O português Nuno Miguel Silva Duarte venceu o Prémio LeYa com o romance “Pés de Barro”, que oferece "um retrato dos anos 1960", além de ser "um anúncio metafórico do 25 de Abril", disse esta quarta-feira o presidente do júri, Manuel Alegre.

“É inacreditável. Quando comecei a escrever a história, nunca imaginaria ganhar um prémio destes”, reagiu o autor ao Expresso, na primeira declaração a seguir ao anúncio. Publicitário de 51 anos nascido em Sintra e a viver em Lisboa, Nuno Miguel Silva Duarte diz que a escrita “tem sido um processo de aprendizagem”. “Obrigou-me a levantar-me mais cedo e deitar-me mais tarde para encaixar isto na minha vida, e andar meses a escrever para ver no que ia dar, mas eu queria saber como funcionava, como se fazia um livro. Tem sido sempre a minha procura, além de gostar muito de ler”, conta ele.

“Pés de Barro”, que aborda a história da construção da primeira ponte sobre o rio Tejo, surgiu de um duplo interesse pelos bairros operários de Lisboa e pela ponte hoje chamada 25 de Abril, que se juntam numa narrativa cujos lugares são reais e as personagens, ficcionais. “Era um país paradoxal, que construía a maior ponte da Europa, enquanto por baixo dela, todas as semanas, partiam paquetes com milhares de rapazes rumo a uma guerra perdida”, resume o premiado.

Aquela que foi a “edição mais concorrida de sempre do prémio”, segundo Pedro Sobral, CEO do grupo LeYa, desde a criação do prémio em 2008, recebeu 1123 originais, provenientes de 15 países, sobretudo de Portugal e do Brasil, mas também de França, Cabo Verde e Alemanha, entre outros. Desses 1123 concorrentes, foram selecionados oito finalistas.

Este ano, fizeram parte do júri o professor da Universidade de Coimbra José Carlos Seabra Pereira, a jornalista e crítica literária portuguesa Isabel Lucas, o antigo reitor da Universidade Politécnica de Maputo Lourenço do Rosário, a poeta e historiadora Ana Paula Tavares, e a jornalista e historiadora brasileira Josélia Aguiar.

Em 2024, a distinção voltou a recair sobre um escritor português, o que não acontecia desde 2021, quando foi outorgada a José Carlos Barros. Em 2022 e 2023 o prémio foi atribuído a Celso Costa e Victor Vidal respetivamente, ambos brasileiros. Tendo já premiado 13 romances e permitido a publicação de 39 inéditos, o galardão tem um valor pecuniário de 50 mil euros, sendo o maior prémio literário para romances inéditos.