Isabel Infantes/Reuters

A argelina Imane Khelif e a italiana Angela Carini enfrentaram-se no ringue durante menos de um minuto. Por duas vezes, a atleta italiana teve de parar o combate e falar com o treinador. Uma dor intensa no nariz, depois dos golpes iniciais, fê-la desistir da prova aos 46 segundos. Sem esconder a indignação, Carini saiu em lágrimas e, horas depois, a adversária começou a ser alvo de insultos e críticas nas redes sociais, com uma chuva de comentários a sugerirem que a atleta não era uma mulher.

No ano passado, Imane Khelif foi afastada da final do campeonato do mundo pela Associação Internacional de Boxe. Na altura o presidente da associação, que organizou a competição, afirmou, sem grandes detalhes, que a atleta não cumpria os critérios de elegibilidade (sem terem, no entanto, sido feitos testes de testosterona).

Testes esses que foram, agora, feitos pelo Comité Olímpico Internacional, antes da participação da pugilista nas olimpíadas de Paris. E, cumpridos os testes, é defendida a participação da atleta argelina.

A resposta do Comité Olímpico Internacional

Num comunicado emitido, esta quinta-feira, o Comité Olímpico Internacional começa por defender que “todas as pessoas têm o direito de praticar desporto sem discriminação”.

O comité sublinha que todas as atletas que participam na competição de boxe nos Jogos Olímpicos de Paris “cumprem as regras de elegibilidade” e fala em “desinformação” no que toca às pugilistas - além de Imane Khelif, da Argélia, também a taiwanesa Lin Yu-ting se encontra na mesma situação.

Referindo-se à decisão prévia de exclusão das duas atletas nos mundiais de boxe, o comité olímpico considera que se tratou de “uma decisão repentina e arbitrária” da Associação Internacional de Boxe, da qual as pugilistas em causa “foram vítimas”.

“O Comité Olímpico Internacional está comprometido em proteger os direitos humanos de todos os atletas participantes nos Jogos Olímpicos”, conclui o comunicado, onde é defendido que a elegibilidade tem que ser definida por “critérios científicos”.

Mais tarde, foi feita mesmo uma declaração à imprensa, onde o porta-voz do Comité Olímpico Internacional, Mark Adams, fez questão de deixar mais um esclarecimento.

“O teste da testosterona não é perfeito. Muitas mulheres podem ter testosterona a níveis que seriam considerados masculinos, e ainda assim serem mulheres”, explicou o porta-voz. “Penso que é muito importante dizer que não estamos a falar de alguém transgénero”, sublinhou.

O Comité Olímpico Internacional deixa, no entanto, um aviso às federações de boxe: é melhor chegarem a um consenso para uma nova Federação Internacional para a modalidade, que defina regras, ou o boxe pode não ser incluído nos Jogos Olímpicos de 2028, em Los Angeles.