Chamo-me Isabel Marques. Apesar de ter lúpus, desde os meus 34 anos, e de saber que esta é uma doença autoimune que me irá acompanhar pela vida toda, nunca desisti de mim, tive muitos sufocos em todo este meu processo; dei muitos passos no escuro, mas aprendi a investir em mim. Saber aceitar, talvez, tenha sido o caminho mais doloroso e que mais trabalho me deu, para que eu hoje pudesse escrever este texto.

Aprendi a gostar de mim e descobri que eu também existia; não era a doença que me iria definir como pessoa. Fui ao longo do tempo adquirindo mais maturidade e fui analisando todo o meu percurso de reconstrução individual. Ter um lar rodeado de amor foi, sem dúvida, o fio condutor para o sucesso deste processo da minha doença. Investi muito em formações de autoconhecimento. Aprendi que só descobrimos as coisas quando as enfrentamos na pele e sou mais forte, hoje.

Mesmo quando o meu coração chora e grita, é preciso ter a força para remover as barreiras impostas pelo lúpus, que tanto transforma, até muitas vezes, a nossa maneira de pensar e agir. Criar estratégias de adaptação foi algo transformador para mim. A beleza da vida é algo fascinante, bem como as oportunidades que a vida me tem dado para seguir em frente. Não pude mudar o tempo, pois tudo na minha vida mudou num segundo, após o diagnóstico.

Tenho a consciência plena dos momentos bem sofridos pelos quais tenho passado, mas tenho seguido o meu caminho sem carregar demasiado esse peso constante, porque a minha vida tem sido caminhar, cair, levantar e aprender e, sobretudo, valorizar cada conquista diária. Ao longo destes anos, tive de passar por vários processos solitários, que tiveram que ser passados para que eu hoje pudesse aceitar a doença e a pudesse ouvir dentro de mim. Hoje, valorizo as minhas prioridades.

Aprendi a descomplicar a vida. Amanhã nasce um novo amanhecer, que irá doer menos que o dia anterior; o meu caminho fui eu que o tive que percorrer, apesar das pedras que encontrei. Neste caminho, viver as minhas verdades, bem como a minha realidade com o lúpus, é permitir-me a mim própria ser feliz com todas as minhas escolhas. Não tenho tempo para perder tempo. São as coisas mais simples da vida que me dão forças para poder viver.

Ao longo destes 20 anos de diagnóstico, encontrei no silêncio, muitas vezes, a forma de muitas respostas. Encontro, junto ao mar, o meu verdadeiro equilíbrio. Aprendi a nunca desistir de mim.