdade, em alguns casos a gravidez, até chegar à menopausa”, um grupo de profissionais de saúde começou a debater sobre o tema do sono na mulher. Mais tarde, decidiram espalhar a mensagem para a população em geral com o intuito de fomentar a literacia em saúde.
“Achámos que um livro seria a forma ideal de chegar à população de uma forma esclarecedora, sem que fosse maçadoramente científica. No fundo, queremos alertar para as doenças do sono na mulher e para a necessidade de que, caso os sintomas persistam ao longo do tempo, as pessoas devem procurar ajuda”.
Assim, estas profissionais de saúde decidiram desafiar um grupo de escritoras para que, com base em casos clínicos reais, dessem vida às personagens para falar sobre diferentes aspetos do sono nas mulheres. “Tentámos abranger uma grande parte das doenças do sono mais frequentes, bem como os diferentes motivos e fases de vida da mulher que lhes possam causar alterações de sono. Queremos primar pela diferença, pelo que o livro acabou por ser a forma de chegar às pessoas e que esperamos que seja um sucesso”.
Para concluir, Susana Sousa afirma que o livro começa por lembrar que, às vezes, as mulheres só precisam de dormir. “Acrescento que as mulheres precisam de dormir bem e de estar atentas ao próprio sono. De facto, o sono é um superpoder, mas é preciso otimizá-lo”. A especialista compara o sono a um suplemento “gratuito” que permite “um maior número de anos de vida saudável”, afirma.
“Mantemos a necessidade de reforçar a igualdade de direitos mas, de facto, os homens e as mulheres são diferentes no que diz respeito ao sono”, termina.
CG
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