É sobretudo à noite ou em locais mais ermos que o perigo de um ataque pode tornar-se real. E muitas mulheres já sentiram esse medo que as fez acreditar que não chegariam a casa. Foi o caso de Julieta Rueff, lisboeta, que assume ter tido "más experiências" ao regressar a casa. "Houve uma noite em que cheguei mesmo a achar que não ia conseguir chegar sã e salva", conta ao SAPO, nos corredores da Web Summit onde vai mostrando como funciona o engenho que nasceu da sua necessidade.
Aos 23 anos e a viver em Barcelona, Julieta não é de ficar à espera, é uma fazedora dos seus próprios caminhos. E decidiu que não iria continuar a sentir-se insegura, nem que a mudança implicasse encontrar, ela própria, uma solução. Pôs-se a pensar no que poderia funcionar e em como transpor soluções que já existiam, como os alarmes de casa ou do carro, para um aparelho prático e de simples utilização, que pudesse ser usado como forma de proteção pessoal. E chegou à fórmula da FlamAid.
"O medo paralisa e eu achei que não podia continuar assim; nem eu nem as outras mulheres. Então decidi criar um dispositivo que permitisse às pessoas ter alguma forma de proteção e pedir ajuda em situações de emergência. Comecei a pensar nos sistemas de segurança existentes, os ativos, como o spray pimenta (que é ilegal), e os passivos, que recorrem ao som e à geolocalização para enviar alertas à polícia e aos contactos de emergência." E depois foi "só" concretizar. "O que fizemos foi extrapolar os alarmes de casa para a rua e usar o sistema mais simples de o disponibilizar às pessoas: uma granada de mão."
Da ideia à concretização, foi preciso levantar capital. E a maior prova de que o projeto tinha futuro foi a rapidez com que Julieta conseguiu 500 mil euros numa ronda de investimento. "Fechámos essa ronda há cerca de três meses e conseguimos levantar o capital junto de business angles, investidores privados e de um fundo de investimento espanhol; estamos no mercado desde outubro", conta ao SAPO.
Discreta mas estilizada (até a pedido, mediante um extra de 5 euros) e com um encaixe simples, a FlamAid é pendurada na mala ou no cinto, por exemplo, ficando sempre à mão para fácil utilização. Em caso de emergência, basta puxá-la pelo fio, como se fosse uma granada de mão, e o aparelho imediatamente faz soar um alarme de 110 decibéis, partilhando em simultâneo um alerta por GPS com a localização da utilizadora aos contactos de emergência inscritos. Por subscrição, à semelhança do que acontece com os alarmes de casa, essa informação também é enviada à esquadra mais próxima de forma a que as autoridades possam agir com rapidez.
À venda no site da marca, que tem sede em Espanha, o FlamAid custa 59.99 euros e vem com garantia de 3 anos e uma autonomia entre cargas de dez dias. E está a ser um sucesso, com largas centenas de granadas vendidas, apesar de contar apenas cerca de um mês no mercado. "O feedback dos utilizadores tem sido muito positivo. Dizem que se sentem muito mais seguros e isso para nós é muito gratificante, porque era mesmo esse o objetivo."
Com sede em Espanha, o êxito da granada de defesa pessoal tem sido tal que mesmo só com um mês de vendas Julieta já tem planos de levar o negócio para as Américas. "O objetivo é começar a expansão internacional já no ano que vem, apostando sobretudo na América Latina. Países como o Brasil, a Colômbia ou o México, onde se sente essa necessidade de proteção nas ruas em grande escala", conta a fazedora ao SAPO.