"A administração Biden autorizou a utilização das armas que fornece à Ucrânia até 300 quilómetros dentro do território russo", disse o alto representante da UE para a Política Externa numa conferência de imprensa após a reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, referindo-se à decisão do Presidente norte-americano de permitir que a Ucrânia dispare sistemas ATACMS contra o território russo.

"Não me parece que seja uma distância espetacularmente profunda", afirmou o político espanhol, que se tornou o primeiro líder europeu a falar especificamente sobre a decisão de Washington, que até agora tinha evitado a confirmação oficial.

Borrell não quis entrar em pormenores sobre as razões que levaram Biden a dar este passo ou porque é que a decisão surge após as eleições presidenciais e algumas semanas antes do regresso do republicano Donald Trump à Sala Oval.

O Alto Representante sublinhou que a Ucrânia deve poder utilizar sistemas militares "não só para parar as flechas, mas para atingir o arqueiro", mas descartou uma decisão unânime da UE, reiterando que cabe a cada Estado-membro decidir as condições das armas que fornece a Kiev.

A decisão de Washington foi revelada no domingo pelos meios de comunicação social norte-americanos, após mais um fim de semana de ataques russos em grande escala e mortíferos contra a Ucrânia, depois da confirmação da mobilização de milhares de soldados norte-coreanos para combater ao lado das tropas de Moscovo.

A continuidade do apoio de Washington foi posta em causa durante a campanha da eleição para a presidência de Trump, cujas declarações levaram a Ucrânia a recear que pretenda forçar o fim dos combates à custa de concessões inaceitáveis para Kiev.

A Rússia ameaçou hoje adotar uma "resposta apropriada" no campo de batalha no caso de a Ucrânia disparar mísseis norte-americanos de longo alcance contra o seu território, após luz verde de Washington sobre a sua utilização.

"O uso de mísseis de longo alcance por Kiev para atacar o nosso território significaria a participação direta dos Estados Unidos e dos seus satélites (...), bem como uma mudança radical na essência e na própria natureza do conflito", declarou a porta-voz da diplomacia de Moscovo em comunicado.

No texto, Maria Zakharova adverte que "a resposta da Rússia neste caso será apropriada e será sentida".

A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após a desagregação da antiga União Soviética - e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.

A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.

Já no terceiro ano de guerra, as Forças Armadas ucranianas confrontaram-se com falta de soldados e de armamento e munições, apesar das reiteradas promessas de ajuda dos aliados ocidentais, que começaram entretanto a concretizar-se.

As negociações entre as duas partes estão completamente bloqueadas desde a primavera de 2022, com Moscovo a continuar a exigir que a Ucrânia aceite a anexação de uma parte do seu território, e a rejeitar negociar enquanto as forças ucranianas controlem a região russa de Kursk, parcialmente ocupada em agosto.

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