Ao que tudo indica, a ideia de uma trégua na fronteira entre o Líbano e Israel terá tido uma vida curta. O gabinete de Benjamin Netanyahu quis pôr fim aos rumores, e afastou a proposta de cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah: “As notícias sobre um cessar-fogo não são verdadeiras. Esta é uma proposta franco-americana, à qual o primeiro-ministro nem sequer respondeu.”

O gabinete de Netanyahu lembra mesmo que “o primeiro-ministro instruiu as FDI (Forças de Defesa de Israel) para continuarem os combates em força”. Desde segunda-feira, mais de 600 pessoas foram mortas e milhares ficaram feridas no Líbano, durante a intensa campanha de bombardeamentos contra o Hezbollah.

O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, juntou-se ao primeiro-ministro ao afastar a possibilidade de Israel aceitar um cessar-fogo de 21 dias proposto pelos EUA e pela França entre Israel e o Hezbollah. Numa mensagem publicada nas redes sociais, Katz vaticinou: “Não haverá cessar-fogo no norte. Continuaremos a lutar contra a organização terrorista Hezbollah com todas as nossas forças até à vitória e ao regresso em segurança dos residentes do norte às suas casas.”

Cerca de 60 mil israelitas fugiram das suas casas no norte de Israel devido aos contínuos combates entre Israel, o Hezbollah e outras forças anti-israelitas sediadas no Líbano. No lado libanês da linha azul traçada pela ONU que separa os dois países, dezenas de milhares de libaneses também ficaram deslocados internamente.

Mas Israel Katz não foi o único governante a manifestar-se. O ministro das Finanças de extrema-direita de Israel, um dos parceiros de linha dura no Executivo, também rejeitou a ideia de um cessar-fogo. Bezalel Smotrich disse que “a campanha no norte deve terminar num cenário: esmagar o Hezbollah”.

Militares de Israel alegaram também que durante a noite atingiram “aproximadamente 75 alvos terroristas pertencentes à organização terrorista Hezbollah” em Beqaa e no sul do Líbano. As autoridades do Líbano informaram que pelo menos mais quatro pessoas morreram esta manhã, e que 23 sírios, a maioria mulheres e crianças, foram mortos na sequência de um ataque israelita em Younine, no Líbano, durante a noite.

A proposta dos EUA, UE e vários países árabes

Os EUA e a França apelaram a um cessar-fogo temporário para abrir caminho a negociações mais amplas. O comunicado conjunto emitido pelo Presidente dos EUA, Joe Biden, e pelo homólogo francês, Emmanuel Macron, refere: “É tempo de um acordo na fronteira Israel-Líbano que garanta segurança e proteção para permitir que os civis regressem às suas casas. A troca de disparos desde 7 de outubro, e em particular durante as últimas duas semanas, ameaça um conflito muito mais vasto e prejudica os civis.”

Os Estados Unidos, mas também a União Europeia e vários países árabes tinham pedido um "cessar-fogo imediato de 21 dias" no Líbano, onde o conflito entre Israel e o Hezbollah ameaça engolir a região.

"Apelamos para um cessar-fogo imediato de 21 dias na fronteira entre o Líbano e Israel para dar uma oportunidade à diplomacia" em relação à situação no Líbano e em Gaza, de acordo com uma declaração assinada por EUA, França, UE, Austrália, Canadá, Alemanha, Itália, Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Qatar, divulgada pela Casa Branca.

"É tempo de concluir um acordo diplomático que permita aos civis de ambos os lados da fronteira regressar a casa em segurança", acrescentou.

Numa declaração conjunta separada emitida após a reunião à margem da Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque, os Presidentes dos EUA e de França, Joe Biden e Emmanuel Macron, respetivamente, disseram que tinham "trabalhado juntos nos últimos dias" para chegar a este apelo conjunto para um cessar-fogo temporário, agora acompanhado por outros países.

"Apelamos para uma aprovação alargada e ao apoio imediato dos governos de Israel e do Líbano", afirmaram.

Um responsável norte-americano afirmou que este apelo internacional para um cessar-fogo no Líbano era um "avanço importante". Acrescentou esperar que permita também estimular as conversações sobre uma trégua e a libertação dos reféns na Faixa de Gaza.

Segundo a Sky News, que citava responsáveis do Governo norte-americano, o acordo iria ser implementado “nas próximas horas”. O cessar-fogo seria “ao longo da linha azul”, isto é, a linha que divide o Líbano de Israel e os Montes Golã.

“Isso dá algum tempo e espaço para tentar chegar a um acordo em Gaza", refere a fonte. “Acreditamos que, independentemente do que aconteceu no campo de batalha nos últimos dias, chegou agora o momento de alcançar essa resolução diplomática".

Por outro lado, o primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, manifestou a esperança de que um cessar-fogo possa ser alcançado em breve, adianta a agência Reuters.

Na quarta-feira à noite, Israel afirmou ter atingido "mais de 2000 alvos terroristas" do movimento xiita Hezbollah no Líbano nos últimos três dias, numa ofensiva que já causou dezenas de mortos e centenas de feridos.

De acordo a ONU, mais de 90.000 libaneses viram-se obrigados a abandonar as suas casas.

Há mais de 11 meses que as forças israelitas e o Hezbollah estão envolvidos num intenso fogo cruzado ao longo da fronteira entre o Líbano e Israel, nos piores confrontos desde a guerra de 2006.

As tensões na região do Médio Oriente aumentaram após o ataque de 07 de outubro de 2023 do movimento islamita palestiniano Hamas em território israelita, que fez 1.205 mortos, na maioria civis, e 251 reféns.

Em retaliação, o exército israelita iniciou uma guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza que já fez pelo menos 41.495 mortos e 96 mil feridos, além de mais de 10 mil desaparecidos, indicam os mais recentes números das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.