Santa Apolónia faz parte da história dos lisboetas. E também de muitos portugueses que da maior estação ferroviária nacional embarcaram para a viagem das suas vidas: a emigração, que aqui tinha ponto de partida para diversos países da Europa, principalmente França, nas décadas de 50 e 60.
A atmosfera ferroviária está presente em todo o The Editory Riverside Hotel, dos longos corredores, a lembrar o interior de uma carruagem, ao restaurante Impulso, decorado como se uma estação se tratasse. E trata, já que o hotel com classificação de 5 estrelas está instalado no edifício da estação de Santa Apolónia, com a ligação direta a fazer-se também no espaço, através de uma esplanada que converge com as plataformas de embarque e alguns quartos a desfrutarem de vista sobre o interior da estação ferroviária.
Aberto em 1865, no reinado de D. Luís I, o edifício histórico, edificado no lugar de um antigo convento, tornou-se hotel em 2022, depois de uma recuperação cuidada que preservou a traça e os diversos elementos dos antigos usos como escritório. Com apenas algumas exceções, cada um dos 126 quartos (a partir de €150), de 11 tipologias – incluindo duas júnior suítes e uma master suíte - e distribuídos por três pisos, adotou o espaço das antigas salas, desfrutando de amplas janelas que tanto convidam a mirar o rio Tejo como a cidade, ou até o interior da estação. É o caso dos dois quartos “rosácea”, únicos, com uma enorme janela redonda em vitral.
Mala de cartão
A decoração remete para as viagens de outrora: intensos tons de vermelho e azul definem quartos e zonas comuns, como os corredores; os candeeiros de teto replicam os da estação e até as antigas portas foram preservadas. Pelo espaço, objetos antigos - pertencentes à Infraestruturas de Portugal, num espólio em exposição ou adquiridos em antiquários, sublinham a ligação ao passado: há móveis antigos, secretárias, mesas, cadeiras, malas de viagem ou máquinas de escrever para apreciar nas zonas comuns. Em estreita ligação, também as fardas dos colaboradores adotam a estética ferroviária antiga. O projeto coube ao gabinete Saraiva + Associados. Na receção, toda a estrutura – incluindo a escadaria que conduz aos pisos cimeiros - permaneceu semelhante ao passado, enquanto lá fora o bordeaux destaca o exterior do edifício localizado na frente ribeirinha.
Nas paredes, um artista basco Jordi Llorella foi convidado a registar a memória da estação. Utilizou malas da década de 50 para fotografar, “lembrando a emigração portuguesa para França, já que muitas pessoas partiram daqui”, destaca a diretora da unidade, Sónia Fragoso. Com a emigração como foco central, foi feito um registo de um património arquitetónico das estações e apeadeiros de Portugal utilizando câmaras pinhole feitas a partir do “objeto simbólico que são as malas de cartão” usadas pelos migrantes. O resultado pode apreciar-se pelas paredes do hotel, por exemplo, a caminho da sala de fitness.
Embarcar num Impulso
Sala de estar, bar e restaurante, no amplo espaço do Impulso, que soma cerca de 500 m2, a cozinha aberta é encimada por relógios que atualizam a hora em várias cidades do mundo, evocando uma bilheteira. Com um bar no centro, aludindo a uma carruagem-bar, a sugerir cocktails clássicos e de assinatura, oferece cerca de 70 lugares disponíveis durante todo o dia.
A carta de vinhos curta mas abrangente em termos de regiões nacionais, acompanha uma ementa baseada em produtos portugueses. O couvert composto por pão de massa mãe e azeite do Esporão com vinagre balsâmico e três manteigas: azeitona, limão siciliano e alho, inicia. Para começar, sugere-se a “Salada de presunto ibérico” com queijo da ilha e melão (€14) ou as “Vieiras braseadas com couve-flor em texturas” (€18,50). Nos peixes, o “Fiel amigo”, confitado com xerém de coentros, pak choi e azeitona negra desidratada (€27) ou o favorito da ementa, “De norte a sul e ilhas”, o arroz do mar, aromatizado com coentros, lima e malagueta (€23). No capítulo das carnes as propostas recaem sobre a “Bochecha de porco a baixa temperatura” (€26), o Hambúrguer de cachena (€15), o Pregfo no pão (€15) ou, “Bem à nossa moda” – lombo de novilho à portuguesa, batata à rodela e crocante de presunto (€30). “Brás de legumes” (€22) resume a oferta de vegetarianos antes de chegar à sobremesa, onde se destaca o “Leite creme queimado com frutos vermelhos e frutos secos caramelizados (€9). Com chefia executiva de Hugo Dias, prepara-se nova carta para inaugurar no mês de dezembro.
Com certificação green e membro da Historic Hotels Worldwide, o The Editory Riverside Hotel (Avenida Infante D. Henrique, 1, Lisboa. Tel. 219023000) conta ainda com uma Sala Nobre para eventos.