Quais são as patologias que mais preocupam os podologistas?

É efetivamente o pé diabético. A Organização Mundial de Saúde considera que a diabetes mellitus é de facto uma pandemia a nível mundial e uma das principais complicações desta patologia é o pé diabético, que leva a inúmeras amputações. Apenas em Portugal estamos a falar de mais de 1500 amputações por ano, o tem um impacto, do ponto de vista de saúde, de mais de 25 milhões de euros gastos em amputações por ano. É preciso inverter esta tendência, investindo mais na prevenção. É essencial diagnosticar e classificar segundo o grau de risco, porque é possível evitar as amputações. Esta é de facto a patologia que mais preocupa podologistas, pelo impacto que tem na qualidade de vida de pessoas e também no orçamento de Estado.É preciso prevenir, tratar, mas também investigar. E, obviamente, apostar na formação.

“Somos cerca de 500 podologistas, sendo que 70% ou 80% trabalham na zona norte”

E que outras patologias afetam os pés, independentemente da diabetes?

Outras doenças mais comuns que acometem a população portuguesa têm muito a ver com a faixa etária. Nas crianças é o pé plano, que, na maior parte das vezes, é benigno, afetando em regra as crianças entre os 5 e os 10 anos de idade. Deve ser tratada, porque tem repercussões não só a nível do pé, mas ainda no joelho e pode ter implicações na própria postura da criança, contribuindo para o aparecimento de escoliose.

Depois, no Desporto também temos inúmeras patologias, nomeadamente infeções fúngicas, como o pé de atleta, por causa do uso habitual de balneários. Destaco também, noutras faixas etárias, os problemas dos joanetes, que limitam a marcha e até o uso de calçado. O mesmo acontece com o desvio do primeiro dedo e com os dedos em garra, que provocam metatarsalgias. Acresce-se as hipercaratoses (calosidades), que provocam mesmo o espessamento da pele do pé, devido a má postura ou ao uso de um sapato apertado. Não é uma alteração estética, é uma patologia, tem forte impacto no dia a dia, e deve ser tratada e encarada como tal, no sentido de tentarmos resolver efetivamente o problema que a provoca. É essencial treinar o apoio do pé e usar calçado adequado. Os mais idosos têm problemas associados a à osteoartrose, sarcopenia, síndrome de fragilidade.

É assim cada vez mais importante contar-se com o apoio de um podologista, sobretudo no Serviço Nacional de Saúde (SNS)?

Sim, é um facto. A Podologia é uma das profissões mais recentes da área de Ciências da Saúde em Portugal. Apesar de estarmos a comemorar este ano os 25 anos dos primeiros licenciados em Portugal, ainda há muito a fazer. Somos cerca de 500 podologistas, sendo que 70% ou 80% trabalham na zona norte.

“A maioria do apoio é dado no caso do pé diabético, mas as nossas competências vão além desse problema grave de saúde”

Por que razão há mais profissionais na zona norte?

Foi onde surgiu a primeira universidade com licenciatura em Podologia. No SNS existem 15 hospitais com consulta de Podologia, sobretudo por causa do pé diabético. Precisamos de mais podologistas no SNS, nomeadamente nos cuidados de saúde primários, para que haja um diagnóstico precoce. A maioria do apoio é dado no caso do pé diabético, mas as nossas competências vão além desse problema grave de saúde.

Em termos de futuro, quais são os vossos objetivos como associação?

Bem, a associação foi formada em 1999 e desde então conta com quase 90% dos podologistas portugueses. O acesso regulado à profissão data de 2014 com a aprovação da lei 65/2014, de 8 de agosto. Esperemos que estes profissionais tenham as devidas condições, devendo-se caminhar no sentido de poderem fazer prescrição, porque o podologista é um profissional licenciado na área das ciências da saúde. Tendo um papel fundamental no tratamento é preciso criar legislação nesse sentido. É isso que acontece, por exemplo, na vizinha Espanha. Desta forma, podemos estar mais próximos dos doentes e dar uma resposta mais adequada às suas necessidades. Os problemas dos pés afetam realmente a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas e com a nossa ajuda é possível prevenir e tratar muitas situações.

Texto: Maria João Garcia